sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Caso “Green Celestial” deve render ainda mais


caso da empresa "Green Celestial" e os indígenas mudurukus promete render ainda mais. Depois da divulgação de um relato no blog da pesquisadora Telma Monteiro, reproduzido também aqui no blog, chega agora mais uma história de quem participou do evento. O documento foi encaminhado ao Padre Edilberto Sena, que disponibilizou o material para o blog com a condição de não ser divulgado a autoria do mesmo, razão pela qual fiz algumas supressões no texto (partes com reticências entre parênteses).

Aproveito também para publicar uma série de documentos sobre a nova onda do “capitalismo verde”, as chamadas compensações ambientais pelo mecanismo REDD+, que seguem em seqüência.

Segue o relato:
Olá! Boa noite Edilberto! Então padre, aqui tenho algumas das informações que acho que é preciso investigar melhor.

A princípio gostaria de abordar que estou enviando apenas as informações que observei de perto, não que eu tenha feito parte da reunião até porque foi uma coisa assim de surpresa para mim. (...) Quando fiquei sabendo de uma tal reunião sobre o crédito de carbono no interior da Câmara Municipal daquele município, com a presença de 2 irlandeses e 2 brasileiros.

A reunião realizou-se das 09: 00h até as 11:00h. Segundo os irlandeses, a reunião era para tratar da preservação e preocupação com o planeta (meio ambiente). Então a razão para estarem ali, era porque, junto aos indígenas Munduruku, os mesmos gostariam de fazer algo para que se possa preservar o que ainda resta na Amazônia, principalmente nas áreas indígenas, e para isso era preciso o crédito de carbono. Segundo eles não iria jamais prejudicar os Munduruku em nada e sim só melhorar suas condições de vidas.

Neste evento estava a maioria dos caciques Munduruku e suas esposas, que também tiveram a oportunidade de argumentar reforçando as decisões dos capitães. Uma destas esposas, muito brava, levantou-se e tomou a palavra dizendo: "Vocês pensam que irão nos enganar mais uma vez. Estão muito enganados conosco, pois toda as vezes é somente os caciques que falam, desta vez nós mulheres iremos também como eu estou falando para ajudar reforçar a palavra de nossos caciques. Porque os brancos estão acostumados nos enganar dizendo que tudo vai melhorar para os índios enquanto vocês só vem se beneficiar de tudo o que temos em nossas terras e vão embora e nós ficamos na pior e cada vez mais ruim para nossas vidas. Quem é que tem a certeza de que desta vez vocês estão falando a verdade? Quem garante que vocês não estão aqui nos enganando mais uma vez com tal proposta? E quem sabe não querem convencer nossos caciques concordar com vocês a assinar este contrato dizendo que é para preservar o meio ambiente e depois nos surpreender dizendo que não somos mais donos de nossas terras porque vocês compraram? Sabe, nós não precisamos de ninguém para proteger o meio ambiente porque o mesmo já é preservado por nós porque sabemos protegê-lo muito bem. Então ninguém vai assinar coisíssima nenhuma o contrato de vocês".

Vale ressaltar que esta primeira parte da referida reunião não participei diretamente de perto, pois, o local encontrava-se totalmente lotado, portanto, estas informações são apenas o que deu para ouvir. Quanto à segunda parte tive a oportunidade de participar diretamente.
Neste mesmo dia, ou seja, no dia 12/09/11, as 14:00h, os vereadores Mañuary Gersinho, Saw Aroldo, Izaias, Rãs, Valmar, Borõ Martinho, estiveram presente no restaurante Campo Verde para então assinar o tal contrato referente ao crédito de carbono. Acho que através de contato telefônico o Mañuary, o Saw e os demais, combinaram em se encontrar no tal local onde este, era onde estavam hospedados as 4 pessoas do referido contrato, Green Celestial.

Então este grupo de Mundurku, teve a ousadia de falar em particular  com os irlandeses e demais. Os índios estavam envergonhados e pediam desculpas em nome de seus caciques, pois, os mesmos não estavam entendendo do que se tratava o crédito de carbono, mas que, a partir dali, podiam sim assinar o tal contrato. Quem assinou este tal contrato foi é claro, o presidente da Associação Pussuru, Sr. Martinho, porém, dava para perceber que o mesmo não sabia por que estava assinando, mas mesmo assim, assinou e 4 ou mais pessoas assinaram o convênio, servindo de testemunhas, e assim, aconteceu.


Em minha opinião se isto caminha para o bem ou mal, eu não sei. Só sei dizer que estas pessoas que assinaram, estão com interesse em apenas colocar as mãos neste tal dinheiro, se caso vier a se cumprir conforme o contrato, somente para eles e entre eles, e mais para contar com a politicagem foi o que eu percebi, para se ter uma ideia eles não convidaram o Waru Sindomar e nem seu irmão e muito menos o Vice prefeito Krixí Roberto. (...).

O que não gostei foi porque se os Caciques/Capitãs realmente não estavam entendendo mesmo para que servia o crédito de carbono, ou se eles queriam ou não aceitar o tal contrato, era dever de todos ali então tentar lhes explicar, mesmo assim, respeitassem suas opiniões e deixassem que eles decidissem se queriam ou não estas pessoas em seus territórios. Por isso sabemos que os interessados nesta proposta passaram por cima da palavra dos líderes principais das aldeias e isso não gostei, foi o que me levou a pensar que aí tem um interesse muito grande por parte de quem se calou e pensou gananciosamente.

Para finalizar, os irlandeses e demais acompanhantes, disseram aos índios que assinaram o contrato, que poderiam fazer o que quisessem com o dinheiro, porque era muito e eles podem ter o que quiser até helicóptero, carro, e tudo mais só dependia deles saber manusear o dinheiro.

Gostaria que não publicasse nada em meu nome. Padre, temos muito que conversar, pois tem muitas coisas que eu gostaria de pessoalmente lhe falar, não pode ser por aqui.
Demorei muito para redigir este comentário, mas cumpri com o que prometi.
Boa noite!

Em tempo, no Plano Plurianual (2012-2015) enviado pelo governo Dilma Rousseff (PT) ao Congresso Nacional no final de agosto está previsto a criação de um “componente indígena” no âmbito da Política Nacional de Mudanças Climáticas (PNMC).
A proposta do governo federal é “promover uma maior participação indígena nas discussões e decisões relacionadas com a regulamentação do REDD+ e do pagamento por serviços ambientais”. A elaboração de metodologias e parâmetros técnicos para um sistema de pagamento de serviços ambientais, para comunidades indígenas e outras populações rurais, é previsto no programa Agricultura Familiar. A execução desse programa é de responsabilidade do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), informa o documento “Terras e territórios indígenas no PPA 2012-2015” elaborado pelo INESC
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