Grandes empresas exportadoras de madeira atuando no Pará são
suspeitas de usar créditos florestais para “esquentar” madeira ilegal
Foi deflagrada hoje (4 de dezembro) uma operação do Ministério Público
Federal, Polícia Federal, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Justiça
Federal que investiga um esquema de desmatamento ilegal e fraude em sistemas
florestais no qual estão envolvidas algumas das maiores empresas exportadoras
de madeira do Pará. A operação envolve buscas e apreensões em 41 endereços
ligados a cinco empresas no Pará, São Paulo e Curitiba. Duas pessoas tiveram
prisões preventivas decretadas, outras 16 ficarão em prisão temporária e 10
serão conduzidas coercitivamente para prestar esclarecimentos. Também houve
busca e apreensão na sede do Instituto de Terras do Pará (Iterpa), porque há
suspeita da participação de uma servidora nas fraudes.
A operação faz parte de uma investigação sobre esquema que faz a
chamada lavagem de madeira. Análises de dados dos sistemas florestais e escutas
telefônicas forneceram provas importantes para os investigadores. Nesse tipo de
esquema, a madeira retirada em desmatamentos ilegais na Amazônia entra nos
sistemas de controle da comercialização de produtos florestais por meio de
fraude em planos de manejo aprovados pelo poder público, geralmente em nome de
laranjas. Comprada por grandes empresas exportadoras, a madeira derrubada
ilegalmente é vendida com aparência de legalidade para compradores no exterior.
Cada plano de manejo aprovado pode comercializar quantidades
determinadas de madeira, os chamados créditos florestais. Nos planos usados
para esquentar madeira ilegal, os créditos são usados apenas para justificar a
compra e a venda de madeira ilegal. No caso da operação Tabebuia (referência ao
nome científico do ipê, tabebuia
serratifolia) o esquema começou a ser desvendado quando o Ibama identificou
uma grande concentração de ipê e maçaranduba, duas madeiras nobres, em
quantidade acima de 50% em um plano de manejo aprovado. A concentração
contraria os dados científicos sobre a dispersão dessas espécies na floresta
amazônica.
A partir dessa discrepância, descobriu-se que 81% da madeira
retirada do plano de manejo fraudulento tinha sido destinada à Jari Florestal
S.A, uma das maiores empresas exportadoras de madeira do país. No total, a
Jari, segundo os registros no sistema de controle, teria recebido dois
carregamentos de madeira somando quase 9 mil metros cúbicos de um plano de
manejo localizado há mais de 500 km de distância da sede da empresa. Para se
ter uma ideia, essa quantidade de madeira teria que ser transportada por uma
frota de mais de 220 caminhões.
Apesar do volume e da distância, a investigação mostrou que cada
carregamento demorou, entre a entrada no sistema de controle e o registro da
chegada, apenas dois dias para alcançar o destino. Como não há estrada entre
Juruti, onde fica o plano de manejo fraudulento, e Almeirim, sede da Jari
Florestal, a madeira teria que ter percorrido a distância em caminhões e depois
balsas, o que seria impossível em dois dias. Com o avanço das investigações, a
Polícia Federal descobriu que o mesmo tipo de operação com evidência de fraude
ocorreu envolvendo a Jari e outros planos de manejo.
Só de um dos planos de manejo, foram movimentados mais de R$ 28
milhões em madeira ilegal entre dezembro de 2014 e fevereiro de 2015, devido ao
alto valor comercial do ipê: um metro cúbico de madeira serrada pode alcançar o
preço de R$ 3 mil dólares no mercado internacional. O ipê é considerado uma das
madeiras mais resistentes, usada em deques e revestimentos para áreas externas
e ate parques públicos em grandes cidades dos Estados Unidos.
A Jari Florestal também comprou créditos para comercializar ipê de
outras sete empresas próximas da capital paraense, Belém. Em várias dessas
compras, o sistema registrou tempos curtos demais para a chegada da madeira,
sendo que distância entre Belém e Almeirim é de mais de 800 km. Em uma das
movimentações, a madeira enviada pela Pampa Exportações (outra empresa
investigada) atravessou o Pará em apenas 10 minutos.
Ao examinar os dados das transferências de madeira feitas para a
Jari Celulose, a PF encontrou a localização, através do IP (Internet Protocol)
dos computadores de onde foram feitos os registros nos sistemas florestais,
todos com a senha do suposto dono do plano de manejo, Jovino Vilhena. As
transações milionárias de madeira entre Almeirim e Juruti na verdade tinham
sido feitas de um computador em uma empresa de informática na periferia de
Belém.
Vilhena foi um dos
alvos da operação hoje. Ele atua
como despachante para várias empresas madeireiras e, segundo a investigação,
não tem recursos financeiros para ser proprietário de terras e titular de um
plano de manejo. Os mesmos IPs foram utilizados em várias outras operações
suspeitas envolvendo as cinco empresas investigadas na operação Tabebuia: Jari
Florestal, Pampa Exportações, KM Comércio e Exportação de Madeiras, Legno Trade
Comércio, Importação e Exportação de Madeira e Irmãos Alvarenga Indústria e
Comércio de Madeira. Todas são alvo de buscas e apreensões.
Fonte: Ministério Público Federal no Pará - Assessoria de Comunicação