sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Belo Monte: se você me manipular eu visto sua camisa!

Por Movimento Xingu Vivo para Sempre!

Altamira, 18 de setembro de 2009

Apesar da dignidade da pessoa ser um dos fundamentos da República Federativa do Brasil, o que observamos em diversas regiões é a total ausência de políticas públicas que garantam os serviços básicos de promoção da dignidade humana. Direitos sociais como a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, e tantos outros estão garantidos nas leis que regem o país, a começar pela Constituição Federal de 1988, porém até hoje estes direitos não são plenamente garantidos. Uma das consequências da carência desses serviços que é vivenciada diariamente pela população, fragiliza as pessoas e coloca a população à mercê da manipulação. Um exemplo disso pode ser observado na forma como o projeto de AHE Belo Monte vem sendo discutido com a população na região sudoeste do estado do Pará.

A região da Transamazônica e do Xingu é palco hoje de uma batalha travada pelos movimentos populares contra a implantação “goela abaixo” da monumental barragem de Belo Monte que se construída, será a terceira maior usina hidrelétrica do mundo, com uma potência instalada de mais de 11 mil megawatts mas que já nasceria ociosa pois produziria menos da metade disto em energia firme. Trata-se de uma hidrelétrica a fio d’água, onde a produção de energia varia conforme o nível de água do rio ao longo do ano, obedecendo as secas e cheias que no rio Xingu são bastante pronunciadas. Ou seja, durante pelo menos 3 meses por ano suas turbinas ficariam paradas!!!

Qualquer ser humano sensato admitiria a inviabilidade de tal barramento que custará, muito provavelmente aos cofres públicos pelo menos $ 30 bilhões de reais e trará para a região impactos sociais, ambientais e culturais irreversíveis! Mas os movimentos populares do Xingu não estão brigando somente contra esses números faraônicos e a ociosidade da usina hidrelétrica. A batalha se trava no palco da ausência de políticas públicas, contra as inúmeras promessas feitas pelo setor energético brasileiro e pelos políticos locais, representantes dos governos municipais e estadual que trarão enfim o tal esperado desenvolvimento para a região! Vão enfim pavimentar a rodovia Transamazônica depois de cerca de 40 anos de espera por parte da população! Hospitais, escolas e até cursos universitários de medicina e direito serão trazidos para a região! Os moradores das palafitas nos Igarapés de Altamira serão enfim reassentados em bairros com moradias de alvenaria, com saneamento básico, escolas, transporte, postos de saúde nas vizinhanças.

Apesar de garantir o apoio de parte da população através das muitas promessas, historicamente as empresas do setor energético têm uma dívida com os atingidos por barragem. São centenas de milhares de pessoas que perderam suas casas, suas terras, seus modos de vida e sua capacidade de reprodução social, que incham as periferias e favelas dos grandes centros urbanos do Brasil, contribuindo para o aumento da criminalidade, dos casos de violência sexual, e o aumento da pobreza, entre outros. Uma das perguntas importantes no processo é: Por que fariam diferente no caso da AHE Belo Monte? Além disso: Porque a população acredita tão facilmente em todas as promessas das grandes empreiteiras e dos políticos e elite associados a eles? Uma parte da resposta está na fragilidade em que estas pessoas se encontram. Quem não gostaria de ter seus filhos numa boa universidade, quem não gostaria de ter escolas boas, hospitais, ruas pavimentadas, emprego... Esse cenário ideal é prometido à população por todos que defendem o projeto, e a população carente de tudo, mas cheia de sonhos, apóia o projeto pensando que em troca verá seus sonhos realizados. Mal sabem eles que todas as promessas fazem parte do jogo manipulativo para que estes literalmente vistam a camisa de uma idéia que não foi deles, e que historicamente não trouxe as escolas, as ruas, os hospitais, as universidade e desta forma, não transformou em realidades os sonhos e nem garantiu o cumprimento da carta maior do Brasil, a constituição federal.

Como disse um produtor rural durante as audiências, queremos desenvolvimento sim e para nós, desenvolvimento significa estradas vicinais recuperadas, crédito e assistência técnica de qualidade. Desenvolvimento também significa moradias decentes, ensino de qualidade, atendimento digno quando nossos filhos adoecem, a pavimentação da Transamazônica, internet de qualidade, transporte mais barato. Se todas essas coisas são direitos do cidadão, por que precisamos matar o rio Xingu para garantirmos esses direitos?
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