sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Povos do rio Tapajós se articulam para barrar mega-hidrelétricas*

Entre os dias 03 e 10 de novembro dois encontros no Alto Tapajós buscaram sensibilizar lideranças indígenas, religiosos e população em geral para os impactos das cinco grandes hidrelétricas previstas para a bacia deste rio.

O primeiro encontro ocorreu na missão São Francisco no rio Cururu. Participaram 09 capitães, como os caciques das aldeias vizinhas são chamados, freiras, frades, professores indígenas e agentes de saúde e jovens indígenas totalizando cerca de 150 pessoas.

No dia 04 pela manhã, com o salão da igreja lotado de indígenas de várias idades, foi feita uma exposição de alguns minutos sobre o que significa o chamado Complexo Tapajós do governo federal, alertando para observarem atentamente um documentário-propaganda da Eletronorte com dez minutos de duração sobre o tal complexo. Tudo isso feito com tradução imediata à língua mundurucu, por dois intérpretes habilitados.

Após o filme, perceberam logo algumas mentiras e logo afirmaram que não aceitam de jeito nenhum que o governo destrua o belo rio Tapajós e seus afluentes, prejudicando suas vidas e de seus filhos. Com o diálogo aberto. Foi
as reações foram fortes.

Para completar o contraponto ao filme-propaganda, foram apresentadas mais informações aos presentes. Todos se perguntavam para que o governo quer construir mais hidrelétricas se já temos Tucuruí. Os presentes compreenderam que as hidrelétricas pensadas hoje na Amazônia não são para as populações amazônidas, mas para o crescimento econômico, o PAC de que tanto fala o Presidente da República. Debateu-se ainda a traição da FUNAI e do IBAMA.

Os ‘capitães’ exigiram que se escrevesse uma carta denúncia ao Presidente da República e demais autoridades dizendo que não aceitam em hipótese alguma que se destrua o rio Tapajós para fazer hidrelétricas. Aceita a proposta pelo plenário, foram escolhidos cinco jovens professores e agentes de saúde para redigirem um esboço da carta e no tempo seguinte o plenário analisaria e votaria. E assim foi feito, sendo subscrita por 156 pessoas.

A carta teve uma capa desenhada por um jovem Mundurucu em que dois índios estão de pé, um com uma borduna e outro com uma cabeça sangrando. Na carta eles explicam que assim faziam os antepassados deles com os inimigos de seu povo, matavam, cozinhavam a cabeça, comiam os miolos e penduravam a cabeça no portal da oca. Assim encerrou-se o primeiro encontro.

O segundo encontro se deu na cidade de Jacareacanga, onde participaram 60 pessoas da cidade, a maioria, indígenas mundurucus. Foi um encontro menor, mas não menos proveitoso. Lideranças indígenas e de pescadores se manifestaram contra o barramento do rio Tapajós.

Para 2010, está sendo articulado um grande encontro do movimento anti-barragem com os povos e população de Santarém, Aveiro, Itaituba e Jacareacanga.

*Escrito a patir do relato do Padre Edilberto Sena, que esteve nos dois encontros
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