quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

E a gente morre, na BR-163

Por Edilberto Sena*

Parodiando o cantor, - a gente morre na Br.163... Mas por que a rodovia Br 163 mata tanta gente e causa tantos acidentes? Quem alerta é a experiente Polícia Rodoviária Federal. O alerta é para que os motoristas dirijam com mais cuidado agora, por causa dos buracos. Mas por que esse alerta, se ainda anteontem o Departamento Nacional de Transportes, o DNIT anunciou que de Santarém a Rurópolis, dois terços da rodovia já estavam asfaltados e que outros trechos já estão em obras, um entre Miritituba e Campo Verde, no Km 30, outro, entre Campo Verde e Trairão e assim por diante, um aqui outro ali e nos grandes intervalos, a piçarra e os buracos.

Como é então que a Polícia Rodoviária avisa que a estrada pode causar acidentes? Só uma explicação justificável – é que esse trabalho é feito a conta gotas. A cada ano as máquinas operam em um pequeno trecho de 20, ou 30 quilômetros e logo acaba o recurso financeiro. Passado mais um ano surge novo asfaltamento lá adiante, em outro trecho, em geral próximo de aglomerados urbanos, quando o asfalto anterior começa a se deteriorar. O melhor exemplo disso é o trecho entre Santarém e Belterra, quantas vezes já foi remendado e reasfaltado?

As autoridades podem até se desculpar, alegando que a buraqueira seja porque chove muito na Amazônia. O que é verdade, mas não justifica a deteriorização tão rápida de uma rodovia que nem é tão utilizada como outras lá do sul do país. Portanto, pode ser por outras causas, como asfaltamento mal feito, falta de manutenção constante, mas certamente por falta de compromisso do DNIT, Ministério dos Transportes e governo federal, pela rodovia que já teve inúmeras promessas de total asfaltamento.

Em qualquer dessas hipóteses, uma certeza, é que os moradores que vivem ao longo e vizinhos da rodovia Br. 163 não são levados em conta pelos vários governos centrais. Para eles o que conta é o crescimento econômico, o PAC, que em governos anteriores recebia outro nome, com o mesmo objetivo. E para o PAC, seguramente, o asfaltamento da rodovia não é ainda prioridade, por isso, segue a passos de jaboti. O chefe do DNIT vem, dá uma volta pela sofrida estrada, aponta os trabalhos sendo realizados aqui e mais ali e garante que a rodovia será sim totalmente asfaltada.

Mas todos já sabem que o atual governo termina dentro de mais 10 meses. Poderá ou não ter prosseguimento o asfaltamento a conta gotas. Nessa viagem, em carro com tração nas 4 rodas e ar condicionado, ele tenta impressionar os moradores de Morais Almeida, Novo Progresso, Trairão, Campo Verde, Rurópolis e demais aglomerados urbanos por onde passa. Provavelmente os colonos olham a comitiva e xingam algum impropério, ou expressam olhar frio de quem já sabe que de tempos em tempos passa uma figura de governo para tentar impressionar, mas a rodovia continua fonte de sofrimentos e muitos acidentes ou até outros morrem na Br. 163, como expressa o cantor. É que a Br. 163 está no centro da Amazônia, que continua sendo colônia, não mais só de portugueses, mas de transnacionais e exploradores do sul do país.


*Padre diocesano e Coordenador da Rádio Rural AM de Santarém. Editorial 10.02.2010
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