sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Rio Madeira: Consórcio confirma parada total de 17 turbinas de Santo Antônio

Usina hidrelétrica Santo Antônio em Porto Velho (Foto: Cley Medeiros)
Katia Brasil*

Depois de uma semana em silêncio sobre as operações da hidrelétrica Santo Antônio, em Porto Velho (RO), o consórcio Santo Antônio Energia, formado pelas empresas Odebrecht e Furnas, confirmou nesta quinta-feira (27) que todas as 17 turbinas em operação estão desativadas e sem produzir energia elétrica desde a semana passada por medida de segurança, como adiantou o portal Amazônia Real.

O consórcio Santo Antônio Energia disse que os motivos das paralisações das turbinas são o elevado nível do rio Madeira, que está acima de 18,60 metros, nunca antes registrado em 47 anos de monitoramento em Porto Velho, e os impactos técnicos causados a usina de Jirau, que fica a 200 quilômetros de distância da hidrelétrica Santo Antônio, na fronteira com a Bolívia, de onde partem as águas do rio Beni, que deságua no Madeira.
Segundo a Defesa Civil do Porto Velho, a abertura das comportas das usinas hidrelétricas Santo Antônio e Jirau tem forçado as inundações em bairros e comunidades localizados nas margens do rio Madeira, que sofre grande erosão (desbarrancamentos) e banzeiros (ondas) devido a força das águas liberadas pelas represas. As duas empresas que operam as usinas negam a influência das obras sobre a cheia.
17 turbinas paradas
Conforme informações da assessoria de imprensa do consórcio Santo Antônio Energia ao Amazônia Real, na semana passada foram desativadas as 17 turbinas que estavam em operação em Santo Antônio por consequência da cheia histórica do rio Madeira. As outras três turbinas ainda não entraram em operação.

Segundo a assessoria, as turbinas em atividades geravam uma média de 1.212 MW de energia instalada para distribuição às estações de Araraquara, na região central do Estado de São Paulo, e de Porto Velho. A empresa disse não haverá falta de energia, pois a demanda dessas regiões será compensa pelas usinas do Sistema Interligado Nacional.
De acordo com a nota, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) determinou o rebaixamento do reservatório da hidrelétrica de Santo Antônio para evitar que as estruturas provisórias da usina de Jirau, como as ensecadeiras, fossem afetadas, já que não foram dimensionadas para uma cheia histórica do rio Madeira. “No caso da hidrelétrica Santo Antônio, todas as estruturas são definitivas e não representam nenhum risco devido ao estágio avançado das obras”, diz a empresa.
O consórcio Santo Antônio Energia não informou se o nível do reservatório da usina estava em 71,3 metros e foi rebaixada para 68 metros, como disse o engenheiro Francisco Barbosa ao site. Ou se o reservatório de Santo Antônio chegou a operar com o nível de 75 metros, como denunciou no dia 11 de fevereiro o consórcio Energia Sustentável do Brasil (ESBR), o que contraria normas da Agência Nacional das Águas e determinação da Justiça Federal. Com quatro turbinas, Jirau opera normalmente.
A empresa Santo Antônio reafirmou, conforme a nota, que sempre operou no nível de 70,5 metros, atendendo plenamente a legislação e explicou as consequências do rebaixamento do reservatório.
“Com este rebaixamento, falta a queda mínima (14 metros) na barragem para permitir o funcionamento das turbinas da hidrelétrica Santo Antônio. Na prática, é necessário que haja uma diferença mínima entre o nível do rio acima (a montante) da barragem e abaixo dela (a jusante) – o que não ocorre, neste momento, em função do citado rebaixamento do reservatório”, diz a empresa.
Comportas
A empresa Santo Antônio negou que as comportas foram fechadas na semana passada, como afirmou ao site o engenheiro Francisco Barbosa, do Serviço Geológico do Brasil (CPRM). Conforme o consórcio, as 18 comportas da hidrelétrica Santo Antônio estão abertas, o que permite a regulagem da vazão.
Na área da usina de Santo Antônio a vazão do rio Madeira é recorde, uma média de 53.200 m3/s (metros cúbicos por segundo). Segundo o Serviço Geológico do Brasil (sigla para CPRM), a vazão normal no período de cheia do Madeira é de 48.000 m3/s. O consórcio Santo Antônio disse que os vertedouros (estruturas de concreto que  escoam o excesso de água da barragem nos períodos de cheia) têm capacidade para verter quase duas vezes a atual vazão do rio Madeira. A usina opera no modelo “a fio d’água” (a água que entra sai) sem acumular um grande estoque no reservatório.
Conforme informações no site da hidrelétrica de Santo Antônio, a usina representa um investimento de R$ 16 bilhões. Em 2015, quando estiver concluída, a usina terá capacidade para gerar 3.150 MW, energia suficiente para abastecer mais de 40 milhões de pessoas ou 11 milhões de residências em todo o Brasil.
A reportagem procurou o ONS, órgão responsável pela coordenação e controle da operação das instalações de geração e transmissão de energia elétrica no Sistema Interligado Nacional (SIN), sob a fiscalização e regulação da Agência Nacional de Energia Elétrica, mas o operador informou que apenas o consórcio poderia comentar sobre a paralisação das turbinas de Santo Antônio.
O Ibama, a Agência Nacional das Águas e o Ministério Público Federal, em Porto Velho, foram procurados pelo Amazônia Real, mas não comentaram sobre a situação das usinas.
Nailor Gato, presidente do Sindicato dos Urbanitários de Rondônia, disse que a categoria tem 1 mil operários trabalhando nas usinas, sendo que a metade em Santo Antônio e o restante em Jirau. Segundo ele, os operários continuam trabalhando, mesmo com a desativação das turbinas pela Santo Antônio Energia. “As 17 turbinas estão paradas desde o dia 18 de fevereiro. Os trabalhando estão trabalhando normalmente, pois a obra continua”, afirmou.
*Fonte: Amazônia Realm

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