Carta política do
seminário Regional sobre Direitos Humanos e Defesa dos Territórios aponta a
urgente efetivação do Programa de Defensores de Direitos Humanos no estado,
diante do contexto de intensa criminalização dos movimentos sociais e ameaça a
comunidades e lideranças.
As mais de 100
pessoas, entre comunidades, movimentos sociais e organizações de
assessoria, reunidas no seminário Regional sobre Direitos Humanos e Defesa
dos Territórios, nos dias 18 e 19 de julho, em Santarém/PA, concluíram a
urgência da aplicação do direito à Consulta Prévia, Livre e Informada, previsto
na Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho – OIT, ratificada
pelo estado brasileiro em 2002.
A carta política do
encontro também frisa a necessidade de fortalecer e reorganizar o efetivo
funcionamento do Programa de Defensores de Direitos Humanos no Estado do Pará,
que atualmente é conduzido à distância por equipe ligada ao Programa Federal de
Defensores da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República – SDH.
O programa do Pará foi um dos primeiros a ser executado no país, mas está
paralisado desde 2012.
Esta fragilidade no
desempenho do programa ocorre em um cenário de intensa criminalização dos
movimentos sociais e inúmeras ameaças que rondam a vida de muitos líderes no
Pará, estado com maior número de pessoas ameaçadas em situações de conflitos no
campo: 46 defensores, lideranças comunitárias, vivem sob ameaça, segundo o
Relatório de Conflitos no Campo da Comissão Pastoral da Terra – CPT de 2013.
Fonte e fotografia: Terra de Direitos
Confira a carta política do seminário:
Carta do Seminário Regional sobre
Direitos Humanos e Defesa dos Territórios
Aos dias 18 e 19 de julho de 2014, na
sede do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Santarém, nós,
trabalhadores e trabalhadoras rurais, lideranças indígenas, quilombolas,
extrativistas e comunidades tradicionais, juntamente com organizações de
assessoria popular, nos reunimos para discutir o modelo de desenvolvimento que
vem sendo implementado na região Oeste do Pará, tendo mineradoras,
hidrelétricas, madeireiras, sojeiros e construtoras como as principais
violadoras de direitos humanos nos nossos territórios.
Nossos territórios vêm sendo palco da
acelerada implantação de empreendimentos de mineração, hidrelétricas, portos e
da avançada expansão do agronegócio, com forte apoio do estado brasileiro e dos
governos estadual e locais, que executam um modelo de desenvolvimento baseado
no esgotamento dos recursos naturais, violação dos direitos territoriais e
falsas promessas de emprego e melhorias na infraestrutura. Esta ofensiva também
se materializa na perseguição às lideranças com ameaças de morte, violência,
prisões ilegais e processos judiciais que criminalizam a luta.
O direito à consulta prévia, apesar
de previsto na Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho – OIT,
ratificada no ano de 2002, e ser auto-aplicável, é desrespeitado pelo Estado
brasileiro e pelas empresas. Na região do Tapajós e Baixo Amazonas, destacamos
os seguintes empreendimentos, que atualmente estão sendo instalados sem a
realização de qualquer consulta:
O Complexo de Hidrelétricas do Tapajós, previsto no Plano
Decenal de Expansão de Energia – PDE 2013-2022, tendo o grupo de empresas
interessadas já avançado nos estudos, com a realização da Avaliação Ambiental
Integrada e em processo de licenciamento.
Na mesma localidade, foram construídos portos na
região de Miritituba para o escoamento de grãos
transportados pela BR-163, servindo a grandes empresas como Bunge e Cargill, e
ainda estão previstos mais outros 13 portos seguindo as margens do Rio Tapajós.
Em Santarém, a Prefeitura do Município está intermediando os investimentos de empresas (Embraps, CEVITAl e outras) para a construção de portos na grande área do Maicá, composta por 9 bairros. Esses bairros foram formados pelo deslocamento recente de ribeirinhos e quilombolas para as periferias da cidade, onde ainda reproduzem suas práticas tradicionais, em especial a pesca, a ser diretamente prejudicada por esse empreendimento.
Já em litígio judicial, a atividade de mineração da
Alcoa nos assentamentos de Santarém, como o Projeto de Assentamento
Extrativista (PAE) Lago Grande, representa a violação ao direito à consulta
prévia, livre e informada, como nos demais casos.
Exigimos a imediata implantação de
mecanismos de consulta prévia para esses e outros empreendimentos previstos
para nossa região. Sobre o processo de regulamentação conduzido pelo Governo
Federal, entendemos que o direito à consulta prévia é de todos os povos
indígenas, quilombolas e comunidades tradicionaise que abrange todos os tipos
de impacto, sejam aqueles causados por medidas governamentais, do poder
legislativo, do poder judiciário e das empresas.
Para além da regulamentação da
Consulta Prévia, é urgente a criação de mecanismos que prevejam a reparação dos
passivos sociais e ambientais dos empreendimentos que já existem.
E que o Estado cumpra sua obrigação
na defesa da cultura e dos direitos dos povos e comunidades tradicionais,
garantindo celeridade nos processos administrativos de reconhecimento dos
territórios. Que assim, as Terras Indígenas do Pará sejam demarcadas, também os
Territórios Quilombolas sejam titulados, e que as áreas do entorno do Parque
Nacional da Amazônia sejam regularizadas em prol dos agricultores familiares.
Os protestos que questionam a
implantação dos grandes empreendimentos e os impactos socioambientais do
agronegócio, principalmente da exploração madeireira, vêm sendo fortemente
criminalizados, com o ajuizamento de ações penais contra lideranças, utilizadas
como estratégia de calar, ameaçar e deslegitimar a atuação das organizações
sociais, seja por meio do indevido enquadramento em crimes, ou pela divulgação
dessas ações em grande canais de comunicação. Por outro lado, crimes como a
retirada ilegal de madeira e a apropriação ilegal de terras continuam impunes
com grave omissão dos órgãos públicos.
Além disso, denunciamos casos graves
de ameaças e violência contra lideranças das comunidades. Causam preocupação
especial, nesse momento, os casos de Ladilson Amaral, liderança do PAE Eixo
Forte em Santarém, cuja organização denunciou a comercialização dos lotes de
assentamento por imobiliárias, e de Osvalinda Pereira, liderança da Associação
de Mulheres do PA Areia II, em Trairão, que organiza atividades produtivas
agroecológicas em seu assentamento e vem sendo ameaçada por madeireiros que
atuam na exploração ilegal de madeira na área.
Nesse contexto, exigimos a
investigação das ameaças pela Polícia e pelo Ministério Público e também o
fortalecimento, reorganização e efetivo funcionamento do Programa de Defensores
de Direitos Humanos no Estado do Pará, que atualmente é conduzido à distância
por equipe ligada ao Programa Federal de Defensores da Secretaria de Direitos
Humanos da Presidência da República – SDH, criando diversas dificuldades no
atendimento das necessidades dos defensores.
Reforçamos a necessidade de que o
Programa colabore e promova, quando necessário, a articulação dos órgãos
responsáveis pelas políticas públicas reivindicadas pelos defensores e suas comunidades.
Por fim, decidimos buscar a
integração das nossas lutas para fortalecer a resistência nos territórios,
denunciar conjuntamente as violações de direitos humanos, e estabelecer
estratégias conjuntas de ação.
Santarém/PA, 19 de julho de 2014
Sindicato dos Trabalhadores e
Trabalhadoras Rurais de Santarém
Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB
Federação das organizações Quilombolas de Santarém – FOQS
Conselho Indígena Tapajós Arapiuns – CITA
Terra de Direitos
Comissão Pastoral da Terra – BR 163
Comissão Pastoral da Terra – Santarém
FASE AMAZONIA
Coordenação Nacional das Comunidades Quilombolas – CONAQ
MALUNGU
FEAGLE
Associação das Comunidades Montanha Mangabal
ASSOC. ACPMP
Associação Comunitária Baixão Bonito
AICOTTACC
Associação dos Pequenos e Médios Agricultores da Comunidade Cocalino
Associação de Moradores do Km30
Associação Rádio Comunitária Campo Verde
Associação de Moradores Arco-Iris
Associação das Mulheres do PA Areia II
FAMCEEF
GUATAMURU – Resex Renascer
JUPIC
Pastoral da Juventude – Prelazia de Itaituba
Pastoral Social – Diocese de Óbidos
TAPAJOARA
Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Itaituba
Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Trairão
SINTEPP Rurópolis
Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB
Federação das organizações Quilombolas de Santarém – FOQS
Conselho Indígena Tapajós Arapiuns – CITA
Terra de Direitos
Comissão Pastoral da Terra – BR 163
Comissão Pastoral da Terra – Santarém
FASE AMAZONIA
Coordenação Nacional das Comunidades Quilombolas – CONAQ
MALUNGU
FEAGLE
Associação das Comunidades Montanha Mangabal
ASSOC. ACPMP
Associação Comunitária Baixão Bonito
AICOTTACC
Associação dos Pequenos e Médios Agricultores da Comunidade Cocalino
Associação de Moradores do Km30
Associação Rádio Comunitária Campo Verde
Associação de Moradores Arco-Iris
Associação das Mulheres do PA Areia II
FAMCEEF
GUATAMURU – Resex Renascer
JUPIC
Pastoral da Juventude – Prelazia de Itaituba
Pastoral Social – Diocese de Óbidos
TAPAJOARA
Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Itaituba
Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Trairão
SINTEPP Rurópolis