Agricultores e lideranças do Acampamento São
Cristóvão, situado na Gleba Garça, nas proximidades de Porto Velho, denunciaram
na Comissão Nacional de Conflitos Agrários as mortes suspeitas em poucas
semanas de dois membros do acampamento e um terceiro deles atingido por arma de
fogo, que se encontra internado no Hospital João Paulo II de Porto Velho.
As declarações aconteceram na Audiência Pública
acontecida ontem pela manhã, dia 22 de Julho de 2014, no Incra de Rondônia,
presidida pelo desembargador Gercino José da Silva Filho. Segundo os acampados,
as três vítimas dos fatos são membros do mesmo acampamento e sofreram os
atentados com poucos dias de diferença.
Eles suspeitam que as mortes dos dois primeiros e o
atentado sofrido por um segundo sejam obra do mesmo grupo de pessoas, com
objetivo de aterrorizar as famílias acampadas.
Os dois mortos foram jogados no Rio das Garças.
Segundo informações do G1, no último dia 9, nas
proximidades do balneário Rio das Garças, a polícia encontrou o corpo de um
homem de 27 anos, com várias perfurações de faca. Segundo familiares da vítima,
Rodrigo Pereira de Freitas estava trabalhando em um sítio próximo a uma
chácara, na Linha 22, quando os amigos sentiram a falta do rapaz e iniciaram as
buscas. A polícia está à procura do suspeitos do crime.
O corpo da segunda vítima do segundo homicídio foi
achado por um pescador na tarde de quinta-feira (17/7/14)), boiando às margens
do Rio das Garças, na Linha 32 da BR-364, sentido Acre, de acordo com o boletim
de ocorrências. O local fica distante cerca de 40 quilômetros da capital.
Próximo ao corpo, não haviam documentos que pudessem identificar a vítima, ou
qualquer outro objeto. O mesmo foi identificado posteriormente também como
membro do acampamento.
Ainda segundo o relato na Ouvidoria Agrária, um
terceiro integrante do acampamento está internado com feridas de bala no
Hospital João Paulo II de Porto Velho.
Local reivindicado para reforma agrária
Segundo os posseiros, no Acampamento São Cristóvão
150 famílias ocupam a área da Fazenda Alexandria há alguns anos. Diversas
famílias seriam de desempregados das obras das Usinas do Madeira. A ocupação
inciou em janeiro de 2013.
Inicialmente os acampados tinham recebido
informações de que a área ocupada era terra pública, porém posteriormente o
INCRA declarou que os lotes pretendidos para reforma agrária tinham sido
anexados muitos anos atrás à uma fazenda que possui título definitivo da área.
Atualmente o local é propriedade do ex-delegado e conhecido pecuarista João do
Vale, estando a fazenda penhorada pela Justiça do Trabalho.
Os agricultores demandam do INCRA se manifestar com
interesse pelo local para assentar as famílias residentes no local e negociar com
a União para a área em penhora ser destinada a reforma agrária. Pedindo a
suspensão do leilão que poderia acontecer por mandato da Justiça do Trabalho em
breve.
Ameaças a lideranças
Atuação de pistoleiros tinha sido flagrada no mesmo local. |
Diversas famílias do local já sofreram
reintegrações de posse em áreas próximas. Em Julho de 2011 depois de reunião
tensa no INCRA, uma liderança de posseiros acampados no Rio das Garças, o
presidente da associação dos pequenos agricultores, Natalino Alexandro dos
Santos e a família dele foram ameaçados para sair do local.
Natalino é o presidente da Associação de Produtores
Rurais Porto Velho Progresso, da Linha 27 da Gleba Rio das Garças, município de
Porto Velho, numa área da união disputada com diversos grileiros de terras, e
já tinha denunciado ameaças no início do mês de junho.
Fonte: CPT – Comissão Pastoral da Terra