Conselho
Nacional de Direitos Humanos, órgão ligado à Secretaria de Direitos Humanos da
Presidência da República, recomendou ao Ibama que exija cumprimento integral
Em
reunião no último dia 20 de agosto, o Conselho Nacional de Direitos Humanos,
órgão colegiado ligado à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da
República, aprovou por unanimidade resolução que recomenda ao Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente a exigência de cumprimento efetivo e integral das
condicionantes como requisito à emissão da Licença de Operação da usina
hidrelétrica de Belo Monte. A Norte Energia SA, responsável pela obra,
solicitou a licença, que permitirá o enchimento do reservatório da usina, em
fevereiro de 2015. A manifestação do Ibama sobre o pedido é esperada para as próximas
semanas.
Na
prática, a recomendação do Conselho pode adiar a emissão da licença, já que em
missão a Altamira no mês de junho passado, vários conselheiros constataram
pessoalmente violações graves de direitos humanos e condicionantes muito longe
de serem cumpridas. A recomendação feita ao Ibama acompanha o relatório sobre
essa missão, que tem ainda recomendações sobre várias denúncias coletadas pelo
CNDH. O Ministério Público Federal, que fiscaliza o empreendimento do governo
no Xingu desde 2006 e já ajuizou 23 ações judiciais apontando irregularidades
na obra, tem assento no CNDH através do Procurador Federal dos Direitos do
Cidadão, Aurélio Rios. Ele também esteve em Altamira constatando as violações.
A
conclusão do relatório é taxativa: “a documentação
recebida, os relatos colhidos, as visitas realizadas, em que pese as
informações prestadas pelos representantes da Nesa e do Poder Executivo Federal
indicam a existência de várias violações de direitos humanos no processo de
planejamento e implantação da UHE Belo Monte.”
A
resolução pede a investigação efetiva das denúncias de desvio da madeira
retirada na área dos canteiros de obra, a eliminação de todas as práticas e
métodos de pressão e ameaça sobre os atingidos, a reavaliação dos critérios e a
revisão de indenizações pagas às pessoas que não tiveram assistência jurídica,
a concessão de moradias para as famílias que não foram contempladas, o
reconhecimento de oleiros, garimpeiros, carroceiros, pescadores e outras
categorias como atingidos pela usina, a compra de áreas para reassentamento
coletivo de famílias que viviam em comunidade, entre outras (íntegra das
recomendações aqui).
Durante a
missão em Altamira, os conselheiros da CNDH Paulo Maldos, Darci Frigo e Maria
Dirlene Trindade acompanharam inspeção promovida pelo MPF nas áreas de onde
estavam sendo removidos ribeirinhos e pescadores, onde vai ficar o lago da
usina de Belo Monte. Logo depois da inspeção, em junho, a Secretaria-Geral da
Presidência da República, alarmada com as violações contra os direitos dessa
população recomendou à Norte Energia que paralisasse as remoções. Em julho, o
Ibama ordenou a paralisação. As remoções estão proibidas de continuar até que
se chegue a um acordo sobre o reassentamento de ribeirinhos e pescadores, o que
também é um obstáculo para o enchimento do reservatório da usina.
“O representante do Ibama afirmou (à
missão) que, do que se
observou em campo, é possível concluir claramente que a Nesa não vem cumprindo
as premissas do PBA (Plano Básico Ambiental). Que a constatação é
nítida, sendo inclusive possível afirmar e que não há um processo de negociação
justo. No que se refere à possibilidade de recomposição das condições de vida,
nenhuma das propostas apresentadas permitiu ao atingido que ele visualizasse
uma perspectiva de um modo de vida
futura.”, diz o relatório aprovado pelo CNDH.
“Outra
situação bastante grave foi a questão da ruptura dos laços de família e de
vizinhança. As negociações estão se dando no plano individual e de forma tão
desigual que se pode afirmar que não se trata de verdadeira negociação. É o
caso de vários atingidos visitados. Pais octogenários indo morar no Ramal dos
Cocos, os filhos em Altamira e a irmã no Travessão dos Araras, restando
completamente desagregada a família. Fica muito difícil escutar os depoimentos
e não se aperceber do que está acontecendo na região”, prossegue.
As
recomendações do CNDH sobre Belo Monte serão enviadas à Presidência da
República e ao Ibama.
Veja aqui a íntegra do relatório
Fonte: Secretaria de Comunicação Social/Procuradoria-Geral da República