Por Verena Glass e Larissa Saud*
Fotografia: Maurício Torres |
Em reunião com indígenas e autoridades
do município de Jacareacanga nesta quarta, 21 de maio, o procurador do
Ministério Público Federal em Santarém, Luis de Camões Lima Boaventura, afirmou
que a prefeitura da cidade será instada a recontratar 70 professores Munduruku
demitidos em fevereiro com “argumentos inconsistentes”. Desde o início de maio,
os indígenas tem promovido uma série de mobilizações em Jacareacanga, sudoeste
do Pará, para reverter as demissões, que consideram políticas uma vez que
grande parte dos professores tem se manifestado contra a construção de
hidrelétricas no rio Tapajós.
De acordo com o procurador, ainda não
houve um acordo pela recontratação em função da ausência da Secretaria
Municipal de Educação Cultura e Deporto de Jacareacanga na reunião. “O que ficou
acordado com os indígenas é que, na próxima semana, o MPF fará uma recomendação
pela recontratação imediata de todos os professores sob pena de uma ação
judicial contra a prefeitura”.
Além das irregularidades na demissão,
Camões atenta também para a sobrecarga em que os poucos professores que não
foram demitidos se encontram: “A situação do ensino está insustentável, é uma
sobrecarga impossível de trabalho para os que permanecem depois da onda de
demissões”.
Segundo o procurador, no próximo dia
28 ele também se reunirá com o Ministério da Educação em Brasília para
complementar as discussões ocorridas em Itaituba. “O MEC também pode reforçar a
demanda pela recontratação, isso já ocorreu em outros municípios”. O procurador
explica que, logo após as demissões, o MPF enviou um ofício à prefeitura de
Jacareacanga demandando explicações sobre as demissões, mas as respostas foram
vagas e inconsistentes. “Na recomendação que será enviada aos órgãos
competentes em Jacareacanga daremos um prazo de 20 dias para recontratação de
todos os demitidos”, afirma o procurador.
Os professores demitidos comemoraram o
parecer do procurador. “A gente falava para o governo do município que essa
demissão era ilegal, mas eles não acreditavam. Dessa vez foi o procurador que
falou. Eles vão ter que recontratar os professores. Nós vamos vencer essa luta,
que também significa garantir o futuro das nossas crianças, que já estão tanto
tempo sem aula”, afirma um dos professores demitidos.
Três meses de reivindicação. Clima de tensão só aumenta
Os Munduruku estão desde o início de fevereiro reivindicando o retorno dos professores às atividades nas aldeias. Após denunciarem a situação ao Ministério Público Federal, Ministério Público do Trabalho, Fundação Nacional do Índio e Ministério da Educação, em fevereiro, em março os Munduruku trancaram e declararam suspensão das atividades na Secretaria de Educação Cultura e Deporto de Jacareacanga. Após dois dias a secretaria foi reaberta sem a readmissão dos professores.
Os Munduruku estão desde o início de fevereiro reivindicando o retorno dos professores às atividades nas aldeias. Após denunciarem a situação ao Ministério Público Federal, Ministério Público do Trabalho, Fundação Nacional do Índio e Ministério da Educação, em fevereiro, em março os Munduruku trancaram e declararam suspensão das atividades na Secretaria de Educação Cultura e Deporto de Jacareacanga. Após dois dias a secretaria foi reaberta sem a readmissão dos professores.
No início deste mês, após quase três
meses da demissão, os indígenas fizeram várias manifestações em frente a
Secretaria de Educação de Jacareacanga. Devido às manifestações, em uma ação
anti-indígena, integrantes do poder público local, junto com garimpeiros e
comerciantes atacaram cerca de 20 indígenas com paus, pedras e rojões, alegando
que os Munduruku teriam ateado fogo na casa de apoio aos professores. O ataque
fez com que o MPF intervisse pedindo atenção da Polícia Federal e Polícia
Militar sobre a situação da cidade.
Os indígenas pedem rapidez na apuração
das investigações e reafirmam suas reivindicações: “Não tem motivo nenhum para
colocar fogo na casa dos professores. Não estamos contra a população de
Jacareacanga. Queremos justiça e queremos nossos direitos. Queremos a volta dos
professores às escolas”, afirma um guerreiro Munduruku.
Fonte: Xingu Vivo