Por Renato Santana*
Cerca de 500
garimpeiros, comerciantes e membros do Poder Público de Jacareacanga (PA)
atacaram 20 munduruku na manhã desta terça, 13, durante ação contra a presença
dos indígenas no município. Dois munduruku acabaram feridos nas pernas depois
de atingidos por rojões lançados pelos manifestantes anti-indígenas. Os
munduruku temem por novos ataques nas próximas horas e a Polícia Federal foi
acionada.
“Não podemos nem levar os
dois feridos ao hospital porque tem ódio contra a gente por todos os lados.
Manifestantes diziam que índios não têm direitos aqui em Jacareacanga”, afirmou
uma indígena munduruku, presente durante o ataque, que aqui não é identificada
por motivos de segurança. Os feridos são: Rosalvo Kaba Munduruku e Francineide
Koru Munduruku. A Polícia Militar estava durante o ataque, porém ficou na
retaguarda dos manifestantes que atacavam os indígenas e nada fez.
O ataque contra os indígenas
não é aleatório, mas orquestrado e programado. No final da tarde desta segunda,
12, cerca de 200 indígenas munduruku desocuparam a prefeitura de Jacareacanga
(leia aqui).
Conseguiram um acordo com o Poder Público. Durante uma semana, os munduruku
reivindicaram o retorno às aulas de 70 professores indígenas, que este ano não
tiveram o contrato renovado pelo município.
Os indígenas então começaram
a retornar para as aldeias, dispersas pelo rio Tapajós e seus afluentes. Na
manhã de hoje, durante o ataque, um grupo de 20 munduruku tomava café na frente
da casa de uma indígena, se preparando para a viagem de volta, quando foi
surpreendido pela horda enfurecida.
Crianças e mulheres não
foram poupadas. “Chegaram atacando mesmo, xingando a gente. Só foi o tempo de
deitar no chão e correr para dentro da casa. Eu estava com meu bebê no colo e
tive que me jogar para não ser acertada pela bomba (rojão)”, afirma a indígena munduruku.
Articuladores da violência
Entre os manifestantes
anti-indígenas, os munduruku identificaram o secretário de Assuntos Indígenas
de Jacareacanga Ivânio Alencar como o principal insuflador e líder da horda.
Conforme indígenas ouvidos, Alencar gritava que os munduruku queriam tirar o
direito dos moradores do município.
“Desde que começamos a
manifestação pela volta dos professores ele (Ivânio) está contra a gente. Só
fala mal dos munduruku, coloca o povo da cidade contra a gente. Nossa
reivindicação não era contra a cidade ou as pessoas que moram nela. Nunca
quisemos isso”, declara a indígena.
Integrantes da extinta
Associação Pusuru, fechada pelo próprio povo Munduruku durante assembleia no
final do ano passado, estavam entre os manifestantes que atacaram os indígenas.
Conforme lideranças, estes indígenas estão atrelados ao Poder Público de
Jacareacanga e comumente defendem propostas que não atendem aos anseios do povo
Munduruku, caso de grandes empreendimentos no Tapajós.
O vice-prefeito Roberto
Crispim também estava na manifestação, que contou ainda com garimpeiros
expulsos da Terra Indígena Munduruku pelos próprios indígenas, durante ação de
fiscalização e proteção do território, em janeiro deste ano. Os garimpeiros, desde
então, passaram a ameaçar os indígenas e a participar de ações anti-indígenas,
caso da manifestação desta manhã.
*Fonte: Cimi