O Ministério Público Federal (MPF) entrou com uma ação civil pública na Justiça Federal de Itaituba contra a Fundação Nacional do Índio (Funai) e a União Federal pela demora na demarcação da terra indígena Sawré Muybu, de ocupação tradicional do povo indígena Munduruku, localizada nos municípios de Trairão e Itaituba/PA, no médio curso do rio Tapajós. O procedimento de demarcação se arrasta há 13 anos e foi paralisado inexplicavelmente ano passado quando quase todos os trâmites administrativos já estavam concluídos.
De acordo com o procurador da República Camões Boaventura, que
entrou com a ação na Justiça, “o objetivo é a efetiva e adequada tutela dos
direitos indígenas, especialmente a garantia da posse exclusiva das terras
indígenas, de modo que seja concretizado o dever constitucional de demarcar as
terras por eles tradicionalmente ocupadas.” Além disso, a ação requer a
condenação das requeridas em danos morais coletivos perpetrados contra os
grupos indígenas, em virtude da abusiva demora na conclusão do procedimento
demarcatório.
O processo de demarcação da área citada, com pouco mais de 178 mil
hectares, teve início formal em 31 de janeiro de 2001. Na ocasião, a
presidência da Funai constituiu o primeiro grupo técnico para realizar estudos
e levantamentos preliminares para identificação das aldeias Munduruku situadas
ao longo da calha do Tapajós. Já em 2007, a presidência da Funai reinstitui o
Grupo Técnico para realizar os estudos de identificação e delimitação. O
Relatório Circunstanciado de Identificação e Delimitação (RCID) está pronto
desde 13 de setembro de 2013.
Mas a Funai descumpriu o rito legal previsto para o procedimento
de demarcação e deixou de publicar o resumo do relatório no Diário Oficial da
União e paralisou a demarcação quando a Terra Indígena Sawré Muybu já estava
com toda a documentação pronta para homologação e registro.
Questionada pelos Munduruku e pelo MPF, a Funai não respondeu. Os
ofícios enviados pelos procuradores da República que acompanham o caso não
tiveram nenhuma resposta da Funai, o que, para o MPF “demonstra o total descaso
da presidência da Funai com as requisições do MPF e com os reclames do grupo
indígena”.
A demora na demarcação provoca inúmeros danos aos Munduruku do
médio Tapajós, ameaçados constantemente por invasões de madeireiros e
garimpeiros. Estudos feitos pela própria Funai (na Coordenação Regional do
Tapajós) demonstram, através de imagens de satélite, a existência de vários
ramais clandestinos abertos por madeireiros para desmatamento ilegal no
interior da terra indígena. Outro grave prejuízo é que a área Sawré Muybu deve
ser alagada pelas usinas hidrelétricas de São Luiz do Tapajós e Jatobá, que o
governo quer construir no rio.
O povo indígena deve perder, com o alagamento, uma de suas
aldeias, roças, locais de coleta e caça, zonas de pesca e um cemitério ancestral,
se as projeções estiverem corretas.“Em empreendimentos desse porte, são
esperadas mudanças limnológicas e paisagísticas drásticas, no comportamento dos
rios (Tapajós e Jamanxim) e de seus afluentes, na ictiofauna, na entomofauna e
na vegetação, além dos problemas sociais, econômicos e de infraestrutura
gerados em função da implantação do canteiro de obras”, já atestam os primeiros
estudos de viabilidade das usinas. Com a demora no reconhecimento no território
que ocupam secularmente, os moradores da Sawré Muybu, maiores prejudicados
pelos projetos governamentais, não terão reconhecido seu direito à consulta e
compensação.
O processo tramita na Vara Federal de Itaituba com o número
1258-05.2014.4.01.3908
Fonte: Ministério Público Federal no Pará - Assessoria de
Comunicação