Nós Munduruku, do alto e médio
Tapajós, estamos dando continuidade com a segunda etapa da autodemarcação IPI
WUYXI IBUYXIM IKUKAP- DAJE KAPAP EYPI.
Em cinco dias na floresta,
concluímos seis pontos da autodemarcação e presenciamos rastros de destruição,
feitos pelos ladrões invasores de nossas terras: madeireiros, palmiteiros e
grileiros.
No segundo dia, acompanhando o
rastro dos madeireiros, encontramos dificuldades para a alimentação, estávamos
há dois dias sem encontrar caça. A gente sabe que onde há presença de zoada de
trator, de motosserra, e com a circulação de pessoas no ramal a caça fica
extinta, esses animais não suportam sentir esse cheiro humano. Estamos falando
a respeito disso em razão de presenciar essa cena durante a autodemarcação.
Depois que a gente varou no
ramal dos madeireiros, vimos uma trilha, uma ponte, que eles fazem para
carregar madeira e palmito de açaí. Vimos também a roça deles. Isso aqui é uma
estrada para puxar madeira e palmito. Como a gente está autodemarcando agora,
percebemos que está dentro da nossa área.
Estamos vendo aqui a destruição
que o pessoal está fazendo no açaizal. Quem começa tudo isso são os
madeireiros. Eles fazem o ramal e os palmiteiros vem atrás destruindo o
açaizal. A gente estava preservando para tirar o açaí para os nossos netos,
estamos vendo que não temos mais quase nada na nossa terra. Daqui que a gente
tira a fruta para dar o suco aos nossos filhos e agora estamos vendo a
destruição. Sempre dizemos que o pariwat (branco) não tem consciência disso.
Por isso que estamos fazendo a
autodemarcação, porque os pariwat estão destruindo as árvores, nós não fazemos
ao modo deles. A intenção do pariwat e do governo federal é só destruir mesmo,
e a intenção do indígena é preservar. Por que a gente preserva? Porque esse
patrimônio foi dado a nós por nosso guerreiro Karosakaybu, a terra é a nossa
mãe de onde tiramos nossa sobrevivência e onde podemos viver de acordo com a
nossa cultura.
Daje Kapap Eypi é um lugar
sagrado para todo o povo Munduruku, seja do alto ou médio Tapajós. Temos que
preservar a nossa natureza, o nosso rio, os nossos animais e as nossas frutas,
deixadas por Karosakaybu.
Estamos realizando a
autodemarcação para mostrar que essa terra é nossa, para que os brancos
respeitem a nossa terra. Queremos ter autonomia em nossa terra, queremos que
nós, indígenas, possamos ser os fiscais e protetores dessa terra como sempre
fomos.
Continuamos aqui na autodemarcação e não sabemos o que
vamos encontrar pela frente…
Sawe!
11 de julho de 2015, aldeia
Sawre Muybu, médio Rio Tapajós.
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