segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Índio sabe que xarope é bom para tosse

Por Edilberto Sena*

Como reagiria a sociedade santarena se um dia a prefeitura decidisse vender o local do cemitério dos Mártires para uma empresa construir um hiper-mercado? Iria permitir? Então, que dizer, no caso dos 300 indígenas que nestes dias se rebelaram contra a empresa construtora que destruiu um cemitério indígena para construir uma usina hidrelétrica lá em Aripuanã, Mato Grosso?


Eles paralisaram a obra e prenderam 100 trabalhadores, exigindo respeito a seu patrimônio destruído pela construção. Estavam eles certos em causar aquele incidente? A Eletronorte patrocina a violação de um cemitério indígena em nome do progresso.

É justificável o Estado brasileiro invadir lugares sagrados de um povo para gerar energia “limpa” para indústrias e o crescimento econômico? Os 300 índios de 11 povos distintos da região vizinha de Jacareacanga já compreenderam que se o governo brasileiro não respeita a Constituição Nacional, há outros meios de se fazerem respeitados. Eles já praticam o antigo ditado “a União faz a força e povo unido jamais será vencido”.

Certamente que algumas pessoas submissas ao poder do capital dirão que os índios de Aripuanã não têm direito de paralisar uma obra importante como a hidroelétrica que é do governo federal. Mas quem tem consciência sabe que o direito do outro termina onde começa o meu e os indígenas têm direitos garantidos pela Constituição Nacional.

Assim têm razão de defender o que é seu, tanto os indígenas de Aripuanã, como os Kaiapó do Xingu e os Munduruku do Tapajós, estes que já mandaram aviso ao Presidente da República de que o governo não tem direito de violar rios e florestas, a vida e a dignidade dos povos da floresta. O programa de aceleração do crescimento não pode ser feito à custa da vida destes povos.

Da mesma forma como a sociedade santarena tem direito à preservação de seus cemitérios, os índios também têm seus patrimônios, cultural e religioso que merecem respeito. Sim, ou não?

Critica-se o imperialismo norte-americano no mundo, com razão, como é injusto o que o povo israelita está causando ao povo palestino. Mas muitos ainda dão razão aos crimes causados à Amazônia em nome do progresso e do crescimento econômico. Mas os povos indígenas estão dando exemplo de que quando a lei não funciona há outros meios de o respeito ser garantido. Se um ladrão tenta roubar uma residência, o dono tem direito a defendê-la mesmo que na defesa, o criminoso venha a sofrer danos.

*Pároco diocesano e coordenador da Rádio Rural AM de Santarém, Pará. Editorial do dia 28 de julho de 2010.
Comentários
0 Comentários

0 comentários: