segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Operações contra corte ilegal ainda são escassas na Amazônia



De Lunaé Parracho*

As autoridades brasileiras executam operações contra o corte ilegal de madeira da Amazônia e apreenderam milhares de toneladas, mas o Estado ainda está praticamente ausente nesta imensa região e a população insiste que a madeira é sua única fonte de sustento.


Uma das mais recentes operações terminou nesta quinta-feira e foi realizada em Trairão - estado do Pará, um dos mais violentos por seus conflitos agrários - pela polícia, as Forças Armadas, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) e o Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICMBio) e o Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam).

Foram apreendidos quase três mil metros cúbicos de madeira ilegal em toras e madeira serrada, estimados em 2,5 milhões de dólares, e seis tratores. Além disso, foi fechada uma serralheria, informaram as autoridades.

"Ouro da Amazônia"
Mais de 90% das toras apreendidas eram de ipê, uma espécie ameaçada cuja madeira é chamada de "ouro da Amazônia" pois é escassa e seu valor supera os US$ 1.300 por metro cúbico.

O responsável pela devastação, Valdinei Ferreira, foi multado em 1,8 milhão de reais (1 milhão de dólares), mas está em liberdade pois o crime não prevê pena de prisão.

"Grande parte da madeira extraída ilegalmente é destinada à exportação pelo porto de Belém", capital do Pará, informou Davi Rocha, analista ambiental e chefe do escritório do Ibama em Itaituba.

Especialistas calculam que de 40% a 60% da madeira saída da Amazônia sejam ilegais enquanto há uma década a proporção era de 80%.

Guilherme Betiollo, da ICMBio e coordenador das operações, explicou que as Unidades de Conservação (UC) - áreas protegidas para evitar o desmatamento na Amazônia - são invadidas por homens armados que bloqueiam os acessos com árvores para evitar a fiscalização das autoridades.

"Começam com a extração ilegal de madeira e daí, sua consequente transformação em pasto para alimentar o gado ou campo para produção de soja", disse Betiollo.

A madeira amazônica representou em 2009 um negócio de 2,5 bilhões de dólares, revelaram o Instituto Imazon e o Serviço Florestal brasileiro.

No estado do Pará, um dos mais violentos do Brasil devido a conflitos agrários, foram assassinados entre maio e outubro oito camponeses que denunciaram cortadores clandestinos de árvores.

O último deles foi João Chupel Primo, de 55 anos, morto a tiros após denunciar a extração ilegal de madeira na região de Itaituba. Pelo crime foi detido Carlos Augusto, conhecido como 'Agustinho', homem temido na região, segundo vizinhos.

População esquecida
A população está dividida sobre as operações contra o corte ilegal na região: alguns, embora apóiem as ações, temem represálias por parte dos madeireiros, enquanto outros as rejeitam porque é praticamente a única fonte de emprego.

"Sem os madeireiros, não sabemos o que vamos fazer porque a madeira dá trabalho a muita gente", disse Maria Silva, vizinha de Areia, assentamento de 300 camponeses no estado do Pará, onde a eletricidade chegou em janeiro, mas as ruas não têm luz e onde o médico só aparece um dia por mês.


Um dos madeireiros "ajudava a comunidade, dava dinheiro, comida, abria ruas", contou esta mulher de 60 anos, com lágrimas nos olhos, em sua casa construída com madeira doada pelos cortadores clandestinos.

"O povo acaba envolvido (com os cortes) porque o inimigo é mais forte que nós (...) Aqui nem temos um posto policial; o povo foi esquecido", lamentou Moisés Rodríguez, de 41 anos, presidente da associação de moradores de Areia.

A presença das autoridades na selva é escassa, quando existe. Na UC da Floresta Nacional de Trairão, dois funcionários do ICMBio devem monitorar 257.000 hectares de selva. Na UC de Riozinho do Anfrísio, outros dois funcionários fiscalizam 736.000 hectares.

Na terça-feira, o Senado aprovou uma reforma do Código Florestal considerada por ambientalistas uma séria ameaça para a preservação da Amazônia. O projeto deve ser avaliado pela Câmara dos Deputados antes de seguir para a sanção ou veto da presidente Dilma Rousseff.

O setor ruralista, com forte representação no Congresso, defende a reforma alegando a necessidade de ampliar as áreas de cultivo para garantir segurança alimentar e preços mais baixos para os alimentos.



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