Fotografia: Greenpeace |
Depois dos representantes da Secretaria Geral da Presidência da República se negarem a comparecer ao encontro marcado com lideranças Munduruku na Aldeia Sai Cinza, município de
Jacareacanga (PA), no último dia 25, a Associação Indígena Pusuru divulgou por
meio de uma carta a posição de indignação deste povo indígena. Uma passeata foi
realizada assim que os indígenas foram comunicados da decisão do governo de não
comparecer à reunião.
Cerca de 200 caciques e lideranças
estavam reunidos desde o dia 22 de abril se preparando para a reunião com o
governo federal.
Os representantes do governo
justificaram a decisão ante uma imaginada violência a ser praticada pelos indígenas. Segundo informações divulgadas, o próprio ministro
Gilberto Carvalho, teria dado a ordem para os servidores não se deslocarem até
a aldeia. Frisa-se que a comitiva do governo estava acompanhada de dezenas de
homens armados da Força Nacional e Polícia Federal deslocados em dois aviões
até Jacareacanga.
No sítio da Presidência da República, uma matéria informa que a
comitiva formada por representantes do governo federal, liderada pelo
Secretário Nacional de Articulação Social, Paulo Maldos, reuniu-se na sede de
Jacareacanga com lideranças indígenas, vereadores e secretários municipais,
enquanto mais de 150 caciques o aguardava na Aldeia Sai Cinza, há 40 minutos
do local. Membros do pequeno grupo que se reuniu com o governo disseram,
segundo a própria matéria, que não tinham condições de decidir nada em nome dos
indígenas.
Fotografia: Presidência da República |
Veja a carta dos mundurucus:
Carta ao governo
brasileiro e à sociedade
Nós, lideranças,
caciques e guerreiros Munduruku do Alto, Médio e Baixo Tapajós reunidos para
reafirmar nossa posição contrária à construção de barragens em nossos rios, e
estamos completamente indignados com a falta de respeito do governo brasileiro
por não comparecer ao nosso encontro, marcado para hoje, 25 de abril, na aldeia
Sai Cinza, município de Jacareacanga, Pará.
Os representantes Tiago
Garcia e Nilton Tubino, da Secretaria Geral da Presidência da República,
afirmaram aos vereadores Munduruku de Jacareacanga que não viriam à aldeia
porque temiam violência da nossa parte, que nós estávamos esperando por eles
armados e com gaiolas para prendê-los. O governo está tentando se fazer de
vítima, e isso não é verdade. Quem chegou armado na cidade de Jacareacanga foi
o governo, com a Polícia Federal e a Força Nacional.
Segundo Nilton, o
ministro Gilberto Carvalho desautorizou a delegação a vir a nossa aldeia, e
tentou impor uma reunião na cidade de Jacareacanga, sob presença militar. E isso
nós não aceitamos. Essa reunião já tinha sido desmarcada uma vez. Ela deveria
ter acontecido no dia 10 de abril, mas por causa da Operação Tapajós, nós
ficamos com medo de um ataque igual ao que aconteceu na aldeia Teles Pires em
novembro do ano passado, quando assassinaram nosso parente Adenilson. Por isso
nós não aceitamos que esse encontro acontecesse naquela data.
E agora o governo
chega novamente armado com suas tropas para uma reunião com o nosso povo, e
inventa todo tipo de mentira, manipulações e distorções sobre nós Munduruku.
Nós queremos o diálogo, mas não é possível ter diálogo com armas apontadas nas
nossas cabeças. E achamos que talvez o governo não queira dialogar, porque quem
quer dialogar não mata indígena, não invade aldeias e nem vem armado com
policiais e helicópteros.
Exigimos que o governo
pare de tentar nos dividir e manipular, pressionando individualmente nossas
lideranças, caciques ou vereadores. Lembramos que quem responde oficialmente
pelo nosso povo são as coordenações das associações Munduruku, chamadas Pusuru
e Pahyhy, as entidades representativas de todas as comunidades Munduruku. Somos
um só povo, todas as nossas decisões são sempre coletivas e nós as expressamos
sempre através das associações.
Por fim, reafirmamos
que nós povo Munduruku não queremos guerra, queremos paz. E por isso queremos
que todas as tropas militares saiam da região. A partir de agora, exigimos que
todos encontros e reuniões com governo sejam sempre acompanhados pela
procuradoria do Ministério Público Federal do Pará. Queremos que nossa posição
sobre a barragem seja respeitada, e que o governo regulamente a consulta prévia
aos povos indígenas como manda a Convenção 169 da OIT, tudo isso antes de
qualquer decisão, estudo ou construção de barragem.
Também exigimos que
nossos direitos constitucionais sejam garantidos, sem que sejam usados como
moeda de troca. E reafirmamos: somos contra as barragens e queremos todos os
nossos rios livres. E nós vamos lutar por eles.
Aldeia Sai Cinza, 25
de abril de 2013.
Assinam este documento
caciques, lideranças, guerreiros e povo Munduruku.
*Com informações do CIMI, Secretária
da Presidência da República e Greenpeace