As tensões e ameaças a lideranças
comunitárias são constantse na região Oeste do Pará. Muitas comunidades lutam
pela titulação dos territórios tradicionais há mais de 10 anos.
Comunidade Murumuru (Foto de Emanuel Júlio) |
“Já recebi três bilhetes, dizendo que
cada passo do processo de titulação é um passo meu para o cemitério”, denuncia
João Lira, presidente da Associação Quilombola do Murumuru, comunidade
localizada às margens do Lago do Maicá, município de Santarém, Oeste do Pará.
As ameaças vêm de fazendeiros da região contrários à titulação do território
tradicional. Moradores da comunidade relatam que alguns fazendeiros chegaram a
falar que eles deveriam deixar de ser quilombolas.
As tensões se agravam conforme o processo
de regularização da área avança. A luta pelo direito ao território se estende
por mais de uma década, tempo de tramitação do processo de titulação no
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA. O Relatório
Técnico de Identificação de Delimitação (RTID), cuja finalização é umas das
etapas finais no processo de titulação, deve ser publicado em breve.
A Federação das Organizações
Quilombolas de Santarém – FOQS afirma que a ameaça a uma liderança quilombola é
uma ameaça a todo o movimento quilombola. A FOQS também pede o apoio para que
as denúncias sejam apuradas e o caso divulgado às autoridades. “Os quilombolas
estão em busca de um direito que é seu, garantido na Constituição”, defende
Franciney de Oliveira, presidente da Federação.
Cerca de 400 pessoas vivem em Munumuru,
sobrevivendo da venda de açaí, farinha, dos derivados da mandioca e da pesca. A
cada ano a comunidade realiza o tradicional Festival do Açaí, que está 19º
edição.
Ameaças recorrentes
As tensões e ameaças a lideranças
comunitárias são constantes na região. Na comunidade quilombola Arapucu,
servidores do INCRA também sofreram desacato por latifundiários, que tentam
impedir a titulação do território. A morosidade nos processos de titulação
amplifica o problema e fragiliza a sobrevivência física, social, econômica e
cultural de 12 comunidades em Santarém.
Josielson Costa, da CPT, relata que as
tensões nas comunidades quilombolas estão aumentando, o que torna mais grave a
omissão dos órgãos governamentais, entre eles a própria Polícia Federal. “Isso
precisa melhorar muito, porque estamos falando de seres humanos, de garantir a
dignidade das pessoas”.
A morosidade na titulação de
territórios quilombolas na região resulta em um quadro preocupante, que deixa
em risco mais de 2.800 famílias: das 65 comunidades da região do Baixo
Amazonas, apenas 7 foram tituladas, a última delas há 10 anos.
Saiba mais
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