O Partido dos Trabalhadores (PT) pode ajudar a eleger dois vice-governadores do Democratas (DEM), ambos ruralistas, no próximo segundo turno das eleições. O DEM é o sucessor da antiga Arena, o partido civil de apoio a ditadura militar e que na reabertura democrática passou a se chamar PFL (Partido da Frente Liberal).
Em franca redução no
Congresso Nacional desde a chegada ao PT ao governo central em 2003, o Democratas elegeu apenas 22 deputados federais no último dia 05 de outubro. Em desempenho também pífio, para quem já foi o maior partido assumidamente de
direita no país, o DEM não elegeu nenhum governador este ano. Perdeu na Bahia para o PT,
onde esperava ganhar com ex-governador
carlista Paulo Souto e não disputa com
cargo majoritário o segundo turno em nenhum estado.
Para o Senado, as urnas
consagraram apenas dois candidatos do DEM: Davi Alacombe no Amapá e Ronaldo
Caiado em Goiás. Este último já foi presidente da União Democrática Ruralista
(UDR), entidade criada nos anos oitenta para deter o avanço da reforma agrária e atacar camponeses que faziam a luta pela terra, inclusive com uso de violência.
Curiosamente, o DEM
experimenta uma redução no momento de maior avanço da bancada ruralista no Congresso.
E é em dois estados da Amazônia brasileira que o partido pode vê dois de seus “expoentes”
virarem vice-governadores. Trata-se de Lira Maia no Pará e de Paulo Quartiero
em Roraima, os dois deputados federais da bancada ruralista e com muitas coisas em comum: ambos são engenheiros agrônomos por profissão, respondem
a diversos processos no Supremo Tribunal Federal e contam com ajuda do PT para
se elegerem.
A coligação “Todos pelo
Pará” do candidato Hélder Barbalho (PMDB), do qual Lira Maia é vice tem entre
seus membros o PT. A aliança foi fechada ainda no primeiro turno, deixando muitos petistas paraenses de cabelo em pé. Helder Barbalho, filho de Jáder Barbalho, disputa o segundo turno com Simão Jatene,
do PSDB.
Lira de Maia, de camisa azul clara, cercado por Jáder e Helder Barbalho (PMDB) e Lula e Paulo Rocha (PT) |
Joaquim de Lira Maia é o
parlamentar brasileiro que mais processos responde no Supremo Tribunal Federal,
principalmente por denúncias envolvendo as suas duas gestões à frente da
prefeitura de Santarém, no Pará. Correm contra ele 14 processos: dez inquéritos
(investigações preliminares) e quatro ações penais (processos que podem
resultar na condenação). O deputado é acusado em de ter cometido o chamado
crime de responsabilidade, infrações administrativas atreladas ao exercício da
função pública, crime de peculato (desvio de recursos públicos) e crimes contra a Lei de Licitações. Em uma das
ações a que responde, Lira Maia é acusado pelo Ministério Público Federal de
envolvimento em irregularidades em 24 processos licitatórios para a compra de
merenda escolar em Santarém, em 2000. Segundo a denúncia, o superfaturamento
chegou a R$ 1,97 milhão em valores da época.
Entre os Projetos de sua autoria no Congresso está a desafetação de áreas griladas por
pecuaristas no interior da Reserva Extrativista Renascer em Prainha, oeste do
Pará. O deputado também é relator de um Projeto de Lei que pretende excluir do
interior do Parque Nacional da Serra do Pardo, na Terra do Meio, grandes fazendeiros autuados pelo Ibama por
desmatamento ilegal. Lira Mai foi a principal figura pública da proposta de divisão do estado do Pará e de criação do estado do Tapajós.
Quartiero chutando viatura da Polícia Federal em Roraima, durante os conflitos pela demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol |
Quartiero responde pelo
menos a seis ações penais, principalmente quando atuou diretamente no conflito durante o processo de demarcação da Terra Indígena
(TI) Raposa Serra do Sol em 2007/8. Líder de “arrozeiros” que detinham áreas
dentro da TI, Quartiero teria praticado diversos crimes, segundo o Ministério Público Federal em Roraima. Entre
eles, estariam o ataque a uma missão religiosa, o sequestro de três padres e
invasão da e a destruição da sede da Funai em Boa Vista. Em outra ação penal,
Quartiero foi denunciado pelo MPF por desobediência e desacato contra um
delegado da Polícia Federal, quando liderava o fechamento de estradas de
acesso à terra indígena Raposa Serra do
Sol. Há ainda outras ações penais envolvendo o candidato por crime contra o meio ambiente, crime contra o
patrimônio e crime contra a segurança nacional e formação de quadrilha. Todos
os processos estão no STF, pois Quartiero obteve foro privilegiado ao eleger
deputado federal em 2010, situação que permanece, caso seja eleito
vice-governador.
Entre os Projetos de sua autoria
está a proposta de revogação da adesão Brasil à Convenção n° 169 da Organização
Internacional do Trabalho (OIT) que trata do direito ao território aos “povos
indígenas e tribais”.
Assim, como na eleição de Kátia Abreu (PMDB), com a providencial ajuda do PT, dois expoentes do ruralismo brasileiro poderão continuar com foro privilegiado e atacando direitos indígenas e o meio ambiente.
Assim, como na eleição de Kátia Abreu (PMDB), com a providencial ajuda do PT, dois expoentes do ruralismo brasileiro poderão continuar com foro privilegiado e atacando direitos indígenas e o meio ambiente.