Em sua coluna semanal no jornal
Folha de São Paulo, às vésperas da votação do primeiro turno, a senadora e
presidente da Confederação Nacional da Agricultura, Kátia Abreu (PMDB)
sentenciou: “Urnas já consagram o agro”.
“Seja qual for o desfecho das eleições de amanhã [05
de outubro], um grande vencedor emergirá das urnas: o agronegócio. Em todos os
pleitos anteriores, os candidatos evitavam os empresários do meio rural. Eram
“retrógrados”, remanescentes de um Brasil “atrasado, escravagista e cruel”,
cujo apoio era preciso ocultar. Nesta eleição, bem ao contrário, o que se viu
foram os candidatos cortejando o agronegócio, reconhecendo-o como sustentáculo
da economia, responsável por um terço dos empregos formais do país e pelos superávit
da balança comercial”, afirmou no artigo
a ruralista. No mesmo texto, é dito ainda que a “ação política” do setor [agronegócio] o fez ser
reconhecido pela sociedade, que reverteu um “processo gramsciano impiedoso de
desconstrução de sua imagem”.
De fato, campanhas nas mídias, uma ação bem
articulada no Congresso e a contratação de “pessoas certas” transformaram a
Confederação Nacional da Agricultura (CNA) na maior porta voz dos ruralistas.
No primeiro turno, os então três principais candidatos, tiveram entre os seus compromissos
iniciais de campanha o comparecimento numa “sabatina” promovida em agosto pela CNA.
No evento, a candidata a reeleição Dilma Rousseff (PT)
afirmou que a demarcação de terras indígenas deve ser
objeto de amplo diálogo, do qual participem os interessados – indígenas
e proprietários de terras –, governos federal e estaduais, órgãos públicos,
Poder Judiciário e Ministério Público.” Em sua fala, Dilma deixou claro que as
entidades do agronegócio fazem parte dos “interessados”. (Veja em Dilma sinaliza a ruralistas mudança em processo de demarcação de terras indígenas).
No mesmo dia e na mesma CNA, o candidato do PSDB à Presidência, o senador Aécio Neves (MG) disse na sua “sabatina” na CNA que a
Fundação Nacional do Índio (Funai) perderá a hegemonia para definir a
demarcação de terras indígenas, se ganhar as eleições, além de possibilidade de
exploração dos recursos hídricos e minérios da área pelo governo federal, acesso
e instalação incondicional de unidades das forças armadas em Terras Indígenas
sem consulta à Funai. (Veja em Aécio: Funai perderá hegemonia para demarcar terras indígenas
)
Agora, com quase 273
parlamentares eleitos segundo levantamento preliminar feito pela bancada ruralista (Frente Parlamentar da Agropecuária)
, o grupo já
definiu sua prioridade: aprovar a Proposta
de Emenda Constitucional (PEC) 215/2000, que transfere para o Legislativo a decisão sobre a demarcação
de terras indígenas.
Como se vê, além de grande
vencedora eleitoral, a bancada ruralista já conta com o compromisso dos dois
candidatos a Presidência da República em atacar os direitos indígenas.