Por Eliane Brum*
A escassez de água em São Paulo é o rei nu das
eleições de 2014. No momento em que a maior cidade do país se transforma num
cenário de distopia, o processo eleitoral chegou ao fim sem nenhum debate sério
sobre o meio ambiente e o modelo de desenvolvimento para o Brasil
Chegamos ao dia seguinte sem que o futuro tenha
sido de fato disputado. Se a eleição de 2014 foi a mais acirrada das últimas
décadas, não só pelos candidatos, mas pelos eleitores, terminou sem debate. Não
havia adversários nem nos estúdios de TV, onde os candidatos rolavam ora na
lama, ora na retórica mais medíocre, nem nas redes sociais, elas que se
tornaram as ruas realmente tomadas pela militância. Havia apenas inimigos a
serem destruídos. As fraturas do país dizem respeito bem menos à pequena
diferença entre a vencedora e o derrotado – e bem mais a uma fissura entre o
país que vivemos e o país inventado. Não como uma fabulação, que é a matéria de
qualquer vida. Não como uma utopia, que é onde se sonha chegar. Mas como um
deslocamento perverso da realidade, uma cisão. Só essa desconexão pode explicar
como a maior cidade do país transformava-se num cenário de distopia durante o
primeiro e o segundo turnos eleitorais sem que em nenhum momento o meio
ambiente e o modelo de desenvolvimento tenham entrado na pauta com a seriedade
necessária. Chegamos ao dia seguinte como parte dos moradores de São Paulo:
olhando para o céu à espera de que uma chuva venha nos salvar. E é com essa
verdade profunda que temos de lidar.
Leia tudo na coluna quinzenal de Eliane Brum para o sítio do jornal El País