Três
Tupinambá foram assassinados na Bahia. Em região de conflito com “produtores
rurais”, diz o texto da Folha: (aqui).
Ela que abriga semanalmente artigo da senadora Kátia Abreu.
Pouco
mudou desde a invasão do país pelos portugueses, em 1500. E pouco mudou desde
Pero Vaz de Caminha. Com os escribas a serviço do poder. Os jornais cumprem
diariamente a função de escantear os conflitos agrários. Uma das
características centrais deste país. Para quem tiver olhos para ler e um mínimo
de aversão à cumplicidade. Esta que ronda cada brasileiro indiferente.
Três
assassinados. Mais três. Esperaremos uma chacina, um caso com 10 ou 20 assassinados,
e com a consequente repercussão internacional, para darmos valor a esse tipo de
notícia?
Eu
as divulgo quase diariamente, em minhas páginas: Outro Brasil, Partido da Terra. Ainda há pouco, aqui mesmo no meu
perfil, publicava notícia sobre atentado contra índios Guarani, em plena
capital econômica do país. Quantos compartilharam, quantos perderam alguns
segundos com isso?
Logo
em seguida fiquei sabendo desses assassinatos na Bahia. Atenção: eles não são
exceção. Não são. Mas isso não pode implicar embotamento. Esvaziamento da
capacidade de indignação, falta de atitude. Como costuma ocorrer nestas terras
virtuais – à exceção de alguns espasmos de cidadania.
Sinto
com dor um imenso desprezo da maioria dos que estão lendo por esse tipo de
notícia. Parece que não é com a gente, né? Mas é também com a nossa assinatura,
caros colegas, leitores, amigos. Com a nossa mesquinharia, com os nossos votos
e com a nossa falta de horizontes.
Prestem
atenção numa coisa: o Rei do Camarote é fichinha. Apenas um bobalhão. Não
possui centralidade nenhuma em nossa democracia sórdida. O Brasil ainda é
movido – politicamente, inclusive – pelos Reis do Campo, pelos Sultões do
Agronegócio. Eles têm largo espaço nos jornais e revistas – dá status.
Eles
escarnecem toda semana de suas vítimas, no Congresso e nas Assembleias, com
projetos de lei que restringem ainda mais o direito de indígenas, camponeses,
trabalhadores rurais.
A
cobertura do agronegócio é vergonhosa, pró-empresas, a favor de um modelo que
nos envenena, que arrebenta biomas, desmata. E que expulsa indígenas e
camponeses. Dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço. E a imprensa
favorece um desses corpos (o espaço do lucro) em detrimento da maioria dos
brasileiros.
Enquanto
isso, seguimos com nossas piadinhas. Com nossa suposta aversão aos “camarotes”.
Nós que nos privatizamos tanto.
Parte
significativa de nossos camarotes é desenhada com arames farpados. E eles estão
manchados de sangue. Com séculos de grilagem e 500 anos de escárnio – que não
sairão na capa da Vejinha.
Poucos
perceberam que a Kátia Abreu (PMDB-TO) e o deputado Luis Carlos Heinze (PP-RS),
os ruralistas mais agressivos, são personagens 800 vezes mais importantes que o
Bobalhão do Camarote
Está
mais do que na hora de cada um decidir de que lado está. Dos que excluem e
matam ou dos que brigam por um país diferente. Com um mínimo de democracia
(mais que isso que temos) e um mínimo de humanidade.
Com
menos omissão e menos cinismo. Menos distração e mais atitude.
*Reproduzido pelo blog Combate ao Racismo Ambiental