Ministério Público Federal vai dar início a operação para cobrar agilidade do governo na questão fundiária
Roldão Arruda*
Leia aqui no Blog: Servidores do Incra criticam lentidão e retrocesso no processo de reconhecimento de áreas quilombolas
Roldão Arruda*
O Ministério Público Federal (MPF) vai desencadear nos próximos dias
uma ampla operação, em todo o País, destinada a cobrar do governo federal
respostas mais rápidas para as demandas das comunidades remanescentes do
período da escravidão, os quilombolas. O foco principal das ações dos
procuradores deverá ser a questão da regularização e titulação das terras
reivindicadas por essas comunidades no Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária (Incra). De acordo com as análises do MPF, a lentidão dos
processos fundiários na questão quilombola é devida, acima de tudo, à
ineficiência daquela autarquia.
Em
1988, a Constituição definiu como obrigação do Estado brasileiro emitir títulos
de propriedade aos quilombolas que estivessem ocupando suas terras. De lá para
cá, um conjunto de 2.048 comunidades, concentradas sobretudo na Bahia e no
Maranhão, já foram oficialmente reconhecidas pelo Estado. A maior parte delas
já pediu o reconhecimento de posse e a titulação de suas terras. Nos últimos 25
anos, porém, só foram emitidos 139 títulos de posse.
A
titulação beneficiou um total de 207 comunidades e abrangeu uma área de 995 mil
hectares, nos quais vivem cerca de 13 mil famílias. Isso representa apenas 8,5%
do total de comunidades já reconhecidas pela Fundação Cultural Palmares, a
instituição encarregada dessa tarefa.
A lentidão chama a atenção da
6.ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF, órgão setorial responsável pelas
questões relacionadas a populações indígenas e comunidades tradicionais. Pelas
contas de Deborah Duprat, subprocuradora-geral da República e coordenadora
daquela câmara, se o ritmo atual for mantido, os quilombolas terão de esperar
mais 175 anos para que todas as terras das comunidades já reconhecidas sejam
regularizadas e tituladas.
Inoperância.
"O principal problema é a lentidão dos processos administrativos relacionados à questão da terra", disse Deborah. Isso significa que, ao contrário do que ocorre com as demandas indígenas, frequentemente paralisadas por intermináveis disputas judiciais, o drama dos quilombolas estaria relacionado sobretudo à inoperância do Incra, responsável pela identificação, regularização e titulação das terras.
"O principal problema é a lentidão dos processos administrativos relacionados à questão da terra", disse Deborah. Isso significa que, ao contrário do que ocorre com as demandas indígenas, frequentemente paralisadas por intermináveis disputas judiciais, o drama dos quilombolas estaria relacionado sobretudo à inoperância do Incra, responsável pela identificação, regularização e titulação das terras.
Nem
todas as comunidades reconhecidas já entraram no Incra com pedidos envolvendo a
questão fundiária. Sabe-se, porém, que, do total de 1.281 processos
administrativos que hoje tramitam naquela autarquia, o porcentual dos que
enfrentam obstáculos judiciais não chega à marca de 5%.
Inicialmente,
os procuradores suspeitaram da inexistência de recursos para a desapropriação
das áreas de quilombos. Ao verificarem os orçamentos do Incra, porém,
constataram que o problema não é a falta de recursos, mas sim de disposição.
"A análise dos dados orçamentários dos últimos dez anos mostrou que os
porcentuais executados ficaram sempre próximos de zero", disse a
subprocuradora-geral.
No
governo da presidente Dilma Rousseff, segundo o levantamento da 6.ª Câmara, a
execução orçamentária melhorou consideravelmente e o Incra chegou a assumir o
compromisso de executar todos os valores recebidos. Neste ano, porém, ainda não
foi titulada nenhuma área quilombola.
É
diante deste cenário que os procuradores decidiram desencadear, a partir dos
próximos dias, uma ação estratégica destinada a fazer os processos andarem.
"Se estiverem na fase de certificação, devem passar logo para a
identificação, depois regularização, até a titulação", explicou Deborah.
Programas.
Na quarta-feira, quando se comemora o Dia da Consciência Negra, representantes do MPF vão se reunir em Brasília com lideranças quilombolas, em audiência pública, para ouvir suas reivindicações. Pelo que já se sabe, a ausência de regularização fundiária provoca outros problemas, como a falta de acesso ao crédito rural. Algumas comunidades também não conseguiram acesso ao Luz Para Todos e outros programas federais.
Na quarta-feira, quando se comemora o Dia da Consciência Negra, representantes do MPF vão se reunir em Brasília com lideranças quilombolas, em audiência pública, para ouvir suas reivindicações. Pelo que já se sabe, a ausência de regularização fundiária provoca outros problemas, como a falta de acesso ao crédito rural. Algumas comunidades também não conseguiram acesso ao Luz Para Todos e outros programas federais.
Procurado pelo Estado,
o Incra não se manifestou. Na Secretaria de Promoção da Igualdade Racial da
Presidência da República, a diretora de políticas para comunidades
tradicionais, Bárbara Oliveira, destacou a expansão de programas sociais do
governo em áreas quilombolas. "Quase 90 mil famílias estão inscritas no
Cadastro Único de Programas Sociais e são beneficiárias de importantes ações do
governo, como Luz Para Todos, assistência técnica rural, saneamento, habitação,
educação quilombola", disse.
Ainda
segundo Bárbara, a presidente Dilma Rousseff deve anunciar novas titulações
neste ano.
*Fonte: O Estado de São PauloLeia aqui no Blog: Servidores do Incra criticam lentidão e retrocesso no processo de reconhecimento de áreas quilombolas