O rolezinho, a novidade
deste Natal, mostra que, quando a juventude pobre e negra das periferias de São
Paulo ocupa os shoppings anunciando que quer fazer parte da festa do consumo, a
resposta é a de sempre: criminalização. Mas o que estes jovens estão, de fato,
“roubando” da classe média brasileira?
O Natal de 2013 ficará
marcado como aquele em que o Brasil tratou garotos pobres, a maioria deles
negros, como bandidos, por terem ousado se divertir nos shoppings onde a classe
média faz as compras de fim de ano. Pelas redes sociais, centenas, às vezes
milhares de jovens, combinavam o que chamam de “rolezinho”, em shopping
próximos de suas comunidades, para “zoar, dar uns beijos, rolar umas paqueras”
ou “tumultuar, pegar geral, se divertir, sem roubos”. No sábado, 14, dezenas
entraram no Shopping Internacional de Guarulhos, cantando refrões de funk da
ostentação. Não roubaram não destruíram, não portavam drogas, mas, mesmo assim,
23 deles foram levados até a delegacia, sem que nada justificasse a detenção.
Neste domingo, 22, no Shopping Interlagos, garotos foram revistados na chegada
por um forte esquema policial: segundo a imprensa, uma base móvel e quatro
camburões para a revista, outras quatro unidades da Polícia Militar, uma do GOE
(Grupo de Operações Especiais) e cinco carros de segurança particular para
montar guarda. Vários jovens foram “convidados” a se retirar do prédio, por
exibirem uma aparência de funkeiros, como dois irmãos que empurravam o pai,
amputado, numa cadeira de rodas. De novo, nenhum furto foi registrado. No
sábado, 21, a polícia, chamada pela administração do Shopping Campo Limpo, não
constatou nenhum “tumulto”, mas viaturas da Força Tática e motos da Rocam
(Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas) permaneceram no estacionamento para
inibir o rolezinho e policiais entraram no shopping com armas de balas de
borracha e bombas de gás.
Se não há crime, por que a
juventude pobre e negra das periferias da Grande São Paulo está sendo
criminalizada?
Leia na coluna de Eliane
Brum no sítio do jornal El País.