Após a retirada, a madeira pode ser estocada por um prazo de até dois
anos, depois do qual perde qualidade e valor comercial.
Por Sérgio Adeodato*
Ao desmatar a área a ser ocupada pelo reservatório de 258 km2 da Usina
Hidrelétrica de Jirau, com enchimento previsto para este ano e início da
geração em 2014, a empresa Energia Sustentável do Brasil, responsável pelo
empreendimento a 170 km de Porto Velho (RO), enfrenta um problema que pode
resultar em desperdício de recurso natural e impactos ambientais – como
emissões de carbono – não estimados nos estudos prévios. Sem compradores ou
infraestrutura local para beneficiamento, parte dos 2 milhões de m3 de madeira
de lei e lenha que começam a ser retirados para a formação do lago corre risco
de apodrecer ao relento.
“Faltam interessados até em receber o material como doação, porque a quantidade é muito grande e o mercado regional não tem como absorver”, revela Antonio Luiz Abreu Jorge, diretor de meio ambiente da empresa. Até o momento 60% da área teve a vegetação suprimida e parte das toras está em pátios de estocagem. “Vendemos simbolicamente a R$ 1 o metro cúbico, apenas para emitir a nota fiscal de transporte”, diz.
Cogitou-se instalar uma termoelétrica para o emprego do insumo florestal e até a sua comercialização para uma empresa chinesa, o que acabou não se consolidando. Após a retirada, a madeira pode ser estocada por um prazo de até dois anos, depois do qual perde qualidade e valor comercial.
Se não houver um arranjo de logística, ressalta Jorge, a extração das árvores para se evitar impactos na água do reservatório, na biodiversidade e no funcionamento das turbinas é economicamente inviável. O custo do desmate gira em torno de R$ 30 mil por hectare, área de onde pode se retirar perto de 100 m3 de madeira de lei. Como o valor médio das toras comerciais amazônicas é de R$ 134, segundo dados do Instituto de Desenvolvimento Florestal do Pará, a receita por hectare desmatado – considerando a madeira para serrarias – seria inferior à metade do custo.
“A morosidade do licenciamento dificulta planejar o escoamento da madeira, com a prospecção de mercado dentro do prazo necessário à instalação de serrarias e indústrias âncora, além de logística capaz de atrair investimentos”, justifica o diretor. Diante das dificuldades, o consórcio empreendedor negocia com o Ibama a redução no percentual de árvores que precisa obrigatoriamente ser retirado da floresta antes do enchimento da represa, conforme o licenciamento. “Modelos computacionais mostram a quantidade de vegetação que pode ficar no fundo do reservatório sem afetar a água e os peixes com matéria orgânica”, afirma Jorge. Os 10 mil hectares de floresta que inicialmente seriam suprimidos podem cair pela metade, com redução de custos.
Quando submersos, tanto os solos que sustentavam a floresta como as folhas das árvores se decompõem e geram metano, o mais potente gás causador do efeito estufa. O problema agrava-se posteriormente, durante a operação da usina, através da proliferação de ervas aquáticas daninhas que também se degradam nas variações de vazão do reservatório, prejudicando a biodiversidade. Na água, os troncos permanecem intactos. “Mas as árvores mortas pela inundação da floresta frequentemente se projetam acima da superfície da água e se deterioram ao ar livre, liberando gás carbônico, também contribuinte do aquecimento global”, explica o pesquisador Philip Fearnside, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
Fearnside questiona a metodologia do inventário de emissões das usinas brasileiras, elaborado com apoio da Eletrobras. Em estudo publicado no exterior, ele identificou erros no cálculo e apresentou um método diferente, pelo qual a emissão de carbono da superfície dos reservatórios seria 345% maior que o número oficial.
Em resposta, a Eletrobras diz que “o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) deixa claro o quanto ainda há de incertezas científicas nas estimativas para gases de efeito estufa em reservatórios de hidrelétrica”. E por isso não é obrigatório para os países elaborarem seus inventários utilizando tais estimativas. No momento estão sendo realizadas medições de parâmetros físicos, químicos e biológicos em oito reservatórios e em locais onde serão instaladas novas hidrelétricas.
“Faltam interessados até em receber o material como doação, porque a quantidade é muito grande e o mercado regional não tem como absorver”, revela Antonio Luiz Abreu Jorge, diretor de meio ambiente da empresa. Até o momento 60% da área teve a vegetação suprimida e parte das toras está em pátios de estocagem. “Vendemos simbolicamente a R$ 1 o metro cúbico, apenas para emitir a nota fiscal de transporte”, diz.
Cogitou-se instalar uma termoelétrica para o emprego do insumo florestal e até a sua comercialização para uma empresa chinesa, o que acabou não se consolidando. Após a retirada, a madeira pode ser estocada por um prazo de até dois anos, depois do qual perde qualidade e valor comercial.
Se não houver um arranjo de logística, ressalta Jorge, a extração das árvores para se evitar impactos na água do reservatório, na biodiversidade e no funcionamento das turbinas é economicamente inviável. O custo do desmate gira em torno de R$ 30 mil por hectare, área de onde pode se retirar perto de 100 m3 de madeira de lei. Como o valor médio das toras comerciais amazônicas é de R$ 134, segundo dados do Instituto de Desenvolvimento Florestal do Pará, a receita por hectare desmatado – considerando a madeira para serrarias – seria inferior à metade do custo.
“A morosidade do licenciamento dificulta planejar o escoamento da madeira, com a prospecção de mercado dentro do prazo necessário à instalação de serrarias e indústrias âncora, além de logística capaz de atrair investimentos”, justifica o diretor. Diante das dificuldades, o consórcio empreendedor negocia com o Ibama a redução no percentual de árvores que precisa obrigatoriamente ser retirado da floresta antes do enchimento da represa, conforme o licenciamento. “Modelos computacionais mostram a quantidade de vegetação que pode ficar no fundo do reservatório sem afetar a água e os peixes com matéria orgânica”, afirma Jorge. Os 10 mil hectares de floresta que inicialmente seriam suprimidos podem cair pela metade, com redução de custos.
Quando submersos, tanto os solos que sustentavam a floresta como as folhas das árvores se decompõem e geram metano, o mais potente gás causador do efeito estufa. O problema agrava-se posteriormente, durante a operação da usina, através da proliferação de ervas aquáticas daninhas que também se degradam nas variações de vazão do reservatório, prejudicando a biodiversidade. Na água, os troncos permanecem intactos. “Mas as árvores mortas pela inundação da floresta frequentemente se projetam acima da superfície da água e se deterioram ao ar livre, liberando gás carbônico, também contribuinte do aquecimento global”, explica o pesquisador Philip Fearnside, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
Fearnside questiona a metodologia do inventário de emissões das usinas brasileiras, elaborado com apoio da Eletrobras. Em estudo publicado no exterior, ele identificou erros no cálculo e apresentou um método diferente, pelo qual a emissão de carbono da superfície dos reservatórios seria 345% maior que o número oficial.
Em resposta, a Eletrobras diz que “o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) deixa claro o quanto ainda há de incertezas científicas nas estimativas para gases de efeito estufa em reservatórios de hidrelétrica”. E por isso não é obrigatório para os países elaborarem seus inventários utilizando tais estimativas. No momento estão sendo realizadas medições de parâmetros físicos, químicos e biológicos em oito reservatórios e em locais onde serão instaladas novas hidrelétricas.
Fonte: Publicado originalmente no Valor.