segunda-feira, 14 de março de 2016

Amazônia registra 47 dos 50 casos de assassinatos por conflitos no campo, afirma relatório


De acordo com a Pastoral da Terra , relatório apresenta casos de conflitos emblemáticos enfrentados por comunidades dos estados que compõem a Amazônia Legal

Por Hellen Miranda*

Publicação da Comissão Pastoral da Terra mostra que de 50 assassinatos no campo, 47 foram na Amazônia (Foto: Antonio Menezes)

Dos 50 assassinatos registrados no Brasil por situação conflituosa no campo, 47 foram na Amazônia, sendo 20 em Rondônia, 19 no Pará, 6 no Maranhão, 1 no Amazonas e 1 em Mato Grosso, informou o membro da coordenação executiva nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Ruben Siqueira durante o lançamento da publicação “Amazônia, um bioma mergulhado em conflitos – Relatório Denúncia”.
De acordo com o Siqueira, o relatório apresenta casos de conflitos emblemáticos enfrentados por comunidades dos estados que compõem a Amazônia Legal. “Esse relatório é mais qualitativo do que quantitativo, mostra nove casos em cada estado da Amazônia escolhido para representar, ainda hoje, o mundo dos conflitos e da violência em que estão inseridas as comunidades do campo”, comenta. Sobre a proposta, ele diz que é sensibilizar os leitores, a sociedade e as autoridades para um drama humano que essas comunidades estão vivendo enfrentando madeireiras, mineradoras e grilagem de terra, onde deparam-se com a violência e a omissão do Estado.
O evento que aconteceu, ontem, no Instituto de Teologia Pastoral de Ensino Superior da Amazônia (ITEPES), na Chapada, região central de Manaus, teve a presença de Josep Iborra, da Articulação das CPT’s da Amazônia, Padre Zezinho Lima da Arquidiocese de Manaus e Gerson Priante, viúvo da liderança Dora Priante, assassinada em Iranduba (AM) no ano passado. Priante conta que a iniciativa é um espaço próprio para as pastorais sociais para atualizar, divulgar e denunciar os dados de conflitos na região.
“O caso da Dora não foi incluído, porém retrata bem o que o relatório mostra. Depois do assassinato teve toda atenção, mas depois esqueceram, foi jogada na vala comum como mais um caso e é isso que não queremos. Temos tentado buscar e apurar para identificarmos os culpados, até agora duas pessoas foram presas, mas tudo caminha lentamente”, lamenta. Mesmo com a demora da justiça, o viúvo recomenda o grito dos que vivenciam situações de violência.
“Não tenham medo de denunciar, para não disseminar o clima de impunidade que cria uma insegurança mais generalizada. Mesmo que não acredite que resolverá de imediato, temos que denunciar. Ficamos muito tempo calados”, desabafa.
Para a coordenadora da Comissão Pastoral da Terra (CPT/AM), Maria Clara Motta é importante que o Governo faça a reforma agrária. “A terra virou um comércio, o bem mais precioso que cada um paga e tem o direito, ao invés de beneficiar as famílias locais, muitas pessoas de fora vem ocupar a região e o governo deixa de atender a necessidade do seu povo”, argumenta.
Comissão monitora 38 ameaçados
De acordo com a coordenadora da Comissão Pastoral da Terra (CPT/AM) Maria Clara Motta, não é só a zona rural que sofre com conflitos de terras. “Nós temos 38 pessoas ameaçadas de morte em todo o Amazonas sendo acompanhadas pelo CPT, na capital temos um caso registrado na comunidade Nobre, no Santa Etelvina, a pessoa já sofreu três atentados. Nosso trabalho é sempre ajudar quem precisa, acolhendo quem está em situação de conflito”, destaca. A coordenadora informa que de 2010 a 2015 aproximadamente 12 pessoas foram mortas em função de conflitos no Amazonas.
Riquezas geram os conflitos
A infinidade de riquezas naturais da região amazônica é apontada pela CPT como atrativo, há décadas, dos interesses dos poderosos de dentro e fora do País, culminando nos conflitos no campo. De acordo com o levantamento, das 144 pessoas que receberam ameaças de morte no campo durante o último ano, 93 estão na região Norte. Trinta tentativas de homicídios também foram registradas.

*Publicado originalmente no sítio do jornal A Crítica, de Manaus. 1° de março de 2016.
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