De acordo com a Pastoral da Terra , relatório apresenta casos de conflitos emblemáticos enfrentados por comunidades dos estados que compõem a Amazônia Legal
Por Hellen Miranda*
Publicação da Comissão Pastoral da Terra mostra que de 50 assassinatos no campo, 47 foram na Amazônia (Foto: Antonio Menezes) |
Dos 50
assassinatos registrados no Brasil por situação conflituosa no campo, 47 foram
na Amazônia, sendo 20 em Rondônia, 19 no Pará, 6 no Maranhão, 1 no Amazonas e 1
em Mato Grosso, informou o membro da coordenação executiva nacional da Comissão
Pastoral da Terra (CPT), Ruben Siqueira durante o lançamento da publicação
“Amazônia, um bioma mergulhado em conflitos – Relatório Denúncia”.
De acordo
com o Siqueira, o relatório apresenta casos de conflitos emblemáticos
enfrentados por comunidades dos estados que compõem a Amazônia Legal. “Esse
relatório é mais qualitativo do que quantitativo, mostra nove casos em cada
estado da Amazônia escolhido para representar, ainda hoje, o mundo dos
conflitos e da violência em que estão inseridas as comunidades do campo”,
comenta. Sobre a proposta, ele diz que é sensibilizar os leitores, a sociedade
e as autoridades para um drama humano que essas comunidades estão vivendo
enfrentando madeireiras, mineradoras e grilagem de terra, onde deparam-se com a
violência e a omissão do Estado.
O evento
que aconteceu, ontem, no Instituto de Teologia Pastoral de Ensino Superior da
Amazônia (ITEPES), na Chapada, região central de Manaus, teve a presença de
Josep Iborra, da Articulação das CPT’s da Amazônia, Padre Zezinho Lima da
Arquidiocese de Manaus e Gerson Priante, viúvo da liderança Dora Priante,
assassinada em Iranduba (AM) no ano passado. Priante conta que a iniciativa é
um espaço próprio para as pastorais sociais para atualizar, divulgar e
denunciar os dados de conflitos na região.
“O caso
da Dora não foi incluído, porém retrata bem o que o relatório mostra. Depois do
assassinato teve toda atenção, mas depois esqueceram, foi jogada na vala comum
como mais um caso e é isso que não queremos. Temos tentado buscar e apurar para
identificarmos os culpados, até agora duas pessoas foram presas, mas tudo
caminha lentamente”, lamenta. Mesmo com a demora da justiça, o viúvo recomenda
o grito dos que vivenciam situações de violência.
“Não
tenham medo de denunciar, para não disseminar o clima de impunidade que cria
uma insegurança mais generalizada. Mesmo que não acredite que resolverá de
imediato, temos que denunciar. Ficamos muito tempo calados”, desabafa.
Para a
coordenadora da Comissão Pastoral da Terra (CPT/AM), Maria Clara Motta é
importante que o Governo faça a reforma agrária. “A terra virou um comércio, o
bem mais precioso que cada um paga e tem o direito, ao invés de beneficiar as
famílias locais, muitas pessoas de fora vem ocupar a região e o governo deixa
de atender a necessidade do seu povo”, argumenta.
Comissão monitora 38 ameaçados
De acordo
com a coordenadora da Comissão Pastoral da Terra (CPT/AM) Maria Clara Motta,
não é só a zona rural que sofre com conflitos de terras. “Nós temos 38 pessoas
ameaçadas de morte em todo o Amazonas sendo acompanhadas pelo CPT, na capital
temos um caso registrado na comunidade Nobre, no Santa Etelvina, a pessoa já
sofreu três atentados. Nosso trabalho é sempre ajudar quem precisa, acolhendo
quem está em situação de conflito”, destaca. A coordenadora informa que de 2010
a 2015 aproximadamente 12 pessoas foram mortas em função de conflitos no
Amazonas.
Riquezas geram os conflitos
A infinidade de riquezas naturais da região
amazônica é apontada pela CPT como atrativo, há décadas, dos interesses dos
poderosos de dentro e fora do País, culminando nos conflitos no campo. De
acordo com o levantamento, das 144 pessoas que receberam ameaças de morte no
campo durante o último ano, 93 estão na região Norte. Trinta tentativas de
homicídios também foram registradas.
*Publicado originalmente no sítio do jornal A Crítica, de Manaus. 1° de março de 2016.