Kátia Abreu, a Pelicão do Planalto
Por José Ribamar Bessa Freira
No internato de Coari, a palavra Pelicão passou a
simbolizar engano, inversão dos fatos, distorção da realidade, o mundo de
revestrés. Assim, Pedro Américo, que era um grande "engolidor de
frangos", fazia pose de goleiro elástico capaz de dar voos acrobáticos
para pegar a bola lá no ninho da coruja. Era o Castilho do Solimões. Tudo
potoca, invencionice, lorota.
Eis o que eu queria dizer: a ministra da Agricultura Kátia Abreu,
afilhada de casamento da presidente Dilma, é o próprio pelicão sobrevoando
o planalto. Ela não se limita apenas a negar o que existe. Vai além: afirma que
a realidade é o contrário daquilo que efetivamente é.
Mal assumiu a pasta, Kátia Abreu declarou em entrevista à Mônica Bérgamo
(FSP 5/01) que "não existe mais latifúndio no Brasil", o que
torna desnecessária a reforma agrária, e atribuiu os conflitos fundiários com
os índios ao fato de que "eles saíram da floresta e passaram a descer
nas áreas de produção", quando a realidade é justamente o contrário.
Tudo o que ela diz deve ser lido ao revés.
Leia no Taqui pra Ti.
Kátia Abreu, a ministra que desmata a razão
Por Rodrigo Martins
Apesar
do incremento de programas sociais no campo e dos investimentos em assistência
técnica, os movimentos rurais queixam-se do baixo ritmo de desapropriações e da
manutenção da secular estrutura agrícola, baseada no latifúndio e na
monocultura voltada para a exportação. Enquanto isso, 120 mil famílias
permanecem acampadas à espera da reforma agrária.
Devem
perder a esperança? Sim, se depender da nova
ministra da Agricultura, Kátia Abreu, uma escolha pessoal de Dilma. Em seu
discurso de posse, a ruralista chegou ao cúmulo de negar a existência de
latifúndios no País. Por consequência, defendeu uma desaceleração ainda maior
no programa de reforma agrária. “Ele tem de ser pontual, para os vocacionados.
E se o governo tiver dinheiro não só para dar terra, mas garantir a estrutura e
a qualidade dos assentamentos. Latifúndio não existe mais.”
Leia na Carta Capital
Kátia Abreu e os latifúndios da miséria
Por Fernando Prioste
As políticas de desconcentração fundiária previstas em lei e na
Constituição, entre elas a reforma agrária, a criação de unidades de
conservação de uso sustentável, a titulação de territórios quilombolas e a
demarcação de terras indígenas, são obrigatórias por definição legal. Essa
obrigatoriedade é sustentada também pelo fato de que com pouco mais de 10% do
total da área agricultável a agricultura familiar produz, segundo o Ministério
do Desenvolvimento Agrário, 70% dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros.
Ademais, a ONU, através da Relatoria do Direito Humano à Alimentação, afirmou
em 2010 que a desconcentração fundiária é essencial para a efetivação dos
direitos à alimentação, moradia e trabalho, entre outros direitos humanos.
Esse panorama reforça o entendimento de que a ministra Kátia Abreu volta
suas atenções apenas para o seleto grupo de grandes proprietários rurais que
receberão mais de R$ 156 bilhões do governo federal no Plano Safra 2014/2015. O
plano ideológico do agronegócio centra-se em maximizar grandes lucros para
poucos e algumas migalhas a quem trabalha no sistema, ao custo da miséria e da
insegurança alimentar de milhares de brasileiros.
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