O
governo brasileiro bem que tentou esconder, mas lideranças da Articulação dos
Povos Indígenas do Brasil (Apib) levaram ao Fórum Permanente para Questões
Indígenas da Organização das Nações Unidas (ONU), na tarde desta sexta-feira,
24, em Nova York (EUA), a realidade das comunidades país afora. Lindomar
Terena, por volta das 17h, horário de Brasília, leu uma carta da Apib dirigida
à mesa diretora do Fórum – leia a carta na íntegra.
A repercussão do pronunciamento foi tamanha que virou debate.
A carta gerou protestos
de representantes do Ministério de Relações Exteriores do Brasil, que enviou
uma comensal para rebater no Plenário . “O nosso pronunciamento gerou um debate
de 30 minutos. O governo respondeu a carta dizendo que a realidade dos povos
indígenas é difícil em todo o mundo e desafiou os demais países a apresentarem
números maiores de demarcações de terras indígenas. Disse ainda que reconhece
os problemas, mas que estão trabalhando para a solução. De que país essa gente
estava falando eu não sei”, afirma Sônia Bone Guajajara, da Apib, presente no
Fórum.
Conforme a Guajajara, a
vice-presidente do Fórum, Ida Nicolaisen, disse que ficou espantada com as
denúncias dos indígenas do Brasil. E surpresa. “O governo federal vende aqui
fora que está tudo bem, os povos vivem em harmonia com o projeto governamental.
Para o governo brasileiro foi um constrangimento, porque inclusive eles tinham
acabado de lançar os jogos mundiais”, complementa Sônia. Antes do bloco da
tarde, nesse que é o 14º Período de Sessões do Fórum, o governo brasileiro
lançou os Jogos Mundiais Indígenas, previsto para acontecer no 2º semestre, em
Palmas (TO).
“A nossa fala contradiz
tudo o que eles estão mostrando. Para os participantes também ficou evidente
essa manipulação. A vice-presidente afirmou com todas as letras que a situação
do Brasil não pode mais uma vez ser deixada de lado, que a ONU precisa
pressionar o governo a demarcar terras, melhorar a situação”, ressalta Sônia.
Demarcações
Para Eliseu Guarani Kaiowá, membro da delegação, as demarcações são pauta central dos povos indígenas no Mato Grosso do Sul e no país. “É duro viver entre o veneno da soja e as balas dos pistoleiros; entre a cerca e o asfalto, enquanto o governo diz que está tudo bem. Faz clima de festa. Um desrespeito isso”, diz.
Para Eliseu Guarani Kaiowá, membro da delegação, as demarcações são pauta central dos povos indígenas no Mato Grosso do Sul e no país. “É duro viver entre o veneno da soja e as balas dos pistoleiros; entre a cerca e o asfalto, enquanto o governo diz que está tudo bem. Faz clima de festa. Um desrespeito isso”, diz.
Eliseu
já andou meio mundo. Passou por vários países da Europa, América Latina, foi
aos Estados Unidos outras vezes. Em seu tekoha – “lugar onde se é”, para os Guarani
Kaiowá –, o Kurusu Ambá, vive com a cabeça a prêmio. É assim que funcionam as
coisas para os indígenas que lutam por terra no cone sul do Mato Grosso do Sul
– e é assim em praticamente todo o país. “Podem me matar quando eu voltar,
posso nem ver as terras demarcadas, mas vamos lutar. Na ONU podemos denunciar
fora do país, para mostrar a nossa realidade, o que vivemos dia a dia”, afirma
Eliseu. A PEC 215, as reintegrações de posse, os assassinatos e as lideranças
desaparecidas foram outros pontos abordados.
De acordo com o
pronunciamento da delegação de lideranças indígenas do Brasil, 18 terras
indígenas estão na mesa da presidente Dilma Rousseff aguardando homologação. Já
na mesa do ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, 12 terras, sem nenhum
impedimento jurídico, aguardam a publicação da Portaria Declaratória. “Então
não vamos acreditar que este governo tem comprometimento conosco porque no
último dia 19 de abril homologou três terras na Amazônia, sendo que
uma foi obrigada pelas condicionantes da UHE Belo Monte”, pontua Sônia Guajajara.
O Fórum segue até a
próxima sexta-feira (31) e as exposições serão voltadas ao acesso à Justiça dos
povos indígenas.
Fonte: Apib