Por Flávia Villela*
A Articulação Internacional
dos Atingidos pela Vale divulgou o "Relatório de
Insustentabilidade da Vale 2015", com denúncias de violações de direitos humanos
e ambientais cometidas pela empresa de mineração no Brasil e em mais oito
países nos quais opera.
O economista Gabriel
Strautman, do Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul, explicou que o
documento se opõe ao Relatório de Sustentabilidade da Vale. “O que
mostramos aqui são testemunhos de que o discurso de responsabilidade
socioambiental da empresa não se verifica na prática. Mostramos aqui os
impactos que a empresa oculta em seu relatório”, afirmou.
Os casos mais graves incluem
trabalho em condições análogas às de escravo, como o que foi identificado em
fevereiro, em Itabirito, Minas Gerais, que recentemente foi objeto de denúncias
ao Ministério Público. A empresa também é acusada de espionagem. “Em 2013, um
ex-funcionário revelou que a Vale infiltrava pessoas em movimentos de oposição
às ações da empresa e grampeava telefones, não apenas de representantes de
movimentos sociais, mas também de jornalistas”, informou Strautman.
“Também tiveram acesso a dados
da Infoseg [rede nacional de Integração de Informações de Segurança Pública,
Justiça e Fiscalização], levantamento de ficha criminal, dados da Receita
Federal de representantes dos movimentos, dados que são prerrogativas apenas de
agentes do Estado e que a empresa só teria conseguido mediante pagamento de
propina e, portanto, de corrupção”, acrescentou o economista. Segundo ele, a
denúncia está sendo investigada pelo Ministério Público e pelo Senado.
A cacique Katia, do povo
gavião Kyikatêjê, no Pará, disse que a atuação da Vale na região da Terra
Indígena Mãe Maria secou os igarapés e vem devastando a fauna e flora
gradualmente. A Estrada de Ferro Carajás passa pela reserva, levando minério da
Vale.
Saiba Mais
“A castanha secou, por causa
do pó de minério, nossas sementes estão em extinção. Os veículos e trens que
passam pela reserva espantam a caça e poluem o meio ambiente. Estamos de mãos
atadas, pedindo socorro. Não sabemos mais o que fazer. Nossa terra está toda
cortada. Estou cansada de ser destratada, não ter voz, de ser humilhada. [Eu]
me preocupo com meu povo, luto pela história do meu povo. Estou pedindo
justiça. Que parem de fazer o que estão fazendo”, pediu Katia.
No Brasil, a Vale tem
empreendimentos nos estados do Maranhão, do Pará, de Minas Gerais, do Espírito
Santo e do Rio de Janeiro.
Em São Luís e em Vitória, no
Rio de Janeiro e em Piura, no Peru, e Perak, na Malásia, pescadores afirmam que
os processos de embarque do minério e a contaminação das águas em portos da
Vale comprometem sua sobrevivência. O pescador Jaci do Nascimento, morador de
Santa Cruz, na zona oeste do Rio, disse que a luta da comunidade para a saída
siderúrgica da TKCSA, da qual a Vale é acionista, dura quase dez anos. “Está tudo
poluído, não temos mais pescado sadio para comer na Baía de Sepetiba. Os
esgotos da TKCSA vão parar nos rios que vão para o mar.”
A TKCSA informou que a
empresa tem o menor índice de emissão de carbono entre as siderúrgicas no mundo
em função da moderna tecnologia de reaproveitamento de gases e vapores para
geração de energia, que garante maior eficiência ambiental da fábrica.
Segudo a TKCSA o declínio da pesca na Baía de Sepetiba acontece desde a década
de 1970 por inúmeros fatores que não tem qualquer influência da empresa e que
todas as medidas compensatórias para pesca foram estabelecidas pelo Instituto
Estadual do Ambiente e quitadas pela empresa.
Segundo o relatório, a
siderúrgica elevou em 76% as emissões de gás carbônico no Rio de Janeiro e,
desde 2010, funciona sem licenciamento ambiental.
Moradora do município
mineiro de Catas Altas, Sandra Vita enumerou vários problemas enfrentados pela
comunidade e o descaso da empresa. A região abriga cinco minas da Vale.
“Enfrentamos problemas respiratórios, casas com rachaduras, fluxo grande de
carros, muita poluição sonora e ambiental, e nossa luta é muito desigual,
solitária. A Vale passa por cima da gente como se fosse um trator. Nós só
ficamos com o ônus, pois o bônus é todo deles”, afirmou Sandra, que é da
Associação Comunitária Nascentes e Afluentes da Serra do Caraça.
“É exaustivo lutar contra propinas, coerções. Vemos gente humilde, carente, aceitar R$ 10 mil [para sair de sua casa], que acha que esse dinheiro vai durar para sempre", acrescentou.
Até o fechamento da matéria,
a Vale não havia se pronunciado sobre as denúncias do relatório.
*Fonte: Agência Brasil - Edição: Stênio Ribeiro -Matéria alterada às 9h04 do dia 17/04/15 para acréscimo de informação. Charge: Latuff (não incluída na matéria original)