domingo, 3 de agosto de 2014

Festival de Cinema da Amazônia em Londres: “Índios Munduruku – Tecendo a Resistência”


Por Latin America Bureau (Londres)*

Em breve será lançado um documentário sobre os índios Munduruku, habitantes da região do rio Tapajós, na Amazônia brasileira. O filme, dirigido por Nayana Fernandez, uma das editoras do Latin America Bureau, foi exibido como pré-estréia no dia 11 de julho em Londres, na primeira edição do Festival de Cinema da Amazônia da cidade.

Em setembro de 2013, Sue Branford e Nayana Fernandez, editoras do site Latin America Bureau (LAB) , fizeram uma visita a Jacareacanga, na região do Rio Tapajós, onde em junho os índios da etnia Munduruku fizeram três cientistas reféns por um curto período de tempo. Os índios acusavam o governo de não consultar a população local antes de dar seguimento aos estudos ‘biológicos’ para a preparação da construção de usinas hidroelétricas no rio. A construção dessas usinas terá um enorme impacto no fluxo da água, na população de peixes e nas comunidades locais.

Sue e Nayana entrevistaram duas mulheres de uma das aldeias dos índios Munduruku que haviam estado nos protestos contra a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu: “O impacto desses projetos será muito negativo para nós. O governo continua dando continuidade a esses projetos e todos os dias avançam um pouco mais. Todos os dias eles chegam com coisas diferentes. No momento há mais policiais e soldados do exército ao redor das aldeias. Eles acham que assim podem nos intimidar, mas nós nunca seremos intimidados porque estamos aqui para lutar pelo nosso povo, nossas crianças e pela natureza”, disse Rosenilda Munduruku.

Semanas mais tarde, as editoras do LAB voltaram a Jacareacanga para participar de uma das supostas ‘audiências públicas’ organizadas pelo governo para apresentação e debate dos projetos hidrelétricos – naquele caso em particular, da usina São Manuel. Lá, descobriram que o evento era bem diferente do que fora proposto aos habitantes locais. A história completa da viagem pode ser lida em português aqui ou em inglês aqui.

Alguns meses mais tarde, em fevereiro de 2014, Nayana teve a oportunidade de voltar a visitar Jacareacanga e algumas aldeias do alto do rio Cururu, onde pode registrar mais da vida dos indígenas daquela região. Ao retornar à Inglaterra, ela dedicou muitas horas de trabalho editando todas aquelas imagens, que resultou em um belíssimo documentário dirigido e produzido por ela. “Índios Munduruku – Tecendo a Resistência” retrata a vida em uma aldeia Munduruku, onde as crianças crescem com muita liberdade mas participam junto com os adultos das tarefas tradicionais, que continuam sendo praticadas em comunidade. O filme também mostra o crescimento da resistência frente aos planos do governo de implantação das usinas hidrelétricas no rio Tapajós e alguns de seus afluentes, até mesmo entre as mulheres que tradicionalmente não lutam e que agora j´já são conhecidas como guerreiras.

Nayana lembra que a primeira vez que ela conheceu melhor a situação dos Munduruku foi quando ela editou um breve vídeo enviado pelos correspondentes do LAB: Bruna Rocha, Raoni Valle e Claide Moraes. O vídeo mostrava o ataque feito pela Policia Federal e a Força de Segurança Nacional à Aldeia Teles Pires, no norte do Mato Grosso em Novembro de 2012, em que diversas pessoas foram feridas e um homem -Adenilson Kirixi Munduruku- foi morto. Os videos e a reportagem sobre o caso podem ser acessados aqui (português) ou aqui (inglês)

Algumas das imagens e a entrevista com o cacique da aldeia Restinga, Lamberto Paygu, foram contribuídas por parceria com o grupo Espanhol de Minguarana Producciones. Vale a pena ver o web-documentário feito por eles sobre as consequências e preocupação da população local,tanto dos indígenas Munduruku, como as populações tradicionais, frente aos planos de construção das hidrelétricas do Complexo Tapajós. O projeto de video que se chama “Quem Matou os Tapajós?”, está disponível online, e conta com o apoio e solidariedade de todos que quiserem contribuir para o registro tanto de imagens como de informações diversas sobre essa longa história de transformação que estamos prestes a presenciar.

O pré-lançamento de “Índios Munduruku – Tecendo a Resistência” aconteceu na noite de 11 de julho, na primeira edição do “Amazon Film Festival”, único festival de cinema dedicado a Amazônia em Londres. Na sequência de sua projeção, outro importante documentário sobre as mazelas do norte do país foi apresentado, “Toxic: Amazon”, por Felipe Milanez, sobre o assassinato do casal de defensores da floresta José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo. O filme está disponível online, no site da Vice.

Para fechar a noite das projeções, as jornalistas e pioneiras do LAB, Sue Brandford e Jan Rocha também participaram do debate após os dois filmes, onde conversaram com uma platéia atenta e preocupada aos problemas da Amazônia. Para saber mais detalhes do festival  clique aqui.

O lançamento de “Índios Munduruku – Tecendo a Resistência” será feito na web, depois do termino de uma campanha de financiamento coletivo que começara em poucos dias para ajudar na finalização do video e para desenvolver uma próxima etapa do projeto: um portal online para, por e sobre essa população indígena que atualmente vive ameaçada. O documentário terá também uma versão em português para os brasileiros, subsequentemente será traduzido a outras línguas como espanhol, francês, italiano.

*Nayana nasceu em São Paulo e mora na Europa há mais de 14 anos, onde se graduou em comunicação audio-visual e fez um mestrado de Antropologia Social. Recentemente ela começou a produzir vídeos de forma independente e esse trabalho sobre a questão que os povos ao longo do rio Tapajós vem vivendo é o seu primeiro maior projeto audio-visual. Tradução feita gentilmente para o blog Língua Ferina.
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