Por Latin America Bureau (Londres)*
Em breve será lançado um documentário sobre os
índios Munduruku, habitantes da região do rio Tapajós, na Amazônia brasileira.
O filme, dirigido por Nayana Fernandez, uma das editoras do Latin America
Bureau, foi exibido como pré-estréia no dia 11 de julho em Londres, na primeira
edição do Festival de Cinema da Amazônia da cidade.
Em setembro de 2013, Sue Branford e Nayana
Fernandez, editoras do site Latin America Bureau (LAB) , fizeram uma visita a Jacareacanga, na região do Rio Tapajós, onde em junho os
índios da etnia Munduruku fizeram três cientistas reféns por um curto período
de tempo. Os índios acusavam o governo de não consultar a população local antes
de dar seguimento aos estudos ‘biológicos’ para a preparação da construção de
usinas hidroelétricas no rio. A construção dessas usinas terá um enorme impacto
no fluxo da água, na população de peixes e nas comunidades locais.
Sue e Nayana entrevistaram duas mulheres de uma
das aldeias dos índios Munduruku que haviam estado nos protestos contra a
construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu: “O impacto desses
projetos será muito negativo para nós. O governo continua dando continuidade a
esses projetos e todos os dias avançam um pouco mais. Todos os dias eles chegam
com coisas diferentes. No momento há mais policiais e soldados do exército ao
redor das aldeias. Eles acham que assim podem nos intimidar, mas nós nunca
seremos intimidados porque estamos aqui para lutar pelo nosso povo, nossas
crianças e pela natureza”, disse Rosenilda Munduruku.
Semanas mais tarde, as editoras do LAB voltaram a
Jacareacanga para participar de uma das supostas ‘audiências públicas’
organizadas pelo governo para apresentação e debate dos projetos hidrelétricos
– naquele caso em particular, da usina São Manuel. Lá, descobriram que o evento
era bem diferente do que fora proposto aos habitantes locais. A história completa
da viagem pode ser lida em português aqui ou em inglês aqui.
Alguns meses mais tarde, em fevereiro de 2014,
Nayana teve a oportunidade de voltar a visitar Jacareacanga e algumas aldeias
do alto do rio Cururu, onde pode registrar mais da vida dos indígenas daquela
região. Ao retornar à Inglaterra, ela dedicou muitas horas de trabalho editando
todas aquelas imagens, que resultou em um belíssimo documentário dirigido e
produzido por ela. “Índios Munduruku –
Tecendo a Resistência” retrata a vida em uma aldeia Munduruku, onde as crianças crescem
com muita liberdade mas participam junto com os adultos das tarefas tradicionais, que continuam sendo praticadas em
comunidade. O filme também mostra o crescimento da resistência
frente aos planos do governo de implantação das usinas hidrelétricas no rio
Tapajós e alguns de seus afluentes, até mesmo entre as mulheres que
tradicionalmente não lutam e que agora j´já são conhecidas como guerreiras.
Nayana lembra que a primeira vez que ela conheceu
melhor a situação dos Munduruku foi quando ela editou um breve vídeo enviado
pelos correspondentes do LAB: Bruna Rocha, Raoni Valle e Claide Moraes. O vídeo
mostrava o ataque feito pela Policia Federal e a Força de Segurança Nacional à
Aldeia Teles Pires, no norte do Mato Grosso em Novembro de 2012, em que
diversas pessoas foram feridas e um homem -Adenilson Kirixi Munduruku- foi
morto. Os videos e a reportagem sobre o caso podem ser acessados aqui (português) ou aqui (inglês)
Algumas das imagens e a entrevista com o cacique
da aldeia Restinga, Lamberto Paygu, foram contribuídas por parceria com o grupo
Espanhol de Minguarana Producciones. Vale a pena ver o web-documentário feito
por eles sobre as consequências e preocupação da população local,tanto dos
indígenas Munduruku, como as populações tradicionais, frente aos planos de
construção das hidrelétricas do Complexo Tapajós. O projeto de video que se
chama “Quem Matou os Tapajós?”, está
disponível online, e conta com o apoio e solidariedade de todos que quiserem
contribuir para o registro tanto de imagens como de informações diversas sobre
essa longa história de transformação que estamos prestes a presenciar.
O pré-lançamento de “Índios Munduruku – Tecendo a Resistência” aconteceu na noite de 11 de
julho, na primeira edição do “Amazon Film Festival”, único festival de cinema
dedicado a Amazônia em Londres. Na sequência de sua projeção, outro importante
documentário sobre as mazelas do norte do país foi apresentado, “Toxic: Amazon”, por Felipe Milanez,
sobre o assassinato do casal de defensores da floresta José Claudio Ribeiro da
Silva e Maria do Espírito Santo. O filme está disponível online, no site da Vice.
Para
fechar a noite das projeções, as jornalistas e pioneiras do LAB, Sue Brandford
e Jan Rocha também participaram do debate após os dois filmes, onde conversaram
com uma platéia atenta e preocupada aos problemas da Amazônia. Para saber mais
detalhes do festival clique aqui.
O lançamento de “Índios Munduruku – Tecendo a Resistência” será feito na web, depois do
termino de uma campanha de financiamento coletivo que começara em poucos dias
para ajudar na finalização do video e para desenvolver uma próxima etapa do
projeto: um portal online para, por e sobre essa população indígena que
atualmente vive ameaçada. O documentário terá também uma versão em português
para os brasileiros, subsequentemente será traduzido a outras línguas como
espanhol, francês, italiano.