Organizações indigenistas e dos servidores públicos federais estão fazendo duras críticas a criação do Instituto Nacional de Saúde Indígena (INSI), iniciativa do governo federal para atendimento da saúde dos povos indígenas. O novo órgão teria um “novo modelo institucional”, em que a gestão da saúde passaria a ser feito por uma “entidade civil de direito privado”, administrado por meio de um contrato de gestão a ser firmado com a União.
O Conselho Indígena de Roraima (CIR) emitiu nota no dia 18 de agosto em que critica a
“privatização da saúde indígena no Brasil”. O CIR considera que não houve o
tempo necessário para a discussão com as lideranças das comunidades sobre esta
proposta, que está sendo submetida à aprovação dos Conselhos Distritais de
Saúde Indígena no estado de Roraima. “É
importante destacar que esta proposta nunca foi discutida com as organizações
indígenas (...)”, afirma a entidade.
A Confederação dos Trabalhadores no
Serviço Público Federal (Condsef) afirma
que a discussão para criação do INSI vem ocorrendo apenas no interior do
governo e que “(...) nenhuma entidade representativa de servidores ainda foi
chamada para o diálogo.” A entidade critica o fato do INSI assumir basicamente as mesmas atribuições da
Sesai (Secretária da Saúde Indígena) o
que está intrigando e preocupando os servidores efetivos lotados na secretaria.
“A proposta parece ser uma tentativa
de terceirizar o atendimento à saúde indígena. A Sesai conta com mais de 2.200
servidores efetivos que ficam em situação de incerteza uma vez que o modelo de
fundação estatal não contempla a permanência de servidores concursados em seus
quadros funcionais”, afirma a entidade em seu sítio.
Para a Condsef parece evidente que a intenção do governo é extinguir a Sesai e
repassar a saúde indígena para a iniciativa privada, que passaria a contratar
trabalhadores mais precarizados para atender à população indígena.
Em matéria em seu sítio,
o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) informa que, a partir de um documento
obtido pela entidade que a proposta de criação do novo instituto partiu do
Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) como forma do governo
federal evitar a realização do concurso público para a saúde indígena.
Para o Cimi, o objetivo seria
desregulamentar o setor, introduzindo o processo de terceirização e
privatização. Os termos do INSI seguem os moldes da Agência Brasileira de
Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil), em 2004, e da Agência
Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater), instituída pela
presidente Dilma Rousseff no final de maio deste ano. “De serviço público essas
instituições não tem nada, apenas um contrato de gestão com o poder público”,
critica fonte do governo federal consultada pelo Cimi. Em reuniões no
Ministério do Planejamento, esta fonte chegou a ouvir que o concurso para a
saúde indígena “jamais vai sair”.
Em Ação Civil Pública, o Ministério
Público Federal e o Ministério Público do Trabalho pedem a realização imediata
de concurso público para a Sesai. A ação
civil pública, em suas intenções, combate a precarização da saúde indígena e
exige a contratação de servidores para a efetiva implantação efeitva dos
Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI). "Há uma meia dúzia de velhos
funcionários em desvio de função tentando tocar o barco. Quantos profissionais
o Ministério da Saúde contratou para os DSEI's desde a criação da Sesai em 2010?
Zero”, afirma a fonte.
“Ironicamente a resposta do Ministério
da Saúde é terceirizar completamente o setor, ficando responsável apenas pela
administração do contrato de gestão”, ataca fonte do governo federal. Com
efeito, a proposta do INSI está pronta há tempos e não teve seus termos e
intenções discutidos na 5a Conferência Nacional de Saúde Indígena, ocorrida em
Brasília no início de dezembro do ano passado. “Dizer que os índios estão sendo
consultados neste processo é uma forma perversa de manipulação”, alerta.
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