sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Planalto desautoriza Incra a desapropriar terras

Por Renata Mariz* 

O Palácio do Planalto determinou a derrubada de um ato editado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) que, entre outras medidas, estabelece regras para a desapropriação de terras nas quais autoridades flagrarem trabalhadores em condições análogas às de escravos, para que sejam transformadas em assentamentos rurais.

Depois de ser pressionado pela bancada ruralista, o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, determinou à Advocacia-Geral da União (AGU) que conteste a Instrução Normativa 83/ 2015, publicada no início deste mês no Diário Oficial da União. A AGU deve se manifestar nos próximos dias. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) promete reagir caso o ato seja anulado.

— Se, a pedido da Casa Civil, a AGU derrubar essa instrução, será um sinal de que o governo não tem comprometimento com os movimentos sociais. Aí, caberá ao MST verificar de que forma protestará contra essa medida. Os órgãos do governo que tomem suas decisões, o movimento responderá — afirmou Alexandre Conceição, integrante da coordenação nacional do MST.

A bancada ruralista também ameaça intensificar a pressão sobre o governo — mas, nesse caso, se a instrução normativa do Incra não for anulada em breve. O deputado Alceu Moreira (PMDB-RS), da Frente Parlamentar da Agropecuária, que se reuniu com Mercadante na semana passada, conta que a bancada vai esperar uma decisão até a próxima quarta-feira. Ele disse que, se isso não acontecer, o ministro da Casa Civil será convocado para prestar esclarecimentos na Comissão de Agricultura da Câmara.

— A intenção era aprovar essa convocação esta semana. Falamos isso abertamente para Mercadante. Mas, para não criar constrangimento, nós adiamos para a semana que vem. O requerimento (de convocação) será aprovado com toda a certeza na comissão se a AGU não sustar essa instrução normativa — alertou Moreira.

Segundo o deputado, o Incra não tem competência para aplicar uma punição tão grave como desapropriar ou expropriar terras. Esse tipo de medida, defende o parlamentar, tem de ser feita por lei, via Congresso. Outra crítica de Moreira diz respeito ao termo usado na instrução normativa: “trabalhadores em condições análogas às de escravos”. Para ele, trata-se de algo “genérico demais”, que serve apenas para atender aos “interesses ideológicos” do Incra.

Disputa fica acirrada
Caso as pressões sobre o Planalto não surtam efeito, a bancada ruralista planeja derrubar o ato do Incra por meio de um decreto legislativo. Para Alexandre Conceição, do MST, a instrução apenas reforça e detalha o que está previsto na Constituição Federal, no que diz respeito à função social da terra. Flagrantes de trabalho escravo e agressão ao meio ambiente, na avaliação dele, devem levar à desapropriação imediata.

Segundo Alexandre, o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff foi marcado pela criação de instrumentos legais que dificultaram a destinação de terras para a reforma agrária. Ele reivindica o assentamento de 120 mil famílias que estão “sob a lona preta” há 12 anos, esperando terras.

Procurado, o Incra não respondeu aos questionamentos do GLOBO sobre a possibilidade de ser desautorizado pela Casa Civil. A AGU também não se pronunciou sobre o tema.

Fonte: O Globo - RJ/28/08
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