Greenpeace expõe mais um
caso de fraude em plano de manejo da Amazônia para ‘lavar’ origem suja de
madeira.
Caminhão de toras trafega a noite, quando a fiscalização é menos frequente (© Otávio Almeida / Greenpeace) |
O ipê é uma das espécies mais valiosas da Amazônia. Normalmente,
é possível encontrar 1 árvore de ipê a cada 3-5 hectares (ou 3-5 campos de
futebol). No entanto, um plano de manejo do Pará apresentou um inventário
florestal em que os ipês nascem aos borbotões, com um volume 1300% maior do que
a média encontrada para a espécie!
A Agropecuária Santa
Efigênia, situada no município de Uruará-PA, superestimou a presença de Ipê no
inventário florestal da área com o objetivo de gerar créditos excedentes para
esquentar madeira ilegal. Os créditos excedentes podem ser utilizados para
legalizar madeira extraída, no caso Ipês, de áreas sem autorização, como terras
indígenas e unidades de conservação, ou podem ser vendidos para as serrarias da
região que utilizam esses créditos com a mesma finalidade. Nos dois casos, é
crime ambiental previsto em lei.
Em 2014, uma autorização
de exploração florestal (Autef) emitida pela Sema para a Santa Efigênia aprovou
cerca de 12 mil metros cúbicos de ipê, o equivalente a cerca de 600 caminhões
de madeira. De acordo com um parecer técnico da Universidade de São Paulo, que
analisou o inventário do plano, o número de indivíduos de Ipê encontrados na
área licenciada foi de 1,01 árvores por hectare, e, em relação ao volume, o
valor foi de 5,75 m³/hectare. A literatura científica aponta, no entanto, que a
densidade média de indivíduos desta espécie na Amazônia fica entre 0,2 e 0,4
árvores por hectare, e, em termos de volume por hectare, esse valor
dificilmente supera 0,4 m, valores bem mais baixos do que o inventariado no
plano.
“A exploração ilegal de
madeira causa grave degradação da floresta e abre caminho para a destruição da
biodiversidade e violência contra a população local. As florestas não podem
mais ser destruídas se queremos reduzir as mudanças climáticas e garantir água
para nosso futuro”, diz Marina Lacôrte, da campanha da Amazônia do Greenpeace.
Desde o ano passado, a
campanha tem revelado fraudes como a do plano de manejo Santa Efigênia. Em
outubro, uma investigação que contou com a utilização de rastreadores por GPS
monitorou rotas de caminhões transportando madeira de áreas sem autorização até
as serrarias de cidades do oeste do Pará, como Santarém, Uruará e Placas. Uma
dessas serrarias que receberam a madeira ilegal foi a Comercial de Madeiras
Odani Ltda, de Placas, no Pará, que recebeu parte dos créditos justamente do
plano de manejo da Agropecuária Santa Efigênia.
A denúncia levou a
Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (Semas-PA) a
realizar uma fiscalização no plano de manejo que confirmou as irregularidades
na área. Na ocasião, a equipe não apenas concluiu que houve fraude no
inventário florestal – especialmente para o Ipê – como também recomendou a
suspensão do plano e autuou a empresa.
A vistoria e as multas
não impediram a Agropecuária Santa Efigênia de continuar movimentando os créditos
excedentes, o que indica que madeira ilegal “lavada” com esses créditos entrou
no mercado nacional e internacional: 99% do volume de ipê autorizado foi
comercializado. Essa madeira foi destinada a diversas serrarias localizadas nos
municípios de Uruará e Placas, onde o monitoramento por satélite mostra uma
enorme quantidade de áreas degradadas no entorno. Inclusive, os alertas de
degradação foram detectados na mesma época em que ocorreu a comercialização dos
créditos: de junho a dezembro de 2014.
A Fazenda Santa Efigênia
é cortada por uma estrada que adentra a Terra Indígena (TI) Cachoeira Seca, do
povo Arara. Boa parte da TI, inclusive os arredores dessa estrada, já sofreu e
continua sofrendo inúmeras invasões por parte de madeireiros. Imagens de satélite
registram nessas áreas um intenso processo de degradação típico desse tipo de exploração.
Fotografias realizadas durante sobrevoo do Greenpeace em há poucas semanas
confirmam a retirada de madeira de dentro do território indígena.
Mercado internacional
Os principais destinos
internacionais da madeira amazônica são Estados Unidos, União Europeia (UE),
China e Israel. Em 2013, só os países da UE importaram, em produtos de madeira
tropical provenientes da Amazônia Brasileira, o equivalente a 148 milhões de dólares.
A partir das denúncias feitas pelo Greenpeace desde o ano passado, diversas empresas
europeias cancelaram contratos de importação com madeireiras brasileiras.
“A exploração predatória
é o primeiro passo para o desmatamento total dessas áreas. Já passou da hora de
dar um basta a essa situação para acabarmos de vez com o desmatamento”, afirma
Marina Lacôrte, do Greenpeace. “O governo brasileiro precisa revisar
urgentemente todos os planos de manejo aprovados desde 2006 para tirar de
circulação créditos fraudados. Este é o primeiro passo para uma reforma robusta
no sistema de controle de madeira”, completa.
Veja
aqui o site da campanha Chega de madeira ilegal
Fonte: Greenpeace Brasil