O número de índios
assassinados no Brasil voltou a crescer no ano passado. Após registrar uma
pequena diminuição no número de mortes violentas em 2013, quando foram
assassinados 53 índios contra os 60 casos de 2012, o Conselho Indigenista
Missionário (Cimi) mostra um novo aumento da violência, identificando 70
vítimas de homicídios.
Os números constam do último
relatório Violência Contra os Povos Indígenas, divulgado nesta
sexta-feira (19) pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi). No
documento, a ornização, vinculada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB), chama a atenção para a hipótese dos números de 2014 serem ainda
maiores.
Com base na Lei de Acesso à
Informação ( 12.527/2011), o Cimi obteve da Secretaria Especial de Saúde
Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde, informações sobre 138 assassinatos
ocorridos no ano passado. É um resultado maior que os 97 casos confirmados pela
Sesai, em 2013. Os dados da Sesai indicam que, como ocorre desde 2003, o Mato
Grosso do Sul foi o estado com maior número de assassinatos de índios – 41 dos
casos.
Apesar de os dados da Sesai
serem oficiais, o Cimi prefere trabalhar com as informações transmitidas por
suas próprias equipes espalhadas pelo país e a por notícias veiculadas pela
imprensa. Os dados próprios do Cimi apontam que 25 dos 70 casos aconteceram no
Mato Grosso do Sul. Também foram ocorreram casos na Bahia (15); no Amazonas
(10) e em Pernambuco (4). Minas Gerais, Pará e Rio Grande do Sul registraram
três casos cada. Tocantins e Mato Grosso dois cada, enquanto em Goiás, Santa
Catarina e São Paulo houve um registro identificado pelo conselho indigenista.
Das 70 vítimas, 54 eram do
sexo masculino e 17 do sexo feminino. Dessas, dez tinham entre dois e 16 anos.
Entre as vítimas infantis estão Micheli Gonçalves Benites, de 12 anos. Moradora
da aldeia Bororó, em Dourados (MS), a adolescente foi encontrada morta,
atingida por golpes de faca e foice . O índio Tiago Ortiz Machado, também de
Dourados, foi encontrado morto. O adolescente foi assassinado por um segurança
particular enquanto caminhava com o irmão e um amigo. O agressor afirma que foi
atacado, mas testemunhas garantem que o segurança os abordou violentamente
apenas porque eles carregavam uma barra de ferro, diz o Cimi.
A violência e as violações
contra os povos indígenas se expressam também no aumento do número de casos de
suicídios, mortes por desassistência à saúde, mortalidade na infância, invasões
e exploração ilegal de recursos naturais e de omissão e morosidade na
regularização de suas terras. Segundo as informações da Sesai, 135 índios se
suicidaram em 2014. É o pior resultado registrado pelo Cimi em quase 30 anos.
O dado mais chocante,
segundo o Cimi, diz respeito a morte, por diversas causas, de 785 crianças de
até 5 anos – número superior a 2013, quando foram registrados 693 casos em todo
o país. O mais alto índice de mortalidade infantil ocorreu entre os xavantes,
de Mato Grosso. Entre eles, a taxa de mortalidade chegou a 141,64 a cada grupo
de mil pessoas.
“ É fácil constatar que a
violência contra os índios aumentou e muito. A gente nunca sabe se a maior
violência é a morte brutal ou se é o outro tipo de violência que registramos
todos os anos, as violências contra o patrimônio histórico, o racismo, a
morosidade do Poder Público em demarcar terras indígenas e cumprir o que
estabelece a lei”, disse a antropóloga Lúcia Helena Rangel, coordenadora da
pesquisa.
*Fonte:Agência
Brasil - Edição:Marcos Chagas