O presidente da Comissão de Direitos
Humanos e Minorias da Câmara Federal, deputado Paulo Pimenta, esteve nesta
quinta-feira, 25, nas áreas retomadas pelos Guarani e Kaiowá no cone sul do
Mato Grosso do Sul e confirma o desaparecimento de duas crianças após o ataque
de 30 indivíduos armados, em ação paramilitar, contra o acampamento instalado
pelos indígenas na fazenda Madama, incidente no tekoha – lugar onde se é –
Kurusu Ambá.
De acordo com o parlamentar, mais ataques podem ocorrer nas
próximas horas.
Em mensagem dirigida ao ministro da Justiça José Eduardo Cardozo,
o presidente da Comissão pediu de forma urgente a presença da Força Nacional na
região. Cardozo afirmou que esperava pela formalização da solicitação por parte
do governador do estado, Reinaldo Azambuja. No entanto, um documento enviado
por Azambuja em maio já pedia o apoio das tropas federais para a manutenção da
segurança na região. Na base da Força Nacional, Pimenta ouviu que a patrulha só
poderia ser realizada com ordens do ministro da Justiça. Uma última informação,
repassada pelo ministro de Direitos Humanos Pepe Vargas, dá conta de que a
autorização teria sido emitida por Cardozo na noite desta quinta.
Conforme o presidente da Comissão, o ataque ao acampamento de
Kurusu Ambá foi coordenado pelo arrendatário da fazenda Madama, um indivíduo
chamado Aguinaldo. O proprietário, que reside no Paraná, estava em negociação
com o procurador da república Ricardo Pael, presente na visita da Comissão,
para uma saída pacífica e acordada junto aos Guarani e Kaiowá. Parte desse
diálogo garantiu a retirada de animais e pertences da fazenda, momento usado
por Aguinaldo para realizar o ataque. Como ele não é o proprietário da fazenda,
qualquer ação de reintegração de posse ficaria inviável uma vez que o
proprietário decidiu pelo acordo.
Enquanto eram atacados a tiros, os cerca de 60 indígenas do
acampamento se dispersaram, em fuga. Na correria, as crianças J.M, de 11 anos,
e D.P, de 10 anos, desapareceram. Encontrar estas crianças é um dos objetivos
da permanência da Comissão de Direitos Humanos no MS. Barracos, roupas e demais
objetos dos indígenas foram incendiados. No entanto, os Guarani e Kaiowá não
saíram da fazenda Madama, lugar onde a liderança Xurite Lopes foi assassinada,
em 2007, com tiros pelas costas. Além de compor o território tradicional
reivindicado pelos Guarani e Kaiowá, a propriedade carrega em si esse episódio
trágico ao povo.
Guaivyry
Pimenta ressalta que a ofensiva paramilitar contra os Guarani e
Kaiowá de Kurusu Ambá pode se repetir em outras duas retomadas ocorridas nesta
quarta-feira, 24, no tekoha Guaivyry, onde o parlamentar também esteve. De
acordo com o Pimenta, apenas os caseiros estiveram nas retomadas para retirar
pertences. Os indígenas não ocuparam as casas. Os fazendeiros, por sua vez, não
apareceram nas propriedades, mas conforme Pimenta apurou passaram o dia
reunidos em Amambai. Escolas já funcionam nos barracos de lona e dos locais os
Guarani e Kaiowá afirmam que só saem mortos.
Na noite desta quinta-feira, indígenas das duas retomadas do
Guaivyry comunicaram as autoridades que homens armados estão se concentrando em
propriedades vizinhas aos acampamentos. Tiros foram disparados por cima das
moradias improvisadas, o que conforme o histórico de todos os ataques contra os
Guarani e Kaiowá sinalizam um aviso para que saíam antes de uma ofensiva mais
violenta. A informação reforça a preocupação do presidente da Comissão de
Direitos Humanos sobre novos ataque.
Fonte: Cimi
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