Após reunião com membros do governo federal na
última semana, os pescadores de Altamira que protestam contra o barramento do
Xingu e a ausência de diálogo e indenização para a categoria, foram comunicados
que o prazo para análise das demandas será de 30.
De acordo com Lucio Souza, representante da Colônia
de Pescadores de Altamira, esta demora é uma afronta e pode colocar em risco a
vida de ribeirinhos que moram em áreas de impacto das explosões das obras de
Belo Monte. Há poucos dias, a Colônia recebeu a denúncia de uma senhora que
pescava em frente a sua casa, quando a detonação num local lá perto soltou um
pedregulho que quase a atingiu. “Isso é um perigo, a mulher podia ter morrido.
Mas até agora a Norte Energia não apresentou nenhuma proposta para os
ribeirinhos que moram nas ilhas próximas às explosões. É muito perigoso ficar,
mas também não da pra sair, eles não tem pra onde ir. É um absurdo o governo
pedir um mês pra responder questões que poderia resolver em uma semana. É um
desrespeito!”, diz Lucio.
Nesta segunda, 01, o acampamento dos pescadores nas
cercanias da ensecadeira do canteiro de obras Pimental completou 15 dias sem
nenhum contato das autoridades federais, mas com recrudescimento de ações de
pressão por parte do Consorcio Construtor Belo Monte (CCBM). Assediados
constantemente pelos funcionários da empresa, os pescadores já mudaram cinco
vezes o local do acampamento, que começou na ilha do Jatobá e se mudou para as
ilhas do Cão, do João de Barro, do Veado e da Cutia, onde permanece desde o fim
de semana.
“Hoje tivemos a informação de que os funcionários
do CCBM foram la novamente, o helicóptero da policia fez novo sobrevôo, mas os
pescadores resolveram enfrentar o assédio e permanecer no local”, afirma
Antonia Melo, coordenadora do Movimento Xingu Vivo para Sempre. Segundo ela, os
pescadores não acreditam que o governo vá cumprir qualquer acordo que venha a
ser feito, uma vez que quase nada do que foi combinado com os indígenas após a
ocupação da ensecadeira, entre junho e julho, foi encaminhado.
De acordo com funcionários da Funai, realmente as
atividades referentes às condicionantes indígenas, bem como os trabalhos do
órgão, estão praticamente parados. Após uma paralisação de dois dias na última
semana em função da completa falta de estrutura para o desempenho das funções,
os funcionários voltaram ao trabalho sob ameaça de ter o ponto cortado, mas nada
do que foi reivindicado, em termos de melhorias das condições e da estrutura de
trabalho, foi atendido. De acordo com os indígenas, além da quebra dos acordos
pós-ocupação e o fim do Plano Emergencial, que destinava recursos para as
aldeias até setembro deste ano, o Plano Básico Ambiental (PBA) indígena não vem
sendo cumprido.
Pescadores buscam diálogo com indígenas
Uma das lideranças do acampamento dos pescadores,
Cecílio Kaiapó, cuja família vive exclusivamente da pesca, tem iniciado um
intercâmbio entre as aldeias indígenas e os pescadores para troca de impressões
sobre a ameaça do barramento definitivo do Xingu e os abusos da Norte Energia.
Enquanto isso, os acampados seguem conclamando a categoria dos pescadores para
fortalecer os protestos. Abaixo, leia a carta circulada no fim da última
semana:
Carta dos 13 pescadores
Nós, os 13 pescadores reunidos na Ilha da Cotia,
falamos aqui de nossa resistência em defesa dos direitos de todos nós. Queremos
pedir encarecidamente aos nossos amigos pescadores que se unam e compareçam
para nos dar apoio na luta por seus direitos, assim como nós temos lutado.
Pelo amor a Deus, chamamos a todos para que venham
nos encontrar e juntar-se a nós. Por amor aos seus filhos e netos, que reajam
em defesa dos seus direitos de pesca, antes que seja tarde demais e que o Xingu
não dê mais peixe.
Aguardamos ansiosos a chegada de vocês para que juntos,
com a força, a coragem e a fé de todos, possamos finalmente agir para garantir
que sejamos ouvidos pela Norte Energia, pelo Consórcio Construtor Belo Monte e
pela Presidência do Brasil.
Chamamos também os indígenas de toda a região a se
unirem a nós nessa importante luta. E a todos os atingidos que puderem se
dirigir para a Ilha da Cotia, pedimos que venham o mais rápido possível. E que
todos nós estejamos juntos nesse momento.
Agradecemos a todos aqueles que nos tem apoiado e
àqueles que nos apoiarão nesta causa de todos nós.
Os 13 pescadores.
Altamira, 28 de setembro de 2012.
Fonte: Movimento Xingu Vivo para Sempre