Kátia Brasil*
Duas crianças do grupo de índios do sudoeste do Amazonas que está
sem dinheiro para retornar às suas aldeias depois das eleições de domingo morreram
nesta quinta (11) após quadro de diarreia.
Ao menos mil índios estão acampados há quase uma semana em
condições precárias de higiene em canoas e barracos em Atalaia do Norte (1.036
km de Manaus).
Eles receberam de alguns candidatos apenas o combustível para o
trajeto entre a terra indígena e a cidade.
Como os políticos foram derrotados nas urnas, sumiram da cidade, e
os índios agora estão sem dinheiro para comprar o combustível da volta, segundo
a Funai (Fundação Nacional do Índio).
Para abastecer as 94 embarcações, seriam necessários cerca de R$
140 mil.
A viagem de barco pelo rio Javari até a terra dos índios, na
fronteira com o Peru, leva de oito a dez dias.
Heródoto Jean, coordenador do Dsei (Distrito Sanitário Especial
Indígena), do Ministério da Saúde, disse que as crianças mortas têm menos de
dois anos de idade e são das etnias canamari e maiuruna.
Elas adoeceram nas canoas e chegaram ao hospital da cidade em
"estado gravíssimo". Outras 33 crianças estão internadas em
tratamento na Casa do Índio.
Duas estão hospitalizadas, uma com pneumonia e outra com diarreia
grave.
"Quando as crianças chegaram ao hospital elas estavam muito
mal, morreram com vômito e diarreia", disse Jean.
"Os índios vieram para votar e os políticos jogaram eles por
aí. Todo mundo foi embora, o juiz e o promotor", completou Heródoto Jean.
À Folha o coordenador local da Funai, Bruno
Pereira, disse que candidatos indígenas e não índios estimularam a viagem dos
índios. Os nomes dos candidatos, porém, não foram divulgados.
O município teve três candidatos a prefeito e 85 a vereador.
Compareceram às urnas 4.899 eleitores.
Dar ou oferecer dinheiro ou vantagem para obter voto é crime
previsto no Código Eleitoral, punido com pena de até quatro anos de prisão.
Nesta quinta (11) o TRE (Tribunal Regional Eleitoral) do Amazonas
informou que a Funai precisa denunciar os políticos para que seja aberta uma
investigação de crime eleitoral.
Segundo o tribunal, o juiz eleitoral Bismarque Leite e a promotora
Ynna Breves Maia não receberam denúncias sobre a doação de combustível.
Pereira, da Funai, disse que não divulgou nomes dos candidatos por
temer represálias. "A Justiça sabia do problema, houve uma campanha suja e
a Justiça virou as costas, quer empurrar com a barriga."
O Cimi (Conselho Indigenista Missionário), da Igreja Católica,
alertou órgãos federais sobre o problema.
Em nota enviada na véspera das eleições, o conselho disse que os
"os índios foram incentivados por candidatos, ávidos por assegurar suas
vagas na Câmara e prefeitura".
*Fonte: Folha de São Paulo
Atualizando a notícia:
Morre terceira criança indígena de grupo abandonado após votar no AM (18/out)
Atualizando a notícia:
Morre terceira criança indígena de grupo abandonado após votar no AM (18/out)