O juiz federal Marcelo Honorato negou,
nesta segunda, 15, o pedido de reintegração de posse da barragem provisória
(ensecadeira) de Pimental, ocupada por indígenas e pescadores desde o último
dia 8, e ordenou que uma Audiência de Conciliação seja realizada nesta
terça, 16, a partir das 14h.
Segundo o juiz, que havia marcado a
audiência para esta segunda – as negociações foram canceladas em função da negativa da
Norte Energia de permitir a permanência dos manifestantes em local adequado,
fora da ensecadeira -, o caso requer cuidados especiais e nova tentativa de
conciliação, e não uma ação de despejo. “É que a saída forçada dos ocupantes ou
mesmo a expedição de mandado de reintegração se mostram como inservíveis, neste
momento. A reintegração sob força policial, realizada mediante o emprego de
força, não se mostra razoável, pois ainda se mantém o conflito entre direitos
pecuniários e a integridade física de índios e, principalmente, idosos e
crianças”, afirmou Honorato em sua decisão.
Ao indeferir o pedido de reintegração
de posse da Norte Energia, o juiz também levou em consideração que os
manifestantes haviam se prontificado a deixar a
ensecadeira, devolver as chaves de caminhões e tratores, além de
garantir o caráter pacífico dos protestos. A “possível intenção de causar
prejuízos materiais diretos aos autores não possui, neste momento, lastro
fático, a afastar tal pressuposto como ensejador da reintegração forçada,
apesar do entendimento deste juízo que nem tal elemento, acaso existente, seria
suficiente para possibilitar execução sob força policial, por ausência de
absoluta proporcionalidade entre os bens jurídicos envolvido”, afirmou
Honorato.
De acordo com a decisão do juiz, a
audiência desta terça deverá ser presidida pela Procuradoria Federal da FUNAI,
ou procurador federal por ela designado, “sendo ainda importantíssima a
participação do MPF ao ato, para o exercício de sua função de Cllstos
legis. Devem
participar, além de representantes dos manifestantes, um
funcionário da FUNAI de Altamira-PA, especialista em assuntos indígenas; um
servidor do IBAMA, lotado no escritório em Altamira, para prover assessoramento
de assuntos ambientais; dois representantes da Norte Energia, um com poderes
administrativos e financeiros, e outro funcionário da mesma Empresa, ligado à
Gerência de Assuntos Indígenas; e a Defensoria Pública do Estado do Pará em
Altamira.
“A reunião deverá ocorrer nas
proximidades do Canteiro de Obras da ensecadeira, localizada no Sitio Pimental,
local esse que facilitará a participação de todos os grupos, haja vista que a
distância entre as obras e a cidade mais próxima dificultaria a participação de
todos”, decidiu o juiz.
Reivindicações indígenas
No domingo, 14, os indígenas realizaram nova assembléia para sistematizar as erivindicações do setor a partir das condicionantes do licenciamento de Belo Monte, do Plano Básico ambiental (PBA) e dos acordos anteriormente firmados com a Norte Energia. O documento, que também exige que o Judiciário dê encaminhamento à votação das ações judiciais pendentes nas diversas instâncias, esclarece o posicionamento dos manifestantes acerca dom processo de negociação com os diversos atores envolvidos no processo, determinado pelo juiz Honorato no final da última semana.
No domingo, 14, os indígenas realizaram nova assembléia para sistematizar as erivindicações do setor a partir das condicionantes do licenciamento de Belo Monte, do Plano Básico ambiental (PBA) e dos acordos anteriormente firmados com a Norte Energia. O documento, que também exige que o Judiciário dê encaminhamento à votação das ações judiciais pendentes nas diversas instâncias, esclarece o posicionamento dos manifestantes acerca dom processo de negociação com os diversos atores envolvidos no processo, determinado pelo juiz Honorato no final da última semana.
“As comunidades indígenas, pescadores
e demais grupos sociais acampados no Sitio Pimental, Canteiro de Obras da UHE
Belo Monte, reafirmam, mais uma vez, sua disposição para o diálogo com a Norte
Energia e o Governo Federal. Nosso movimento é pacífico, e estamos aqui para
exigir o cumprimento das condicionantes e a execução do PBA, que são nossos
direitos. Estamos dispostos a dialogar e a negociar prazos e cronograma para
execução, pela Norte Energia, de tudo que o empreendedor deveria já ter feito e
ainda não fez, mas não vamos negociar nossos direitos já estabelecidos.
Queremos deixar claro que não
descumprimos a decisão judicial que determinou a desocupação do canteiro e a
realização de uma reunião, no dia 15.10.2012. Como afirmamos no documento
entregue ao oficial de justiça, estamos dispostos a desocupar o canteiro,
entregar as chaves dos veículos e voadeiras, para que seja realizada a reunião.
Queremos apenas aguardar a reunião em condições adequadas, uma vez que o juiz
determinou que a audiência seria realizada no canteiro. A Norte Energia é quem
se recusa a dialogar conosco, ao negar nosso pleito de ter condições adequadas
para aguardar a reunião. Não desocupamos o canteiro determinado porque não
tínhamos para onde ir até o dia da reunião. Onde a justiça esperava que iríamos
com nossas mulheres, velhos e crianças? Que acampássemos na beira de uma
estrada, sujeitos a sofrer a hostilidade daqueles que não reconhecem nossa
causa justa? Que ficássemos como bichos na beira de uma ilha, dormindo sem
abrigo? Os povos indígenas e as comunidades tradicionais da Volta Grande do
Xingu tem dignidade e exigimos respeito!
Repudiamos a tentativa da Norte
Energia de nos vencer pelo cansaço, negando-se a conversar, descumprindo a
decisão judicial que a obrigou a nos fornecer água potável. Também repudiamos a
tentativa da Norte Energia de deslegitimar nosso movimento, afirmando que
estamos querendo mesada, listas, e outras questões que não são nossos direitos.
Tudo que exigimos são nossos direitos. Ao se negar a conversar, a Norte Energia
demonstra que não está disposta a cumprir suas obrigações.
Portanto, mais uma vez, exigimos que a
Norte Energia, junto com a FUNAI e o IBAMA, na presença do MPF e da justiça
federal, dialogue conosco! Exigimos a realização de uma reunião, para discussão
da pauta abaixo, para estabelecimento de prazos para o cumprimento de tudo o
que a Norte Energia já deveria ter feito, ou, pelo menos, começado a fazer. Não
nos retiraremos do canteiro até que sejamos ouvidos”.
Leia aqui a íntegra das reivindicações indígenas
Leia aqui a íntegra da última decisão da Justiça
Fonte: Movimento Xingu Vivo Para Sempre
Atualizando a notícia:
Audiência de conciliação com manifestantes segue nesta quarta (17/out)
Audiência de conciliação tem acordos mandatórios, mas posterga maioria das decisões e mitigações (18/out)
Fonte: Movimento Xingu Vivo Para Sempre
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