terça-feira, 9 de outubro de 2012

No oeste do Pará, políticos tradicionais continuam dominando.

Maria do Carmo Martins (de preto): faltaram alguns arremates para eleger Lucineide Pinheiro (de vermelho).

O quadro que sai destas eleições municipais na região Oeste do Pará é de manutenção e até aprofundamento de políticos tradicionais na maioria dos municípios, ligados a grupos familiares oligárquicos e aos chamados caciques regionais.

O crescimento do PSDB nos três maiores municípios do estado se refletiu no oeste com a vitória de Alexandre Von em Santarém, com apoio e envolvimento direto na campanha de Lira Maia (DEM), o deputado federal que também já foi prefeito de Santarém (com Von como vice) e que atualmente é tido como o político brasileiro com mais processos no Supremo Tribunal Federal e tem a irmã como vice do tucano.

A derrota do PT em Santarém, depois de oito anos à frente da prefeitura, foi maior do que previsto nas pesquisas eleitorais, no que pese uma forte e cara campanha, que contou com mensagens de apoio da presidente Dilma Rousseff e do ministro da saúde, Alexandre Padilha. Com toda essa força, a derrota da petista Lucineide Pinheiro possui elementos que merecem ser analisados.

O primeiro deles é a rejeição que o PT passou a ter em todo o Pará depois do governo de Ana Júlia Carepa (2007-2010). Neste processo, o PSDB já vinha crescendo na região, como nas eleições de 2010, onde não só o atual governador Simão Jatene (PSDB) venceu em Santarém, mas também o candidato à presidente tucano, José Serra, fenômeno que ocorreu na maioria das cidades do Oeste do Pará (relembre esta notícia 
AQUI).

Talvez com muito maior peso, a administração da prefeita Maria do Carmo Martins também foi fundamental para a derrota do PT em Santarém. A demora em iniciar o segundo mandato (a prefeita chegou a ser
afastada pela justiça eleitoral), a incômoda aliança com o PMDB que comandou a caótica saúde da cidade e mesmo assim saiu com candidatura própria, a indicação de surpresa de Lucineide quando a campanha tinha sido até então para o Secretário Inácio das Baterias e um conjunto de assessores que conseguiram em plena campanha eleitoral jogar asfalto na praia mais famosa do Pará,  jogaram por terra as chances do PT continuar à frente da prefeitura onde governava por 8 anos.

Longe da administração da principal cidade do interior do Pará, restou ao PT na região continuar à frente da prefeitura da pequena e histórica Belterra (13.605 eleitores), onde “Dilma de Belterra” venceu com uma pequena diferença de 25 votos, em meio à chuva de denúncias de compra de votos e reelegeu Raulien Andrade em Jacareacanga (8.206 eleitores). O PT retomou também a prefeitura de Medicilância (16.592 eleitores), na região da Transamazônica com Gaúcho da Entre Rios, ganhou em Almerim (20.948 eleitores) com Botelho e por enquanto, a prefeitura de Monte Alegre (41.939 eleitores), com “Dr. Sérgio”. A situação em Morte Alegre ainda pode ter uma reviravolta, pois um dos candidatos, Jardel Vasconcelos (PMDB) teve a candidatura impugnada, mas a situação ainda não está totalmente definida pela justiça eleitoral. Como o número de votos nulos foi superior ao do primeiro candidato, é possível que a maior parte destes votos sejam do candidato impugnado, que pode “reaver” os votos se sua candidatura for reavaliada.

Outra derrota “histórica” dos petistas se deu em Anapu (14.256 eleitores), município onde foi assassinada a missionária Dorothy Stang em 2004 e onde um ex-pupilo, o sindicalista e prefeito “Chiquinho do PT” se aliou com madeireiros e latifundiários contra assentados e lideranças da Comissão Pastoral da Terra (Veja
AQUI ). Chiquinho do PT perdeu para uma candidatura do PSDB (“Batista”) por 1.194 votos válidos de diferenças e deixa a prefeitura em 1° de janeiro.

O atual vice-prefeito de Anapu, 
o fazendeiro Délio Fernandes, (já acusado no passado de está envolvido na morte de Dorothy Stang) concorria neste ano à prefeitura de Altamira (64.025 eleitores), município impactado pela hidrelétrica de Belo Monte. Délio (PR) ficou na terceira posição com 11.925 votos (25,48% dos votos válidos). Em Altamira, venceu ninguém menos do que Domingos Juvenil (PMDB), ex-presidente da Assembleia Legislativa do Pará e denunciando como uma das cabeças de um grande escândalo de corrupção e  pagamento de fantasmas na casa legislativa e apadrinhado político de Jáder Barbalho. Juvenil teve 41,65% dos votos válidos (19.494 votos válidos).

Disputando a reeleição com uma frente que ia do PT ao DEM, o fazendeiro e madeireiro Valmir Climaco (PMDB) foi destronado da prefeitura de Itaituba (68.679 eleitores), onde assumiu após a cassação do então prefeito Roselito Soares. Às vésperas da eleição, Climaco teve o registro da candidatura cassado por abuso de poder econômico por distribuição de combustível, mas uma liminar dada pelo Tribunal Regional Eleitoral assegurou a presença no pleito. Climaco teve a gestão marcada pela prisão de seu Secretário de Meio Ambiente por 
tráfico de carne da fauna silvestre e o atendimento de uma cachorra que realizou parto no hospital municipal por ordem do Secretário de Saúde (vindo à cadela depois a óbito), além de uma extensa folha de absurdos (Veja AQUI
), acabou perdendo o cargo para a candidata Eliene Nunes (PSD), candidata apoiada pelo PSDB e pelo ex-prefeito cassado, Roselito.

Outra destronada foi a prefeita de Novo Progresso (17.479 eleitores), Madalena Hoffman (PSDB) que não foi reeleita, perdendo a eleição para Osvaldo Romanholi (PR) por apenas 32 votos. O ex-prefeito e ex-neo-petista, Tony Fabio (agora no PRB), ficou em terceiro lugar.

Mas o PSDB levou ou apoiou ainda os prefeitos eleitos nos municípios de Terra Santa (11.373 eleitores) com Marcílio Picanço (PSD); Oriximiná (41.242 eleitores) com Luiz Gonzaga (PV); Curuá (9.373 eleitores) com Adriana Pereira; Prainha (20.769 eleitores) com Patrícia Hage (PSDB); Mojuí dos Campos (16.867 eleitores) com Jaílson do Mojuí (PSDB); Rurópolis (16.563 eleitores) com Pablo Genuíno (PSDB); Marina Sperotto (PSB) em Brasil Novo (12.534 eleitores);

Os outros eleitos na região foram: Marinete Costa (PMDB) em Faro (6.208 eleitores); Mário Henrique (PMDB) em Óbidos (32.820 eleitores); Flávio Marreiro (PSC) em Alenquer (34.157 eleitores); Fuzica (PSC) em Aveiro (10.369 eleitores); Danilo Miranda (PMDB) em Trairão (9.780 eleitores); Gauchão Leonir (DEM) em Placas (11.392 eleitores); Banha (PDT) em Uruará (26.811 eleitores); Vando (PSB) em Vitória do Xingu (9.513 eleitores); Fernando Uchôa (PR) em Senador José Porfírio (8.736 eleitores) e Edilson Cardoso (PSDB) EM Porto de Moz (17.785 eleitores).
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