Enterro do advogado do PCdoB, Paulo Fonteles, em Belém em 1987. Duas décadas depois, o PCdoB dava as mãos aos ruralistas. |
Tentando se descolar do Partido dos Trabalhadores
em alguns centros importantes do país, o Partido Comunista do Brasil (PCdoB)
lançou candidaturas próprias à prefeito em vários centros importantes, sem
lograr êxito. A exceção ocorreu em Olinda, em Pernambuco, onde o partido
já governou por doze anos, e elegeu Renildo Calheiros ainda no primeiro turno,
coligado com o PT e outros dezoito partido, inclusive o PSB do governador
Eduardo Campos e o PSDB.
Em Fortaleza, o senador Inácio Arruda, que já
disputou a prefeitura municipal outras três vezes e chegou está em segundo
colocado no início da campanha eleitoral, acabou terminando na sétima posição
com apenas 1,8% dos votos do eleitorado. Sem coligação com outros partidos, e
com um perfil imagem que desagradava tanto à direita mais tradicional como os
setores aliados aos governos federal, estadual e municipal, assim como os
setores mais a esquerda, campanha de Inácio acabou sendo tragada por não ter em
quem bater (já que o PCdoB é governo nos três níveis de governo) e ao mesmo
tempo sem ter com quem o apoiar, já que o PT e o PSB estavam priorizaram suas
próprias candidaturas e foram para o 2º turno na capital cearense.
Em Porto Alegre, a deputada federal Manuela D’Ávila
conseguiu ainda ficar em segundo lugar (com 17,76% dos votos válidos), a frente
do candidato petista, Adão Villa (9,64% dos votos), mas incapaz de assegurar a
um segundo turno contra o prefeito reeleito no primeiro turno, José Fortunati (PDT).
Com uma campanha inicialmente voltado para um público mais jovem, o PCdoB em
Porto Alegre se aliou com o Partido Social Cristão, com direito até a
participação da “comunista” na Marcha para Jesus.
O crescimento da candidatura do Psol, Elson Pereira
que ficou na quarta posição com 14,42% dos votos válidos em Florianópolis, é
apontado como a principal causa de derrota da candidata “comunista” Ângela
Albino, que acabou ficou em terceiro (25,03%) e fora do segundo turno.
Diferentemente de Fortaleza e Porto Alegre, na capital de Santa Catarina, o
PCdoB estava aliado com o PT. Já em Belém, o aliado foi o Psol e o PSTU, onde o
PCdoB é vice de Edmilson Rodrigues que disputa o segundo turno contra o PSDB.
Também aliado ao PT e contando com a presença da
presidente Dilma Rousseff na campanha, o PCdoB disputa seu único segundo turno
em capitais em Manaus, no Amazonas, com a senadora Vanessa Grazziotin contra o
tucano Arthur Virgílio. Remendo contra a derrocada tucana em várias partes do
país, Virgílio desponta como favorito nas pesquisas eleitorais, enquanto
Grazziotin produziu panfletos em que se apresenta como uma mulher de família,
de Deus, contra o aborto e que defende a “boa convivência” entre as classes sociais.
A aproximação com setores religiosos atrasados teria como tática ainda a
distribuição por meio de igrejas de 500 mil DVDs com cenas do então Senador
Arthur Virgílio justificando o seu voto favorável a descriminalização do aborto
em algumas situações de risco à mulher, bem como o reconhecimento aos direitos
de partilha de bens e heranças em relações homoafetivas. Na reta final da
campanha, episódios como protestos de cabos eleitorais não pagos pela candidata
do PCdoB e a identificação de trabalho infantil na campanha de Grazziotin,
acabaram dando “ares de esquerda” à campanha de Virgílio que se apresenta como
vítima de perseguição da candidata conservadora.
A "beata" Vanessa Grazziotin promete manter a estrutura de classes, se for eleita. |
Nas demais cidades onde haverá segundo turno, o
PCdoB disputa com candidatos majoritários ainda em Jundiaí, em São Paulo (com
Pedro Bigardi), contra uma candidatura do PSDB; em Belford Roxo, Rio de Janeiro
(com Dennis Dauttmam) contra uma candidatura do PRTB; e em Contagem, Minas
Gerais (com Calrin Moura), com apoio direto de Aécio Neves e Newton Cardoso,
enfrentando uma candidatura do PT.
Mas é nas cidades interioranas que se deu o
crescimento do PCdoB, o que fez o partido saltar, tendo como referência o
primeiro turno, de 40 prefeitos eleitos em 2008 para 53 em 2012, a maior parte
deles em municípios pequenos e no Nordeste. O crescimento eleitoral se tornou o
principal critério de atuação do partido, que já de longa data é capaz de fazer
alianças das mais esdrúxulas em nome desse pragmatismo, como o apoio ao governo
José Sarney nos anos oitenta ou atuação do deputado federal Aldo Rebelo com os
ruralistas para aprovação do Código Florestal.
Assim, a disputa de 2º turno em Manaus e 3 cidades
médias do país acabaram se tornando o delineador para o partido, que não se
constrange em se aliar com setores mais atrasados em Manaus ou receber apoio do
PSDB em Contagem.
Este “pragmatismo” pode ter gerado um efeito
curioso: o afastamento dos setores de esquerda e ao mesmo tempo a não
fidelidade dos setores mais atrasados.