O cruzamento de dados das últimas medições dos sistemas de
monitoramento e detecção de desmatamento na Amazônia Legal do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), junto
com as observações em campo, indicam que 29% de uma área de 317 mil hectares
vizinha à Terra Indígena Baú, às margens do Rio Curuá, foram
desmatados. Coincidentemente, essa foi exatamente a área reduzida dos limites
da TI, no ano de 2003, via portaria do Ministério da Justiça. A decisão foi
tomada à época sob a pressão de proprietários rurais do município de Novo Progresso (PA),
cedendo a interesses econômicos e políticos em detrimento dos socioambientais.
“Chamam atenção os pontos de acentuado desmatamento
na área próxima à Baú, principalmente neste momento, em que vários projetos
legislativos tentam barrar a criação, demarcação e regularização de Terras
Indígenas sob o argumento de que o país tem ‘muita terra para pouco índio’. O
Brasil não precisa desmatar mais para aumentar sua produção agrícola. Existem
várias áreas já abertas e não aproveitadas, que podem ser utilizadas”, afirmou Rômulo Batista, da campanha da Amazônia do Greenpeace, à
reportagem de O Globo.
Segundo Batista, o desmatamento no entorno da TI Baú é um
símbolo do que pode ocorrer se forem alteradas as regras de demarcação e uso
das Terras Indígenas, como querem os parlamentares ligados à ruralistas. “O
desmatamento começou depois da desafetação da área”, explicou.
Degradação passada, desmatamento futuro
No último ano, registros aéreos de
desmatamento e embargos de grandes áreas por atividades ilegais nesta região
reduzida da TI Baú foram
detectados continuamente, demonstrando que as pressões da exploração predatória
na região cresceram de forma extremamente agressiva e desordenada durante a
década que sucedeu a redução da área. As consequências foram, basicamente,
destruição de floresta nativa pela exploração predatória por espécies de alto
valor comercial, perda irreparável de biodiversidade, criação de mais áreas de
pasto e novos focos de monocultura para plantio de soja.
Até 2012, o PRODES (Sistema
de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal) detectou um total de 10907
hectares de floresta perdida somente no entorno da TI Baú (área assinalada na
janela de zoom do mapa acima). Desse total, aproximadamente 50% foi desmatado
somente no último ano – de agosto de 2011 a junho de 2012.
De acordo com o DETER (Sistema
de Detecção do Desmatamento em Tempo Real), que mede os alertas de desmatamento
mês a mês, de agosto de 2012 a maio de 2013, o total desmatado foi de 10168
hectares, quase o mesmo número que mostra o acumulado do Prodes. Isso significa
que, se compararmos o PRODES e o DETER, apenas nos últimos dez meses foi
desmatada uma área igual ao desmatamento acumulado até 2012.
Na última medição do DETER, com dados de maio de 2013, o Inpe (Instituto
de Pesquisas Espaciais) apresentou uma área de 2741 hectares, embargada
recentemente, no distrito de Castelo dos Sonhos (PA), no entorno da BR-163.
Questionado sobre essa perda florestal, o Ibama afirmou
ser a mesma área que a equipe de pesquisa do Greenpeace identificou na região
da TI Baú, em duas ocasiões distintas. No mês de março deste
ano, nossas equipes fizeram registro aéreo georreferenciado da região, e em
junho, com outro sobrevoo pela mesma área, foi constatada relevante ampliação
do desmatamento (confira o comparativo nas imagens abaixo).
Fonte: Greenpeace