Peritos do MPF descobriram que a
empresa já duplicou a quantidade de ouro a ser extraída sem estudar o impacto
disso. Estudos do impacto sobre indígenas também não foram feitos
O
Ministério Público Federal advertiu a Secretaria de Meio Ambiente (Sema) e a
Procuradoria Geral do Estado (PGE) do Pará contra a emissão de licença
ambiental para o projeto de mineração que a empresa canadense Belo Sun quer
implantar no rio Xingu, ao lado da área onde é construída a usina hidrelétrica
de Belo Monte. Trata-se da instalação da maior mina de ouro ao lado da obra da
maior usina hidrelétrica do país, no trecho conhecido como Volta Grande do
Xingu.
O
principal problema é que não houve até agora nenhum estudo sobre o impacto da
mineração nas populações Arara e Juruna da Volta Grande do Xingu, já
severamente impactadas pelas obras da usina. Além disso, peritos da
Procuradoria Geral da República descobriram que a empresa anunciou aos
acionistas em seu site que vai extrair da mina o dobro de ouro que estava
previsto nos Estudos de Impacto Ambiental (EIA). Nos Estudos estava prevista
extração de 37 milhões de toneladas de ouro. Aos acionistas, a Belo Sun
informou que vai extrair mais de 88 milhões de toneladas de ouro. Outra falha
grave dos estudos é que a empresa não sabe informar com precisão o número de
migrantes que o empreendimento pode atrair para a já sobrecarregada região do médio
Xingu.
O
MPF já havia recomendado, em fevereiro de 2013, que a licença não fosse emitida
sem os estudos sobre o impacto aos indígenas. Até agora, a recomendação não foi
cumprida e os estudos ainda não foram apresentados. “A recomendação não foi
cumprida pelo órgão ambiental, uma vez que apesar de a Funai ter emitido, em
novembro de 2012, um Termo de Referência apto a sustentar quase a integralidade
dos estudos de componente indígena, estes ainda não tiveram início. E o órgão
licenciador já sinalizou que a licença de viabilidade poderá ser emitida sem
esses estudos e sem avaliação e anuência do órgão indigenista”, informou o MPF
ao procurador-geral do Estado do Pará, Caio de Azevedo Trindade.
As
mesmas advertências foram enviadas ao secretário de Meio Ambiente, José Alberto
da Silva Colares. O secretário também recebeu a íntegra do parecer técnico
elaborado pelos peritos da 4ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF, em
Brasília, com base nos estudos apresentados até agora pela Belo Sun. Para os
peritos, pode ter havido subdimensionamento do projeto no EIA da mina de ouro.
“O
montante de ouro informado pelo empreendedor (Belo Sun) aos seus acionistas é
mais que duas vezes superior ao indicado e considerado no EIA. Desse modo, a
operação mineira necessária para o aproveitamento do bem mineral, incluindo a
destinação do rejeito e do estéril, e a quantidade de insumos necessários ao
processo industrial, deverá ser elevada na mesma ordem de grandeza do aumento
da reserva. Portanto, a magnitude do empreendimento que hoje se pretende
implantar é, pelo menos, o dobro daquela submetida aos estudos ambientais”, diz
o parecer do MPF
“Saliento
a necessidade de verificação da real dimensão deste projeto, haja vista a
disparidade entre a reserva indicada nos Estudos de Impacto e a reserva
indicada no portal da empresa Belo Sun na internet, a sinalizar que hoje já se
pode afirmar que os impactos ambientais deste projeto têm a potencialidade de
atingir quase o dobro do que afirmam os estudos, do mesmo modo que a
expectativa de lucro do empreendedor seria muito maior do que a afirmada”,
alerta a procuradora Thais Santi, responsável pelo caso
O
MPF deu prazo de 20 dias para que a Sema e a PGE respondam às advertências
sobre o empreendimento Belo Sun.
Fonte: MPF – Ministério Público
Federal
Leia também: Num simulacro de audiência pública, “Belo Sun Mining anuncia que vair retirar 50 toneladas de ouro da Volta Grande do Xingu” (Por Telma Monteiro)
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