Trabalhadores do Sítio Pimental, um dos canteiros de obras da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, paralisaram as atividades nesta quarta-feira, 18 de setembro. Polícias Militares e homens da Força Nacional de Segurança teriam atuado para conter o início de mais uma revolta trabalhista na maior obra do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) em curso no país e que reúne milhares de operários, a grande maioria de outros estados.
O estopim de mais uma revolta trabalhista foi a
decisão do Consórcio Construtor de Belo Monte (CCBM) de mudar o lugar do
pagamento dos trabalhadores da cidade de Altamira para o interior dos
canteiros, o que impediria os trabalhadores de aproveitarem o dia de folga e os
deixariam mais isolados no local de trabalho.
A mudança foi anunciada pela CCBM por meio de um
panfleto distribuído no canteiro de obras. Nele, por meio de um “diálogo entre
amigos” realizado por operários fictícios por meio de um radiocomunicador, é
informado que a decisão de mudança de local de pagamento “vai ser boa”, pois
“trabalha aqui, recebe aqui” e que “os homens devem saber o que estão fazendo”,
pois “não acredito que é para nos prejudicar”.
Noutro trecho do panfleto é dito que “parece que é
uma necessidade urgente para parar de perder produção”, pois “ganhar sem
trabalhar tem vida curta”, para em seguida concluir que: “São novos tempos. Um
dia tinha que acontecer! Acho que não dá para conviver com essa mudança, afinal
tem coisas piores na vida como, por exemplo, ficar desempregado, cair a casa,
mulher fugir com outro, etc.”
Revolta
Logo após a distribuição do panfleto, no início do
turno da manhã, operários iniciariam os protestos contra a medida. Vários
ônibus tiveram os pneus furados na estrada de acesso ao canteiro. Dentro dos
refeitórios, o clima era também de muita revolta. Os trabalhos foram suspensos
e a Força Nacional de Segurança, órgão de repressão pública que age como
segurança particular do empreendimento, teria disparado balas de borracha
contra os operários que teriam levantado barricadas na entrada do canteiro.
Pelo menos 1.000 operários voltavam a pé para
outro ponto da estrada para tentar voltar para a cidade de Altamira, quando
homens da Força Nacional teria obrigado o retorno dos trabalhadores para o
canteiro de obras.
Segundo a Polícia Militar, pelo menos 100
operários teriam sido demitidos da obra ainda na parte da manhã, quando a
revolta foi controlada. Uma versão afirma que eles teriam sido levados em
ônibus, escoltados pelos miliares até a cidade de Altamira para dar
encaminhamento ao processo de desligamento trabalhista. Há porém quem afirme
que eles foram levados “diretamente para o Maranhão”.
CCBM se nega a comentar panfleto e diz que
demissões estão dentro da normalidade
Em nota divulgada na noite desta quarta-feira o
CCBM afirma que não vai comentar sobre o panfleto elaborado pela empresa e que
a decisão de fazer o pagamento dentro do canteiro de obras visa a segurança dos
trabalhadores.
Apesar de fotos divulgadas pela internet e da versão
divulgada extraoficialmente pela Polícia Militar à imprensa de Altamira, a assessoria de comunicação do CCBM afirma que
não houve depredações de ônibus, nem
“quebradeiras dentro do canteiro”, chegando a afirmar ainda que “a PM não fala pelo consórcio”.
Sobre a paralisação dos trabalhos e demissões, a
empresa afirma que “100 trabalhadores fizeram barricadas fora do canteiro de
obras, impedindo a entrada no sítio Pimental”, mas que depois “os trabalhadores
desistiram da manifestação e pediram ônibus para vierem até Altamira”. Para o
CCBM, o número de admissões e demissões está “dentro da sua normalidade no RH
da empresa”.
Sobre o uso da Força Nacional para reprimir os trabalhadores
até o momento não houve nenhuma informação do CCBM e ou da própria guarda
pretoriana da presidente Dilma Rousseff.
*Com informações do Movimento Xingu Vivo e Portal Altamira
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