Foto: Fábio Rodrigues
Pozzebom/AB
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Os 145 indígenas dos
rios Xingu, Tapajós e Teles Pires, no Pará, ocuparam a sede da Fundação
Nacional do Índio (Funai), em Brasília, na tarde desta segunda-feira, 10. Os
indígenas aguardavam a presidente interina do órgão indigenista, Maria Augusta
Assirati, para entregar documento com reivindicações, solicitar hospedagem e a
data em que seriam levados de volta ao Pará. Porém, Maria Augusta não
compareceu e por emissários avisou que estava em outra reunião. Nesta
terça-feira, 11, completa uma semana que o grupo desocupou o principal canteiro
de obras da UHE Belo Monte e veio ao Distrito Federal.
“Desde a manhã estamos
esperando alguém da Funai para falar da nossa pauta, da hospedagem. Ninguém
apareceu até agora. Nós chamamos vocês para nossa assembleia, que começou
quando chegamos, e vocês não vieram. Então estamos informando agora para vocês
que nos estamos acampando aqui na Funai. Vamos ocupar a Funai a partir de
agora”, disse Josias Munduruku aos representantes delegados pela interina da
Funai.
O grupo já demonstrava
indignação com a postura do ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência
da República (SGPR), Gilberto Carvalho, que na manhã desta segunda negou
reunião com os indígenas. Ao invés do ministro, quem recebeu os indígenas foram
soldados do Exército e assessores. Pelo próprio governo, os indígenas foram
encaminhados para a Funai, onde seriam recebidos pela presidente interina. Até
o final da tarde de hoje, Maria Augusta não apareceu.
“Disseram (na SGPR) que
receberiam uma comissão de dez, mas nós não nos separamos. O governo não quer
entender isso, respeitar nosso jeito. Sabem que não nos separamos. Por essa
postura, o ministro descumpre os acordos e assim fica difícil conversar”,
explica Jairo Saw, assessor do cacique-geral Munduruku. Para as lideranças, os
assessores de Carvalho disseram que ele só poderia atendê-los até as 11h15. Em
nota, a SGPR disse que as lideranças indígenas se negaram a se reunir com
Gilberto Carvalho.
“O governo está dando as
costas para nós. Não quer nos ouvir. Nós estamos entendendo isso. Ele disse que
vai fazer hidrelétricas de qualquer jeito, e ele sabe que nós não queremos.
Essa nota do governo nós lemos na reunião. Ele disse que esperou a gente, disse
que nos recusamos. É mentira! Foi ao contrário. Nós fomos lá, nós que
esperamos”, disse Josias Munduruku para os emissários de Maria Augusta.
O povo Munduruku
interpelou judicialmente, no início deste mês, o ministro Carvalho por outra
nota da SGPR, onde acusa “autodenominadas” lideranças de envolvimento com
atividades ilícitas. Leia matéria na íntegr aqui.
Carta protocolada; carta
não recebida
Os indígenas, mesmo sem
serem recebidos, protocolaram na SGPR o documento que entregariam ao ministro
em mãos – leia a íntegra aqui. Na carta, os indígenas relatam ponto a
ponto as áreas afetadas pelo projeto hidrelétrico nos rios Teles Pires e
Tapajós – motivo pelo qual o grupo ocupou no mês de maio, por 17 dias em duas
ocasiões, o principal canteiro das obras da UHE Belo Monte. Um dos locais
atingidos é a Cachoeira Sete Quedas, sagrado para os Munduruku, Kayabi e
Apiaká, que será inundada pela usina que está sendo construída no Teles Pires.
“A Cachoeira de Sete
quedas (Paribixexe): É uma linda cachoeira contendo sete quedas em formato de
escada. É o lugar onde os mortos estão vivendo, o céu dos mortos, ou seja, o
mundo dos vivos, o reino dos mortos. É um local sagrado para os Munduruku,
Kayabi e Apiakás, aonde também os peixes se procriam e diversas espécies e
todos os tamanhos, onde existe a mãe dos peixes. Nas paredes constam as
pinturas rupestres deixados pelo Muraycoko (pai da escrita), a escrita deixada
para os Munduruku através das escritassurabudodot,
por muito tempo remoto (sic)”, diz trecho da carta.
Para Valdenir Munduruku,
o ministro Carvalho demonstra com as atitudes apresentadas a forma de diálogo
que pretende manter: “Aqui, a casa deles, nos recebem com o Exército e a
polícia e não nos deixam entrar. Em nossa casa, mandam o Exército e a polícia
para poderem entrar. Isso não é diálogo. É como se nós fôssemos inimigos”.
Josias Munduruku lembra que na reunião da última terça-feira, 4, o ministro
disse que as hidrelétricas vão sair, pois se trata de uma decisão de governo:
“Me pergunto: que consulta é essa que eles querem fazer? Não é consulta quando
eles (governo) tomam uma decisão sem volta. O que poderá sair de consulta
assim?”, questiona.
Por enquanto, não há
previsão de retorno dos indígenas para o Pará e de desocupação do órgão
indigenista estatal, a Funai. Tampouco a hospedagem ficou definida, mas, pelo
visto, depois do anúncio da ocupação à sede da Funai, os indígenas já arrumaram
um lugar para ficar - ao menos por essa noite.
Fonte: Cimi