O
dendê, a mais nova aposta do agronegócio amazônico, está começando a dar sinais
de que veio pra ficar no Pará. Com forte apoio governamental, a cultura ocupa
hoje 166 mil hectares no nordeste do Estado (região composta por 37 municípios
considerados adequados ao plantio pelo Zoneamento Agroecológico do Dendê), e
tem previsão de atingir 329 mil hectares até 2020, de acordo com dados do
governo estadual e do Banco da Amazônia.
Quase
que exclusivamente voltada à produção de biodiesel, a dendeicultura paraense
busca se incorporar ao Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB)
e vem buscando a inclusão, através de contratos de integração
empresas-produtores, da agricultura familiar no setor.
Para
isto, uma linha especial do Pronaf – o Pronaf Eco Dendê – disponibilizou mais
de R$ 124 milhões para pequenos agricultores em 2013. A liberação de
financiamentos de até R$ 80 mil está vinculada a formalização de um contrato de
parceria com grandes empresas – como Petrobras, Biopalma Vale e ADM. A promessa
é que, em 10 hectares de dendê cultivado na própria propriedade, uma família
terá garantida uma renda razoável.
Entretanto,
apesar de arregimentar cada vez mais adeptos, a dendeicultura pode não
representar o futuro promissor tão sonhado pelos agricultores familiares
paraenses. Além de desviar o setor da função primordial, que é o cultivo de
alimentos, o dendê para biodiesel não tem sido capaz de trazer a lucratividade prometida
por governos e empresas.
Este
fator, aliado a outras colateralidades, como aumento da contaminação de
igarapés e rios por agrotóxicos, cujo uso vem se avolumando com a expansão do
dendê, e problemas sociais como vício em drogas nas frentes de trabalho, são
abordados no mais recente estudo do Centro de Monitoramento de Agrocombustíveis
(CMA) da Repórter Brasil, “Expansão do Dendê na Amazônia brasileira – Elementos
para uma análise dos impactos sobre a agricultura familiar no nordeste do
Pará”.
Através
de pesquisas de campo realizadas em parceria com a ONG FASE/Amazônia em março
de 2013, o estudo aponta ainda a possível relação da expansão do dendê com o
aumento de preços de itens básicos da alimentação do paraense.
O
CMA da Repórter Brasil pesquisa os impactos socioambientais do dendê na
Amazônia desde 2008 e publicou uma série de relatório sobre o tema – que podem
ser acessados na seção de Agrocombustíveis da página da Repórter Brasil na
internet (www.reporterbrasil.org.br).