domingo, 15 de março de 2015

Morre Therezinha Zerbini, fundadora do Movimento Feminino pela Anistia

Faleceu neste sábado, 14 de março, aos 87 anos, Therezinha Zerbini, pioneira do Movimento Feminino pela Anistia, movimento social pela abertura política do regime militar, pela volta de exilados e libertação de presos políticos, iniciado em 1975.

Therezinha era viúva do general Euryale de Jesus Zerbini, militar caçado pelo regime instalado após 1964. Por ter ajudado Frei Tito de Alencar a conseguir o sítio pertencente a um amigo da família Zerbini, em Ibiúna, onde seria realizado o congresso da UNE de 1968, Therezinha respondeu a um inquérito policial militar, sendo indiciada em dezembro de 1969 e enquadrada na Lei de Segurança Nacional.

Em 1970 foi presa em sua casa, ficando detida por oito meses - seis dos quais no Presídio Tiradentes, em São Paulo. Na prisão, conviveu com a então guerrilheira Dilma Rousseff.

Em 1975, declarado pela ONU Ano Internacional da Mulher, cria o Movimento Feminino pela Anistia (MFPA), unido à luta pela redemocratização do Brasil. No mesmo ano, ocorre a morte do jornalista Vladimir Herzog na prisão, seguindo-se, na Catedral da Sé, a primeira grande manifestação popular de protesto, desde o AI-5. Ainda em 1975, o Movimento lança seu manifesto em favor da anistia ampla e geral, conseguindo colher 16.000 assinaturas de apoio, e empenhou-se nas denúncias sobre a existência de presos, torturados e perseguidos políticos no Brasil - fato que por muito tempo fora sistematicamente negado pelo governo militar. Daí por diante foram sendo formados Comitês Femininos pela Anistia nas principais cidades do país.

O movimento é o marco da virada: a atividade política volta ao espaço público, agregando e mobilizando vários setores - o MDB, o PCB e outros partidos políticos ainda clandestinos, a esquerda católica, acadêmicos, associações de classe, além dos exilados, presos políticos e suas famílias. Fazia oposição às claras: era um movimento legalizado, com ata de fundação e estatuto registrado em 1976, constituído basicamente por mulheres católicas, como a própria Therezinha, e de classe média.

Em fevereiro de 1978, o movimento pela anistia seria ampliado com a criação do Comitê Brasileiro pela Anistia (CBA) no Rio de Janeiro, formado inicialmente por advogados de presos políticos e com apoio da Ordem dos Advogados do Brasil, o Comitê pedia a anistia ampla, geral e irrestrita.

Em março de 1978, durante a visita do então presidente norte-americano Jimmy Carter a Brasília, Zerbini conseguiu driblar a segurança e entregar uma carta à primeira-dama, Rosalynn Carter, em nome das mulheres brasileiras do movimento pela anistia. A carta, sem fazer referências diretas ao regime, dizia, na abertura: "Nós, que lutamos por justiça e paz..."

Embora considerada comunista, pelos órgãos de segurança, e como feminista, pela imprensa, Therezinha Zerbini declara nunca ter aderido a nenhuma dessas correntes.

Após a revogação do AI-5 (1978), esteve ao lado de Leonel Brizola no processo de refundação do PTB, em São Paulo, e depois, na criação do PDT, em 1979, quando Brizola perdeu a sigla para Ivete Vargas.

Mais recentemente, em setembro de 2010, pouco antes das eleições presidenciais, Therezinha Zerbini foi a quinta pessoa a assinar o "Manifesto pela Defesa da Democracia", lançado por intelectuais e políticos contrários ao Partido dos Trabalhadores. Na prática, o manifesto deveria reforçar a posição do candidato do PSDB José Serra, que, entretanto, acabou por perder as eleições.

Segundo ela "criar a Comissão da Verdade é bom. Não espero coisas novas, porque já vi tudo por dentro. Mas é preciso dar a oportunidade para os outros sentirem e verem. Como diz Santo Agostinho, o coração é a sede da memória."

Fonte: Wikepédia (adaptado)
Comentários
0 Comentários

0 comentários: