Encontro
reúne bispos da Igreja Católica, lideranças do povo Munduruku, movimentos
sociais e organizações da sociedade civil para protestar contra o licenciamento
do Complexo hidrelétrico do Tapajós
“Imagina
se você é moradora daqui, vive aqui, se consultam o que você acha e você não
pode dizer ‘eu não quero’, e o povo todo não pode dizer ‘nós não queremos’”. É
com essa reflexão que Dom Erwin Kräutler, bispo do Xingu, fala sobre a
construção do Complexo hidrelétrico do Tapajós, o mais novo megaprojeto de
energia do governo para a região amazônica que, seguindo os passos de Belo
Monte, está sendo desenvolvido sem consultar de forma apropriada as populações
tradicionais que serão afetadas pelo empreendimento.
“Querem
repetir o que estão fazendo em Altamira, querem sacrificar o rio Tapajós com
consequências irreversíveis para um povo do tamanho do povo Munduruku, que
defende a cultura que herdou de seus antepassados”, afirma Kräutler. “O governo
é um rolo-compressor”.
Dom
Erwin esteve na Caravana em Defesa do Rio Tapajós, que ocorreu na semana
passada na comunidade de São Luiz do Tapajós, próxima a Itaituba (PA), onde
está prevista a primeira de cinco hidrelétricas programadas para a região. Ao
longo do rio vivem cerca de 12 mil índios da etnia Munduruku, que, ao lado dos
povos ribeirinhos, são contrários ao projeto.
No
dia anterior à Caravana, ativistas do Greenpeace se uniram a cerca de 60
Munduruku para protestar contra o licenciamento do Complexo escrevendo a enorme
mensagem “Tapajós Livre” com pedras na areia de uma praia próxima à comunidade.
“A
natureza que a gente está vendo, mais tarde a gente não vai poder ver. Não
queremos perder o patrimônio que o nosso Deus, Karosakuybu, fez pra gente
cuidar, que é o rio e a floresta”, diz Juarez Saw Munduruku, cacique da aldeia
Sawré Muybu, que corre o risco de ser alagada caso a hidrelétrica seja
construída. Além dessa aldeia, a região que pode ficar debaixo d’água é rica em
biodiversidade e abriga uma das principais porções de floresta intacta do país,
composta por unidades de conservação e terras indígenas.
Mesmo
com todas as demonstrações contra o empreendimento, no início de novembro, em
entrevista à BBC Brasil, o Ministro Chefe da Secretaria Geral da Presidência,
Gilberto Carvalho, afirmou que o governo não abrirá mão das hidrelétricas.
Segundo
Felício Pontes, Procurador da República no Pará, afirmar que as hidrelétricas
serão construídas de qualquer jeito é uma atitude desrespeitosa em relação aos
povos da floresta: “Dizer que isso é fato consumado viola o direito dessas
populações tradicionais e viola o próprio processo de consulta prévia. É também
um desrespeito à própria Justiça, pois a decisão judicial determina a consulta
prévia, e queremos que ela seja feita de forma verdadeira” afirma ele,
defendendo que a consulta seja realizada em todas as aldeias Munduruku, e não
apenas com alguns representantes, respeitando assim a forma de organização
desse povo.
“Mais
do que nunca a foz do Tapajós tem que se unir às cabeceiras do Tapajós onde
está o território Munduruku. Mais do que nunca isso é necessário, pois estamos
num processo crucial de luta e defesa pela Amazônia e, dependendo de quem vença
essa luta, nós vamos saber se existe ou não existe mais Amazônia”, conclui
Pontes.
Veja
o vídeo sobre a Caravana em Defesa do Tapajós: