No gabinete do ministro da Agricultura, Blairo Maggi, a foto oficial da presidente afastada Dilma Rousseff permanece na parede. “Não posso tirar, é a ordem do chefe”, diz o ministro. Parece ser a única lembrança do antigo governo. Nomeado por Michel Temer, tem ideias diferentes da gestão que o antecedeu. Com seu apoio, o governo vai enviar mensagem para o Congresso, propondo liberar a venda de terra para estrangeiros, como forma de ampliar crédito. Blairo defende negociação de Temer com o governo chinês para ampliar exportações e ajudar o País a sair da crise.
Ser chefiado
É a primeira vez que tenho
um chefe. Então, tenho que me cuidar. Minha família sempre foi ligada à
agricultura. Fui estudar e trabalhar nessa área, na empresa com meu pai. E pai
não é chefe, né? Meu pai era duro, a gente brigava muito, tínhamos diferenças
de pensamento. Podia brigar com ele, mas agora não. Agora, tenho um chefe.
Papel no ministério
Quando fui convidado,
disse: presidente, como o senhor quer que conduza esse negócio? Se cada dia
tenho que ligar, se tenho que pedir pra fazer. Ele disse: ‘não, só quero que
você toque esse negócio, que dê tudo certo’. Tipo assim: me dê as boas notícias
e as ruins você resolve por lá.
Ajuda da China
Para que a gente saia da
crise, sugeri ao presidente que procurasse a China, por ser grande parceiro na
área comercial. A gente vende bastante para eles e o segmento do agro responde
rapidamente, se ela nos der certa preferência. Sugeri ao presidente, assim que
resolver o processo político, que a gente viaje para pedir pessoalmente ao
governo da China que veja o Brasil com olhar diferenciado. Certamente,
saberíamos reconhecer, no futuro, esse esforço.
Terras para estrangeiros
Hoje estrangeiro não pode
comprar terra. Isso tem uma consequência no crédito, porque os bancos de fora,
que emprestam no Brasil, não podem receber as terras como garantia. Porque se
tiver que executar a dívida, não pode ficar com a terra. Então, é um problema
que precisamos enfrentar. Defendo que pode vender. E a terra comprada pelos
estrangeiros será sempre brasileira. Ninguém vai poder levar. O governo
pretende mandar mensagem para regulamentar isso também.
Ritmo do impeachment
O melhor cenário seria o
mais rápido. Mas tem todo um trâmite. Se você quiser forçar isso, pode ter que
voltar dez casas para trás. É prudente vencer as etapas no tempo estabelecido.
Retorno de Dilma
Não vejo chance. Mas, esse
“impossível” não existe. São votos e só 81 senadores. Se voltar, será um
desastre para a economia do País. Politicamente também. Porque ela não tem
força, não tem respaldo.
Erros do governo petista
Foi uma sequência de
tomadas de decisões erradas. Economicamente, o País começou a entrar num
problema sério. Fomos para a eleição com um projeto que, depois, foi indo para
outro. Isso frustrou a maioria dos que votaram nela.
Estilo Dilma
Era líder do PR e colocamos
muito claramente para a presidente que deveria assumir a responsabilidade da
política econômica, fazer uma mea culpa do processo, se reorganizar a partir de
uma nova base, com transparência. Ela não quis, nunca quis fazer. O governo
nunca admitiu os problemas. É aquela história: escuta, mas não ouve. Era um governo
muito dono de si.
Eleição de Lula
Acho muito difícil. O PT
está muito machucado e a gente não sabe como vai terminar tudo isso. Não há
como negar a força de Lula. Mas penso que é muito difícil a vitória dele ou de
um candidato da esquerda.
Rixa com Marcos Pereira
Ele é ministro, né? O setor
reagiu a possível indicação de alguém de fora, que não conhece o setor. E que é
o setor mais importante da economia brasileira.(Pereira acabou indo para
Indústria e Comércio).
Fonte: O Estado de São Paulo