Em vídeo, índios que sobreviveram ao ataque no Mato Grosso do Sul contam que fazendeiros usaram fogos de artifício para disfarçar o som dos tiros
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Índios que sobreviveram ao ataque em uma
fazenda no Mato Grosso do Sul afirmam que fazendeiros que tentavam expulsá-los do local
usaram fogos de artifício para mascarar o som dos tiros. Na última terça-feira,
Clodiode Aquileu Rodrigues de Souza, um guarani-kaiowá de 26 anos, foi morto
depois que um grupo de produtores rurais cercou uma fazenda que havia sido
ocupada dois dias antespor indígenas que reivindicam a área. Outros cinco
índios, incluindo uma criança de 12 anos, ficaram feridas com balas de armas
letais, segundo o hopital que os atendeu.
Os depoimentos
estão em um vídeo feito por Ana Mendes e Ruy Sposati, do Conselho Indigenista Missionário
(CIMI), e publicado com exclusividade pelo EL PAÍS. Nele, os
indígenas que haviam entrado dois dias antes na fazenda Yvu, em Caarapó, a 273
km da capital Campo Grande, afirmam que os fazendeiros chegaram ao local
atirando. "Começou às 10h o tiroteio e acabou às 14h", diz um deles.
"Chegaram com o rojão dando para cima e embaixo do rojão já atirando nas
pessoas", confirma outro.
A fazenda Yvu
é alvo de uma disputa territorial. Ela faz parte da área já estudada pela
Fundação Nacional dos Índios (Funai) para compor a Terra Indígena Dourados
Amambaipeguá I, que está em processo de demarcação. Segundo um relatório
publicado pelo órgão federal em 13 de maio, os guarani-kaiowá foram expulsos
dessa área há décadas pelo próprio Governo, para que fossem feitas fazendas. Os
fazendeiros possuem a titularidade da terra e dizem que não saem do local sem
serem indenizados plenamente, o que o Governo Federal afirma que é impedido de
fazer pela Constituição. Os índios, muitas vezes vivendo em situação de
precariedade em reservas superlotadas ou acampamentos improvisados, cansaram de
esperar pela resolução do impasse e passaram a fazer a chamada
"retomada" dessas terras habitadas por seus ancestrais. Entram nas
fazendas, onde montam acampamentos, e acabam sendo expulsos por grupos de
fazendeiros, muitas vezes com truculência.
Foi o que
aconteceu nesta última terça-feira. Os índios afirmam que tiveram motos,
bicicletas e roupas queimados por fazendeiros e enterrados em um buraco, cavado
com a ajuda de um trator. Josiel Benites, de 12 anos, e Jesus de Souza, de
29 anos, foram feridos a bala no abdômen. Vaudilho Garcia, de 26
anos, no tórax. Os três passaram por cirurgia. Lubésio Marques, de 43 anos, recebeu
três tiros: um no ombro, um no tórax e outro no abdômen. E Norivaldo Mendes, de
28 anos, também foi atingido no tórax. "Passava bala por cima denós. Foi terrível. Não sei
como é que eles não acabaram com nós.
Porque armamento eles tinham. Arma pesada eles tinham".
A família dona
da fazenda confirma que
esteve no local com outros produtores rurais, mas disse que houve
uma discussão e nega que alguém estivesse armado com algo além de fogos de
artifício.
Fonte: El Pais
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