O mês de agosto se encerra com o fim da greve em parte considerável do funcionalismo público federal que realizou uma das mais fortes campanhas salarias da história, com greves, paralisações e outras formas de protesto que reuniram entre 350 a 500 mil servidores de distintas áreas.
O prazo de 31 de
agosto, data máxima na qual o Executivo deve enviar ao Congresso Nacional o
Projeto de Lei Orçamentária para o ano de 2013, e a tática do governo de
amarrar as categorias para os próximos três anos ou não receber nada acabaram pesando nas decisões
do funcionalismo de aceitar, em sua maioria, um reajuste escalonado de 5,3% a
cada ano entre 2014 e 2016.
Com reajuste
zero em 2011 e 2012 e a mesma perspectiva para 2013, os principais sindicatos e
centrais sindicais do país afirmam que o aumento ficou aquém das necessidades
dos servidores, mas avaliam como uma vitória o fato da greve ter forçado o governo a estabelecer
mesa de negociações durante as paralisações e ter conseguido acordos, ainda que
aquém do esperado. Esta posição vai da Central Única dos Trabalhadores (CUT),
aliada do governo, a Central Sindical e Popular (CSP) Conlutas, de oposição.
A greve
conseguiu dobrar as ameaças e concretizações do corte de salários, o decreto
que prevê a substituição dos grevistas, a demora na apresentação de propostas e os ataques da mídia. Neste último aspecto e devido a sua força, a greve acabou
se tornando uma pauta importante durante mais de dois meses, numa conjuntura de
olimpíada, julgamento do mensalão e eleições municipais, que tendiam a desviar
mais atenção da sociedade. Os setores mais dinâmicos da greve trouxeram para
cena uma nova geração de “sindicalistas” do serviço público, fenômeno visto,
por exemplo, no Andes, na Fasubra e até na caquética Condsef. No que
pese a fragmentação organizativa e negocial, a unidade nos atos e mobilizações
também deu uma dinâmica muito importante.
É inegável que
Campanha Salarial Unificada foi vitoriosa principalmente no aspecto do
movimento em si, mas termina com clima de vitória para Dilma no aspecto
econômico, que consegue estabelecer por meio de acordos de longo prazo e na
maioria das categorias, cláusulas que asseguram ou pelo menos dificultam novo
movimento grevista até 2016, ultrapassando até o seu mandato. Assim, se não
houver uma crise de hiperinflação ou medidas muito fortes de ataques à
direitos dos servidores, Dilma tenderá a navegar em águas calmas no mar do
funcionalismo.
Em artigo
publicado no jornal Valor, o repórter Ribamar Oliveira mostra que a vitória de
Dilma é bem maior do que aparenta, pois vai assegurar a tendência de queda das
despesas com pessoal ativo e inativo em relação ao Produto Interno Produto e
ainda, os reajustes podem sequer superar as perdas inflacionárias.
“Com o reajuste
de 15,8% em três anos, o governo Dilma está colocando em prática a fórmula
proposta pelo ex-presidente Lula, em fevereiro de 2007, de que o gasto com
pessoal não deveria subir mais do que 2,5% acima da inflação (medida pela
IPCA). Essa norma chegou a ser colocada em um projeto de lei, que o governo
enviou ao Congresso. O projeto foi engavetado em alguma Comissão da Câmara dos
Deputados. A fórmula adotada pelo governo Dilma para os próximos três anos é
mais rigorosa que o projeto de lei de Lula, pois se a inflação for superior a
5,3% ao ano, o gato como s servidores terá uma redução real”, diz o repórter no
artigo “Gastos públicos serão
previsíveis por três anos”.
Portanto, além dos reajustes baixos, a maior vitória de Dilma até aqui é a manutenção da lógica de administração do estado que vem cada vez privilegiando o repasse de recursos públicos para a iniciativa privada.
Outra vertente
da contraofensiva de Dilma Rousseff contra os servidores é o fato de o governo
ter assegurado a votação da regulamentação do direito de greve no serviço
público a ser feita pelo próximo “esforço concentrado” do Congresso Nacional.
Garantido na
Constituição de 1988, mas exercido bem antes disto, o direito à greve aos
trabalhadores do serviço público nunca foi regulamentado, assim como o dever
constitucional da União e demais entes federativos de promover revisão anual
nos salários dos trabalhadores públicos. Mas, o governo federal e setores
aliados e adversários no Congresso Nacional caminham para criar uma legislação
restritiva do direito, proibindo-o em vários setores, tornando inócuo em
outros.
A batalha sobre a regulamentação do direito de greve no serviço público
torna-se assim o verdadeiro termômetro para a tese de greve vitoriosa defendida
pelas principais centrais sindicais, visto que só um forte poder de mobilização
unitário do funcionalismo será capaz de deter a sanha de Dilma em reduzir esta
conquista à letra morta.
Outro termômetro
será a continuidade das greves em setores como professores universitários,
policiais federais e servidores do Incra. Sem acordos assinados, com greves
fortes e realidades e possibilidade de unidade muito distante, estes setores acabaram
desafiando a lógica do governo que tomou conta do movimento de tudo ou nada até
31 de agosto.
Os próximos dias
serão portando decisivos para os trabalhadores do serviço público e a
necessidade de continuidade da luta e organização, com ou sem greve, deve-se manter
em nossa pauta.