Matheus
Leitão e Breno Costa*
A
sindicância que investigou a suspeita de envolvimento de servidores da AGU
(Advocacia-Geral da União) no esquema desnudado pela Operação Porto Seguro
apontou “evidentes indícios” de irregularidades contra o ministro Luís Inácio
Adams.´
Segundo
os investigadores da própria AGU, conforme relatório final da sindicância ao
qual a Folha teve acesso, cinco condutas de Adams foram consideradas
suspeitas e “podem apontar para atuação/omissão irregular” do advogado-geral da
União.
Para
a sindicância, as suspeitas eram “graves” o suficiente para justificar a
abertura de um processo administrativo disciplinar contra Adams –responsável
pela defesa do governo federal em causas judiciais e pelo aconselhamento
jurídico da presidente Dilma Rousseff.
O
grupo de três servidores da AGU chegou a dedicar um capítulo do relatório só
para discutir como deveria se dar a “responsabilização do advogado-geral da
União”.
As
suspeitas, no entanto, acabaram arquivadas 17 dias depois pelo corregedor-geral
da Advocacia da União, Ademar Passos Veiga.
Presidência
Após
a Folha ter revelado esse arquivamento, a AGU enviou cópia do
relatório à Presidência da República.
Cabe
a Dilma decidir pela abertura ou não de nova investigação contra Adams, mas,
para isso, precisaria demiti-lo do cargo. Procurada, a Casa Civil não respondeu
até a conclusão desta edição.
As
cinco condutas consideradas suspeitas de Adams envolvem aprovação de pareceres
e decisões sobre processos em que a AGU tinha participação sem fazer consultas
a setores internos do órgão.
Os
atos de Adams tinham relação direta e indireta com os fatos do inquérito da
Porto Seguro, que descobriu a existência de uma quadrilha que negociava a
produção de pareceres técnicos em benefício de empresas privadas.
Adams,
conforme a sindicância, atropelou o papel da Consultoria-Geral da União, um dos
setores internos da AGU, e aprovou um parecer que permitia supressões de Mata
Atlântica na área do porto de Santos. A consultoria deveria ter sido acionada
antes. O documento foi chancelado pelo ministro no mesmo dia em que foi
produzido.
O
caso, segundo depoimento de Paulo Vieira, apontado como líder da quadrilha pela
PF, era de interesse do ex-senador Gilberto Miranda, denunciado na Porto
Seguro, que buscava um precedente jurídico para a instalação de um complexo
portuário na ilha de Bagres, em Santos.
Outro
ato de Adams sob questionamento foi a assinatura e envio ao Supremo de uma
solicitação de preferência de julgamento para um recurso de interesse de
Miranda –sobre multas aplicadas contra ele pelo governo paulista por danos
ambientais na ilha de Cabras (SP).
A
mensagem de Adams foi enviada quando ainda estava pendente de análise, dentro
da AGU, um ofício do Ibama que apontava irregularidades ambientais na ilha.
Nesse
caso, sempre conforme a sindicância, Adams ainda deixou de pedir subsídios aos
setores técnicos antes de fazer a solicitação ao STF.
Outro lado
O
ministro Luís Inácio Adams, em entrevista à Folha, negou qualquer
irregularidade. Segundo afirmou, a comissão teve “entendimentos equivocados,
errôneos”.
“Houve
equívoco de análise. Agora, a comissão é uma etapa do processo de sindicância.
Emite uma primeira opinião para a decisão do corregedor”. “Eu não posso achar
que a comissão tem todas as suas conclusões acertadas.”
O
ministro defendeu a decisão do corregedor-geral, que, após análise de um grupo
de corregedores sobre as conclusões da comissão, considerou não haver indícios
contra ele.
“Se
fosse uma decisão de abrir PAD [processo disciplinar], tchau. Eu saio do cargo
de ministro. Você tem que ter muita convicção do que você está acusando, e tem
que ser coisa séria”, disse.
A
corregedoria encaminhou à Folha, no início da noite de ontem, quatro
páginas com justificativas técnico-jurídicas para o não acolhimento das
conclusões da sindicância, e reforçando os argumentos dados por Adams à
reportagem.
Sobre
os pontos levantados pela sindicância, o ministro concordou parcialmente com
apenas um. Disse que não tinha conhecimento do ofício do Ibama que relatava
irregularidades ambientais na ilha de Cabras –caso de interesse do ex-senador
Gilberto Miranda.
Sobre
o uso que foi feito de documentos chancelados por ele, Adams disse que não tem
como pressupor que outros cometerão ilegalidades.
*Fonte:
Folha. Matéria publicada originalmente com o título “Sindicância pôs atos de
Adams na AGU sob suspeita”.